Não adianta. Quando o rosto inconfundível de Samuel Leroy Jackson aparece em cena, é difícil não esperar por um ar de deboche e tiradas sarcásticas. Mas não é só por isso que o astro é conhecido. De parceiro inseparável de Quentin Tarantino a cabeça da organização secreta da Marvel, Jackson já desfilou por um número incontável de papeis que revelaram seu talento para diversos tipos. Seu timbre de voz também faz com que ele seja sempre chamado para diversas dublagens, não apenas de animações, mas de videogames também. Vencedor de quase 40 prêmios e indicado a mais do que o dobro em uma carreira de mais de quatro décadas, no dia 21 de dezembro o ator comemora mais um aniversário. Oportunidade perfeita para a equipe do Papo de Cinema lembrar de cinco dos seus grandes trabalhos e mais um que merece destaque. Confira!
– por Thomás Boeira
Quentin Tarantino concebeu Pulp Fiction de maneira tão fascinante que o fato de seus personagens, diálogos e estilo terem se tornado icônicos não chega a ser exatamente uma surpresa. Na verdade, o cinema inteiro do diretor parece se construir dessa forma, seja ele querendo ou não. Com relação a este seu segundo longa (e que ainda se mantém como sua maior obra-prima), Samuel L. Jackson surge como Jules Winnfield, que certamente é uma das figuras mais marcantes da trama. Capanga do gângster Marcelus Wallace (Ving Rhames) ao lado de Vincent Vega (John Travolta), Jules é um sujeito bem humorado, mas que não poderia ser mais frio e amedrontador quando precisa pegar em armas e fazer seu trabalho, nuances que Jackson tira de letra em uma atuação magnética. É um grande personagem, que de quebra ainda deu início a bela parceria entre Jackson e Tarantino, que desde então sempre tem algum papel para o ator em seus filmes, desde meras pontas como em Kill Bill: Vol. 2 até participações maiores como em Jackie Brown (1997) e Django Livre (2012).
– por Marcelo Müller
Neste filme baseado no livro homônimo de John Grisham, Samuel L. Jackson vive um pai de família em busca de justiça. Estuprada por dois homens brancos embriagados, a filha dele sofre na pele, além da violência propriamente dita, a barbárie da agressão, a carga de racismo que ainda é muito forte no Sul dos Estados Unidos. Não aguentando a pressão do ambiente tacanho, o personagem de Jackson mata na entrada do tribunal os dois agressores e deixa com ferimentos permanentes o policial que os acompanhava. Todos os que o ajudam, inclusive seu advogado e uma estudante de direito, interpretados respectivamente por Matthew McConaughey e Sandra Bullock, experimentam a opressão de um entorno onde o racismo é quase institucionalizado. Samuel L. Jackson dá vida a esse homem que, primeiro com o infortúnio da filha, e segundo com a própria causa a ser julgada, toma contato direto com o histórico preconceito contra os negros. É um trabalho minucioso que alterna momentos de angústia e fúria, de puro sofrimento pela tragédia que abateu a menina e de desespero diante da possibilidade (muito grande) dos culpados escaparem impunes. As principais discussões morais e éticas do filme ocorrem em virtude das ações do personagem de Jackson.
– por Rodrigo de Oliveira
“Who’s the black private dick that’s a sex machine to all the chicks?” Se você pensou em Shaft, você está certíssimo. Personagem interpretado originalmente por Richard Roundtree em 1971 no filme homônimo, época em que o blaxploitation galgava importantes degraus na indústria cinematográfica, o personagem foi retrabalhado neste eficiente longa-metragem lançado em 2000. Em vez de um remake, Shaft é uma espécie de continuação, com Samuel L. Jackson vivendo o sobrinho do detetive original. Quem melhor do que o ator para assumir o jeitão badass daquele personagem? Na trama, Shaft caça o mimado ricaço Walter Wade Jr. (Christian Bale), depois de ele ter cometido um tenebroso crime racial. Em vez de pegar cana, Wade foge do país e a única testemunha do crime some. Isso não impede Shaft de continuar suas investigações, o que o colocará em rota de colisão com o famigerado Peoples Hernandez (Jeffrey Wright), que foi contratado pelo réu a dar fim à testemunha (Toni Collette). O longa-metragem é bastante reverente ao filme original, ainda que passe um verniz de novidade que ajuda para as plateias mais jovens. Samuel L. Jackson é uma escolha certeira para interpretar o personagem, dando muita atitude ao clássico detetive. Tanto é que voltou ao mesmo papel no mais recente Shaft (2019), mais uma refilmagem que soa também como sequência dessa trama.
