Conhecido por ser um dos melhores atores da atualidade, Sean Penn tem um currículo invejável: dos 40 anos de carreira como ator, 58 filmes que atuou e oito que dirigiu, já abocanhou 84 prêmios (dois Oscar, inclusive), além de 73 outras indicações. Além do talento e da versatilidade com as câmeras, o intérprete é conhecido por estar no showbizz de várias maneiras. Tem um gênio estourado, já agrediu paparazzis, até teria batido em sua ex-mulher (uma famosa rainha do pop…), mas conseguiu reverter boa parte deste comportamento com sua ajuda em diversas causas humanitárias. No dia 17 de agosto, o ator comemora mais um aniversário. Oportunidade perfeita para a equipe do Papo de Cinema parabenizar o intérprete com a escolha de seus cinco melhores papeis e mais um que foi subestimado. Confira!
O esperado reencontro de Al Pacino e Brian De Palma ocorreu 10 anos após Scarface (1983). Desta vez o ator troca um gângster cubano por um porto-riquenho, Carlito Brigante, que acaba de sair da prisão e tenta se reerguer de forma lícita. Carlito parece conseguir colocar seu plano em prática, arrumando emprego como gerente de uma boate e reatando o relacionamento com a dançarina Gail (Penelope Ann Miller). Mas aos poucos seu passado o recoloca em uma espiral de criminalidade, que ameaça sua nova vida pacífica. De Palma conduz o filme com a maestria e o apuro técnico de suas grandes obras-primas, criando sequências memoráveis como seu prólogo e epílogo, a perseguição no metrô e a cena da sinuca. Pacino também entrega mais uma excelente atuação, levando a Carlito uma aura mais sóbria e menos expansiva do que a de Tony Montana. Este lado mais intenso fica a cargo de Sean Penn, como o advogado judeu David Kleinfeld, que ajuda Carlito a sair da cadeia, mas o envolve novamente com o crime. Ajudado por uma caracterização, que inclui uma peruca crespa e ruiva, Penn constrói uma figura imoral, violenta e à beira da insanidade, roubando as cenas em que aparece. – por Leonardo Ribeiro
Segundo longa dirigido por Tim Robbins, Os Últimos Passos de um Homem confirmou o talento do ator por trás das câmeras e ainda trouxe atuações brilhantes de Sean Penn e Susan Sarandon. Baseado no livro da freira Helen Prejean, o filme narra a relação que ela (interpretada por Sarandon) constrói com Matthew Poncelet (Penn), homem que está no corredor da morte, vivendo os últimos dias antes de sua execução. Tendo a forte ligação entre os dois personagens como base, Robbins faz um filme incrivelmente humano e expõe de maneira muito sensata a barbárie por trás da pena de morte, que no fim das contas é um ato tão injustificável quanto aqueles realizados pelos presos que são executados (“Matar é errado, não importa quem faça“, é dito em determinado momento). Vivendo um homem ignorante e que inicialmente não consegue assumir seus erros, Sean Penn é hábil na forma como, aos poucos, desmantela a carcaça envolta do coração de Poncelet, mostrando o peso de seus atos enquanto encara a ideia de que não há como apagar a dor que causou. Nisso, Penn ainda ganha o auxílio de Sarandon, que faz de Helen Prejean uma figura forte em sua humanidade. Ambos protagonizam algumas das cenas mais tocantes de suas carreiras, contribuindo para o impacto desta obra-prima. – por Thomás Boeira
Sob a batuta de Woody Allen, Sean Penn vive Emmet Ray, um excelente guitarrista de jazz, só não o melhor de sua geração por conta da concorrência com o superior Django Reinhardt (Michael Sprague). Ex-cafetão, dado a um passatempo no mínimo estranho (atirar em ratos que vivem num depósito de lixo), ele possui talento nato, tanto para a música quanto para meter-se em roubadas. Ray gosta de roupas e carros chamativos, é uma figura que dificilmente passaria despercebida na multidão. Sua irascibilidade dá uma trégua quando ele conhece Hattie (Samantha Morton), admiradora de sua música, por quem se apaixona prontamente. Contudo, ele não foi feito para uma vida de regras, para as rotinas do casamento, a começar pela dificuldade de manter-se fiel. Woody Allen cria um personagem muito rico, afinal de contas, em Ray convivem o sublime e o ordinário, facetas que se alternam constantemente. Sean Penn encarna o homem bronco de poucos modos que demonstra uma sensibilidade inesperada quando dedilha seu violão com a precisão dos mestres. O ator aprendeu mesmo a tocar, dispensando o dublê de mãos, o que dá uma ideia do nível de sua entrega nesse trabalho notável. – Marcelo Müller
