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Hattie McDaniel, Cuba Gooding Jr, Halle Berry, Jamie Foxx, Mo’Nique, Louis Gossett Jr, Jennifer HudsonForest Whitaker, Lupita Nyong’o… a grande maioria dos atores ou atrizes negros vencedores do Oscar até hoje ganharam em suas primeiras – e, em muitos casos, únicas – indicações. Quase como se tivessem tomado os votantes da Academia de susto, em atuações tão arrebatadoras que não havia como ignorá-los. As raras exceções são Denzel Washington, Morgan Freeman e Whoopi Goldberg. E, é importante ressaltar, aquele que foi o pioneiro, o responsável por, enfim, darem a devida atenção aos astros afro-americanos: Sidney Poitier. Se McDaniel foi a primeira intérprete a ser reconhecida com a cobiçada estatueta dourada, lá em idos de 1939, seu prêmio foi de coadjuvante e por um filme adorado por milhares – estamos falando de E O Vento Levou! Até chegar a vez de Poitier se passou mais duas décadas, e ele enfim ganhou na categoria principal, abrindo um precedente que somente seria igualado por Washington muitos anos depois. E o melhor: ainda que tenha sido premiado em disputa apenas uma vez, ganhou também um troféu honorário quando já tinha mais de 70 anos, merecimento à altura de uma carreira diversa e intensa, na qual atuou ao lado de grandes estrelas assim como ele, defendendo os mais diversos tipos de personagens. Em sua homenagem, na semana de seu aniversário, selecionamos aqui alguns dos seus mais marcantes trabalhos, além de apontar mais um que, mesmo ao lado de verdadeiras feras, atesta sua imensa popularidade. Confira!

 

um-homem-tem-tres-metros-de-altura-papo-de-cinemaUm Homem Tem Três Metros de Altura (Edge of the City, 1957)
Roteirista, ator e diretor, Martin Ritt passou por um período conturbado no começo dos anos de 1950 quando foi incluso na lista negra de Hollywood, acusado de comunismo. Seu primeiro filme após a poeira baixar, em 1957, era um amálgama de tudo o que havia sofrido durante aquele tempo. Nesta produção de título curioso, Ritt apontou sua câmera para o autoritarismo, para a chantagem, para o preconceito racial e para a injustiça. Na trama, dois amigos estivadores, Axel (John Cassavetes) e Tommy (Sidney Poitier), se envolvem em um enrosco com um colega perigoso de profissão. O primeiro tem um grande segredo dentro do armário, enquanto que o segundo fará de tudo para ajudar o amigo. Este foi um dos papéis de destaque de Poitier em início de carreira, lhe dando uma merecida indicação ao BAFTA na categoria Melhor Ator Estrangeiro. Tommy é um sujeito assombrado pelo preconceito racial. De poucos amigos, se afeiçoa rapidamente a Axel, prestando ajuda valiosa ao rapaz. De acordo com Tommy, seu amigo deveria levantar a cabeça e enfrentar seus problemas. Desta forma, chegaria aos três metros de altura. O filme é curto, mas potente, apresentando uma atuação inesquecível de Sidney Poitier, roubando-o do protagonista, Cassavetes. – por Rodrigo de Oliveira

 

acorrentados-papo-de-cinemaAcorrentados (The Defiant Ones, 1958)
O lançamento deste longa do diretor Stanley Kramer marcou uma grande virada na carreira do ator Sidney Poitier. Além de se firmar como uma das principais vozes na luta contra o preconceito racial, Poitier também se tornou o grande astro negro de Hollywood, recebendo pela primeira vez os créditos como protagonista, ao lado de Tony Curtis. Na trama do filme, Poitier e Curtis interpretam os prisioneiros Noah Cullen e John “Joker” Jackson, que conseguem fugir após um acidente com o veículo que os transportava. Acorrentados, os fugitivos deverão superar suas diferenças para, juntos, despistarem os policiais que os perseguem. Kramer, que depois voltaria a trabalhar com Poitier em outro clássico sobre diferenças raciais, Adivinhe Quem Vem Para o Jantar, conduz um suspense envolvente que coloca o negro e o branco em situação de igualdade, tendo que aprender a conviver para sobreviver. Como Cullen, Poitier cria um de seus personagens mais marcantes e poderosos, que possui um lado violento e uma raiva adormecida, mas que aos poucos se transforma paralelamente à relação com o personagem de Curtis, com quem passa a desenvolver uma amizade sincera e inesperada. Uma grande atuação, que valeu a Poitier sua primeira indicação ao Oscar. – por Leonardo Ribeiro