– por Leonardo Ribeiro
Cinco anos após Duro de Matar 3: A Vingança (1995), Bruce Willis e Samuel L. Jackson se reencontraram neste longa de M. Night Shyamalan. A história acompanha David Dunn (Willis), segurança de um estádio na Filadélfia que passa por um momento conturbado na relação com a esposa, Audrey (Robin Wright) e com o filho, Joseph (Spencer Treat Clark). Ao sair ileso de um trágico acidente de trem que matou 131 pessoas, David começa a relembrar fatos peculiares de sua vida, como nunca ter ficado doente. A notícia chama a atenção de Elijah Price (Jackson), um excêntrico colecionador de histórias em quadrinhos que possui uma improvável teoria sobre a condição de David. Mesclando suspense e drama familiar, Shyamalan conduz com maestria sua versão particular de uma história de origem de super-heróis. Se Willis carrega com competência o papel do herói trágico, cabe a Samuel L. Jackson ser seu antagonista. Em uma atuação mais contida do que de costume e ajudado por uma caracterização marcante – o penteado, a bengala –, Jackson transmite a Elijah a medida exata de fragilidade – já que o personagem sofre de uma rara doença nos ossos – e obstinação, sempre mantendo no ar a aura de mistério que cerca sua figura. Uma aposta que deu tão certo que essa figura enigmática acabou ganhando um filme inteiro para chamar de seu: Vidro (2019)!
– por Robledo Milani
De toda essa seleção, este certamente é o menos conhecido dos títulos reunidos. Pra se ter uma ideia, em muitos países nem chegou a ser exibido nos cinemas, tendo sido lançado diretamente em DVD. Mas, então, o que justifica sua presença entre os nossos cinco trabalhos essenciais de Samuel L. Jackson? A resposta está em cena. Esta produção dirigida pelo australiano Gregor Jordan é um tenso e incômodo thriller psicológico sobre os limites legais em nome de um bem maior – no caso, até que ponto a prevenção de uma ameaça terrorista não torna aquele que se preocupa e se prepara tão selvagem quanto aquele que pratica – ou planeja– o ataque. Michael Sheen está excelente como o suspeito aprisionado, ao mesmo tempo em que Carrie-Anne Moss, como a investigadora do FBI, tem seu melhor desempenho desde a trilogia Matrix. Mas é em Jackson que o olhar do espectador recai, como a força moral que aos poucos vai se desintegrando, quando a violência justifica a violência, ou ao menos evita-se para que assim seja. Uma história muito bem executada e um dos melhores trabalhos do astro, cuja mensagem ressoa junto à audiência ainda por muito tempo após a sua traumática conclusão.
– por Yuri Correa
Desde que Nick Fury surgiu pela primeira vez nas telonas em uma cena pós créditos de Homem de Ferro (2008), estavam anunciados Os Vingadores. O que deixou os fãs dos personagens da Marvel em polvorosa, catando referências e indícios do próximo e do próximo filme, sendo um dos maiores deles, as participações cada vez maiores do personagem caolho de Samuel L. Jackson nas aventuras solo dos heróis. Uma vez reunidos, era de se esperar que Fury tivesse enfim um papel mais ativo na ação, o que é exatamente o que acontece no primeiro filme a convocar a já mítica assembleia de super seres e justiceiros habilidosos, quando Nick abandona a verborragia e parte pra cima do inimigo de bazuca e tudo. Participação maior do personagem só ocorreria em Capitão América 2: O Soldado Invernal (2013) ou em outros títulos futuros da franquia, como Capitã Marvel (2019) – no qual conhecemos o passado dele – e Homem-Aranha: Longe de Casa (2019), pois nem mesmo em Vingadores: Era de Ultron, o antigo diretor da S.H.I.E.L.D. tem tanto destaque. Como um dos símbolos que ajudaram a unificar esse monte de longas metragens, o personagem de Jackson se tornou não só essencial à saga, como também um dos mais adorados pelos fãs.