Um dos melhores trabalhos de Clint Eastwood na direção é também o palco de uma das performances mais memoráveis do nosso homenageado. Neste filme, o cruel assassinato da filha de Jimmy Markum (Sean Penn) o coloca em contato outra vez com dois velhos amigos, Dave (Tim Robbins) e o detetive Sean (Kevin Bacon). Revivendo memórias sombrias de seu passado, os três mergulham no mistério que cerca a morte da garota enquanto passam a se desenvolver tensões entre eles. Baseado em um livro de Dennis Lehane – sempre um autor eficiente de personagens conturbados e falhos – o filme presenteia ao menos Robbins e Penn com figuras complexas e profundamente feridas, estabelecendo um contraponto elegante entre o trauma no passado de Dave com aquele recentemente sofrido por Jimmy. Não por acaso, ambos ganharam o Oscar, um como Melhor Ator Coadjuvante, o outro como Melhor Ator. Articulado como intérprete, Penn é em todo filme que participa sempre eficiente em se distanciar de qualquer outro personagem que já tenha vivido. E seu olhar quase débil ao fim do longa é não só típico do destino moral de uma criação de Lehane, mas também muito revelador sobre os inúmeros sentimentos de Jimmy. – por Yuri Correa
Harvey Milk foi nada menos do que o primeiro homossexual assumido a ser eleito a um cargo político nos Estados Unidos. Sua intenção era simples: mudar o mundo da porta de sua casa. E o que fez foi realmente impressionante. O longa não é só bem-sucedido em mostrar a verdadeira face deste homem singular como também é um impressionante relato político. A trajetória desta personalidade é observada com muito equilíbrio entre o distanciamento que os fatos exigem e a aproximação que as emoções pedem. No meio disto tudo, Sean Penn é protagonista de uma verdadeira transformação. Ele não interpreta Harvey Milk, simplesmente. Ele o vive com toda a vontade e força que um papel como este pode exigir. E o faz com tanta propriedade e direito que é quase impossível reconhecê-lo. Não à toa levou seu segundo Oscar por este trabalho. Comovente, perturbador, necessário, honesto. São poucas as palavras que fazem jus a uma obra como Milk: A Voz da Igualdade. Militante sem ser irresponsável, justo sem ser enfadonho, abrangente sem ser irrelevante, este é um filme cujos efeitos merecem ser observados com cuidado. – por Robledo Milani
+1
A sinopse desta primeira produção em língua inglesa do cineasta italiano Paolo Sorrentino não deixa dúvidas de que ela seria, no mínimo, estranha: rockstar veterano volta aos Estados Unidos para procurar um nazista e vingar seu pai. Ainda que seja realmente excêntrico em certos momentos, este filme estrelado por Sean Penn não é tão nonsense como podíamos pressupor. É um belo misto de drama e comédia, que coloca seu protagonista em busca de um passado que ele nunca conheceu, de alguma forma procurando seu verdadeiro eu. Sean Penn faz um trabalho esplêndido como o astro do passado Cheyenne. A maquiagem, claro, ajuda bastante. Mas a expressão corporal do ator e sua forma preguiçosa de falar, mal mexendo os lábios, é que transmitem tudo o que precisamos saber sobre aquele rockstar. Traumatizado pelo poder que sua música teve, Cheyenne nunca mais foi o mesmo. Abandonou a carreira e vive uma existência um tanto tediosa ao lado da esposa, uma parceira para todas as horas. Penn dá vida aquele músico como uma criança que não cresceu. A síndrome de Peter Pan é um dos problemas de Cheyenne, que ao descobrir algo sobre seu velho pai encontra algum sentido para sua vida. – por Rodrigo de Oliveira