Não se deixe enganar: quem hoje ouve falar de Sally Field e pensa nela como apenas uma coadjuvante de luxo em projetos de prestígio, tanto no cinema como na televisão, não poderia estar mais enganado. Afinal, estamos falando de uma das maiores estrelas de Hollywood, na ativa há mais de cinquenta anos! Desde a estreia – não-creditada – na comédia familiar dos Estúdios Disney O Incrível Homem do Espaço (1962), foram mais de sessenta créditos diferentes, que lhe renderam dois Oscars, dois Globos de Ouro, três Emmys, indicações ao Bafta e ao Critics Choice Awards, além de troféus nos festivais de Cannes e de Berlim. De projetos autorais até participações em blockbusters, de filmes consagrados pela crítica até aventuras bem duvidosas, Field já fez de tudo um pouco. E é por isso que nesse dia 6 de novembro, quando completa mais um aniversário, ela merecidamente recebe essa homenagem do Papo de Cinema, com uma seleção dos seus cinco momentos mais marcantes na telona, além de um trabalho que merece ser observado com maior atenção. Confira!
Norma Rae (Field) é uma mãe solteira que mora com seus pais e trabalha na grande e única firma têxtil de sua cidade. A economia do local depende totalmente da mão de obra gerada pela empresa que, sabendo disso, explora seus empregados com salários baixos, longas horas e condições de trabalho risíveis. Eis que surge, vindo de Nova York, o idealista Reuben (Ron Leibman), representando o sindicato dos trabalhadores têxteis. Tentando buscar apoio da categoria, Reuben chama a atenção de Norma, que resolve ajudá-lo na tarefa. Isso, no entanto, causará a fúria de seus chefes e uma onda de inimizades dentro da fábrica. Ainda que a história prenda a atenção e que a luta por novos ideais seja contagiante, o que de melhor este filme oferece é a atuação de Sally Field. A atriz venceu o Oscar por sua performance, criando uma personagem que ousou ir contra todos pelo o que acreditava. Norma é um amálgama da mulher do final da década de 1970. Trabalhadora, apaixonada, filha, mãe, esposa, incompreendida, correndo atrás do que acha certo. Com grande ímpeto, mesmo mal falada na cidade, Norma tenta colocar na cabeça de seus companheiros a importância da sindicalização. Forte e inspiradora. – por Rodrigo de Oliveira
Sally Field nem bem havia se recuperado do choque de ter ganho seu primeiro Oscar quando, cinco anos depois, foi novamente indicada à maior festa de Hollywood. E o que aconteceu? Outra vitória! “Agora eu sei de verdade que vocês gostam de mim”, declarou em seu discurso de agradecimento. Pois foi como Edna Spalding, a viúva que precisa se aliar a um homem negro desgarrado (Danny Glover) e um cego ranzinza (John Malkovich), no Texas dos anos 1930, para salvar a fazendo onde vive com sua família, que ela voltou a chamar a atenção do público e da crítica. O longa de Robert Benton foi indicado a um total de sete categorias no Oscar (inclusive a Melhor Filme) e levou também o troféu de Roteiro Original, além de ter sido premiado no Globo de Ouro (Sally, novamente) e no Festival de Berlim (Direção). A história, vista hoje em dia, pode parecer um tanto ingênua, mas é inegável que sua força está na protagonista, que ao invés de oferecer um ou outro momento mais arrebatador, convence o espectador pelo conjunto, mostrando sua força e entrega em cada detalhe de sua composição. – por Robledo Milani
“A vida é como uma caixa de chocolates. Você nunca sabe o que vai encontrar dentro dela”. A partir desta frase, Sally Field eternizou um memorável e perspicaz conselho cinematográfico e foi mãe de todos nós quando interpretou a encantadora Sra. Gump. Com um papel pequeno em mãos imerso numa narrativa tão grandiosa, Field demonstrou sua versatilidade como a matriarca solteira de um pequeno garoto disfuncional e, passados alguns anos e horas extras de maquiagem, foi a mãe do mesmo personagem, então imortalizado por Tom Hanks, mesmo tendo apenas 10 anos a mais que o ator. Para Field, sua personagem simbolizava uma mulher que amava o filho incondicionalmente, algo explícito ao entregar copiosamente uma série de frases de efeito que parecem advindas de peças publicitárias. A atriz tem poucos, porém inesquecíveis momentos em um filme ainda hoje exaltado e talvez o maior êxito cinematográfico do diretor Robert Zemeckis entre público e crítica. O cativante Forrest Gump representa o idealismo norte-americano inabalável e, ainda que envolto em uma aura negativa do patriotismo exacerbado de muitos estadunidenses, é um dos personagens mais icônicos do cinema recente – feito que deixaria sua mãe orgulhosa. – por Conrado Heoli