 

uma-voz-nas-sombras-papo-de-cinemaUma Voz nas Sombras (Lilies of the Field, 1963)
Sidney Poitier já era um astro consagrado quando foi convidado pelo diretor Ralph Nelson a interpretar Homer Smith, um viajante sem eira nem beira que decide parar à beira da estrada para pedir água. Só que a porta que ele bate é a de um convento de freiras, e a madre superiora vê na sua chegada não uma casualidade, e sim a resposta para as suas preces. Com bastante habilidade ela e suas colegas de clausura consegue ludibriá-lo, dia após dia, não apenas para que permaneça com elas, mas também as ajude em seu grande sonho: a construção de uma igreja. O Poitier que vemos neste filme é um astro domesticado, sem grandes afetações, em que a questão racial – tão importante em outros trabalhos de sua carreira – é abordada de maneira muito superficial, quase que de forma irrelevante. Ou seja, ao deixar bandeiras de lado e investir apenas no próprio talento, ele não só convenceu seus colegas da Academia – que lhe conferiram o até então inédito Oscar de Melhor Ator a um astro negro, batendo uma concorrência forte que continha nomes como Paul Newman e Albert Finney – mas também o público, fazendo deste um dos seus maiores sucessos de bilheteria. – por Robledo Milani

 

quando-so-o-coracao-ve-papo-de-cinemaQuando Só o Coração Vê (A Patch of Blue, 1965)
Lançado em 1965, este longa-metragem dirigido por Guy Green mostra a relação entre um homem negro e uma menina cega. Hoje, tal descrição pode parecer no máximo curiosa, mas na década da estreia do filme, a mesma em que efervesciam as discussões por igualdade nos Estados Unidos, tempo de Martin Luther King e dos Panteras Negras, ela era, por si só, sintoma de que a sociedade queria mudanças. Sidney Poitier vive Gordon Ralfe, o homem mais experiente, embora jovem, que passa a se encontrar todos os dias com Selina D’Arcey (Elizabeth Hartman), a garota que não consegue enxergar em virtude de um acidente, com quem desenvolve amizade de crescente intimidade. A mãe dela, Rose-Ann (Shelley Winters), fica preocupada, sobretudo por acreditar que os homens se aproximam da filha apenas por seus atributos físicos. O amor surgido, bem como a posterior fúria da mãe – que não aceita um genro negro – deflagram a discussão sobre racismo. Selina se apaixona pelo companheiro de todos os dias, que a trata com muita bondade, sem saber que ele é negro, ou seja, levando em conta somente sua essência. Poitier constrói um personagem cativante, assim como muitos que caracterizam sua carreira, responsável, entre outras coisas, por ajudar a quebrar barreiras. – por Marcelo Müller

 

no-calor-da-noite-papo-de-cinemaNo Calor da Noite (In the Heat of the Night, 1967)
Vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1968, o longa de Norman Jewison trata de um dos temas mais importantes (e até então renegados por Hollywood) da história norte-americana: o racismo impregnado não apenas no sul do país, mas como em todas as suas regiões. A história se passa no interior do Mississippi, reconhecido por ser um dos maiores focos de preconceito dos EUA, onde Virgil Tibbs (Sidney Poitier) é preso pelo assassinato de um rico empresário. Não há provas. Apenas o olhar raivoso sobre sua cor de pele. Pois o constrangimento é sem palavras quando ele se revela um detetive especialista em homicídios. Mesmo relutante, o chefe da polícia vivido Rod Steiger aceita a ajuda de Tibbs para resolver o caso, aprendendo a respeitar o detetive. Steiger levou o Oscar de Melhor Ator por conta de sua interpretação, mas o show é de Poitier. Mesmo que o personagem pareça ser submisso muitas vezes (muito provavelmente pelo próprio racismo enraizado), ele sabe a hora certa de dar suas respostas ou mesmo um soco em alguém. Um grande trabalho do ator, que ainda participou no mesmo ano de Adivinhe Quem Vem Para Jantar, outro filme importante sobre o tema, mas sob outro viés. – por Matheus Bonez

 

+1

 

adivinhe-quem-vem-para-jantar-papo-de-cinemaAdivinhe Quem Vem Para Jantar (Guess Who’s Coming to Dinner, 1967)
Dirigido por Stanley Kramer, que já trabalhara com Sidney Poitier antes em Acorrentados, o filme introduz o casal Joey Drayton (Katherine Houghton) e o Doutor John Prentice (Poitier), que pousam em São Francisco para anunciar aos pais da garota o seu noivado. Nada fora do normal, com exceção de um detalhe: John é negro e Joey é branca. Pessoas bem esclarecidas, o senhor e a senhora Drayton ainda assim encaram com choque a união dos dois, e na sequência debatem os prós e os contras de darem a sua benção ao casório. Serão eles felizes em um mundo que vai condenar o seu amor? Como pais, deveriam os Drayton aprovarem algo que vai trazer tanta infelicidade quanto felicidade à filha? Parece estupidez apontar isso agora, mas o fato é que o racismo ainda é uma questão latente, assim como outros “problemas” que o conservadorismo insiste em colocar entre a união de diversos tipos de casais, portanto, é incrível, e triste, que o longa que já data de quase 50 anos atrás, continue tão atual. Poitier, como figura central dessa discussão, preenche de alma e sabedoria um personagem que, na vida real, provavelmente seria relegado a uma posição passiva no debate. – por Thomas Boeira

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