Em meio à direção extremamente elegante de Steven Spielberg, o texto afiado de Tony Kushner e a presença absurdamente magnética de Daniel Day-Lewis, incorporando Abraham Lincoln de maneira espantosa, Sally Field ainda consegue se destacar nesse filme. Grande atriz que é, ela compõe Mary Todd Lincoln, esposa do presidente norte-americano, como uma grande matrona, dramática, espalhafatosa e de gestos largos, se contrapondo perfeitamente à contenção da composição de Day-Lewis. Quando os dois se encontram, o resultado é um conjunto de cenas memoráveis, justamente pelo choque entre tipos quase opostos de interpretação. Há um momento específico no belíssimo filme de Spielberg em que esse encontro explode na tela, quando o casal discute a ida do filho (Joseph Gordon-Levitt) à guerra. E, curiosamente, ali Spielberg parece se encantar com a presença de Field até mais do que com a de Day-Lewis, fazendo toda a cena expressar, inclusive em aspectos da natureza que cercam os personagens (como os trovões que iluminam o ambiente), o estado de espírito furioso de Mary Todd. É um grande desempenho da atriz, que costuma, infelizmente, ou passar despercebido, já que ofuscado pelo de seu monumental parceiro de cena, ou ser tido como inadequado, pelo exagero que carrega. – por Wallace Andrioli
Interpretando uma excêntrica e solitária sexagenária, este filme traz Sally Field como a personagem-título, Doris, que trabalha há décadas em uma agência de publicidade. Com a chegada do garotão John (Max Greenfield), recém contratado como diretor de arte da empresa, algo surge entre os dois, pois ele simpatiza imediatamente com ela. A nossa protagonista logo se encontra em uma paixão platônica pelo garanhão que a tirará de sua zona de conforto. E é aos poucos que Field transpõe uma Doris cheia de vida e possibilidades junto à uma química com Greenfield que é fofa e engraçada. Tem-se, resumidamente, uma produção sobre encontrar o seu verdadeiro eu e, principalmente, lidar com a vida de maneira livre e sem amarras. Com isso, o filme de Michael Showalter possibilita a Sally Field esparramar-se pela narrativa e entregar uma das mais memoráveis e versáteis performances de sua carreira. Destaque para a cena em que se joga em um show de Jack Antonoff, do projeto Bleachers, e as cenas dramáticas finais. – por Renato Cabral
+1
Sally Field estava há exatos seis anos afastada da tela grande quando recebeu este convite para voltar à cena como uma das figuras maternas mais icônicas das histórias em quadrinhos: a tia May, guardiã e única parente viva do jovem Peter Parker, ninguém menos do que o herói Homem-Aranha. Mas não que ela tenha passado esse tempo parada. Muito pelo contrário, pois foi durante esse período que voltou para a telinha como a matriarca Nora Walker, protagonista da série Brothers & Sisters (2006-2011), que durou cinco temporadas e lhe rendeu um Emmy, um Screen Actors Guild Award e duas indicações ao Globo de Ouro. Ou seja, ela estava em alta mais uma vez, e a prova disso foi essa participação de prestígio na retomada do Amigão da Vizinhança da Marvel, sucedendo a veterana Rosemary Harris e abrindo caminho para sua atual versão mais modernizada, vivida por Marisa Tomei. Sally pode aparecer pouco neste primeiro filme – sua personagem ganha mais espaço na continuação, lançada dois anos depois – mas é uma presença tão marcante que somente alguém com sua experiência e talento poderia estar à altura do que aqui se esperava. – por Robledo Milani