Quem vê a beleza de Sophia Loren, dos seus primeiros filmes até hoje, é capaz de duvidar da alcunha de “criança mais feia já vista”, lhe conferida por sua própria mãe. Nascida Sofia Villani Scicolone, a atriz viveu uma infância muito difícil em meio à miséria italiana ampliada ainda mais pela Segunda Guerra Mundial. A sorte começaria a mudar aos 15 anos, quando sua beleza desabrochou, os olhares começaram a se voltar para ela nas ruas e, ainda mais, quando a garota venceu um concurso com 200 candidatas. Com o prêmio, ela e a mãe foram para Roma, onde seu sonho de ser atriz começou a tomar forma.
Desde então foram 94 filmes realizados, 60 prêmios conquistados e outras 26 indicações, além de ter sido eleita por vários anos como uma das mulheres mais bonitas do mundo. Currículo invejável para muitas. Sua vida cheia de atribulações rendeu uma autobiografia lançada no passado e um papel especial no curta-metragem La voce umana (2014). Ainda em atividade, mesmo com intervalos cada vez maiores entre as produções, Sophia Loren é uma lenda do cinema e comemora mais um aniversário no dia 20 de setembro. Para celebrar, é claro que a equipe do Papo de Cinema escolhe cinco de seus melhores trabalhos e mais um que, apesar de não dever em nada aos outros, pode ter ficado esquecido com o tempo. Confira!
Sophia Loren já havia estrelado alguns filmes em Hollywood, mas foi com este papel que seu nome foi alçado à condição de protagonista no cinema norte-americano. Interpretando Rose Bianco, sua beleza e energia tomam conta da tela, esbanjando um talento dramático diferente de boa parte das divas da época. Sem exageros ou afetações (que tomavam conta do cinema de então), La Loren personifica com força a viúva mal falada pela cidade que se envolve com outro homem de família, Frank Valente (Anthony Quinn). Por conta de histórias que envolveriam a mulher com a máfia, a filha do também viúvo acaba criando uma implicância com a suposta nova madrasta, o que gera conflitos interessantes no roteiro de Joseph Stefano (que dois anos depois assinaria o texto de Psicose, 1960). Por conta de sua intensidade, a atriz foi laureada com o prêmio de interpretação no Festival de Veneza daquele ano. Um reconhecimento que só elevaria ainda o seu nome no panteão dos grandes do cinema mundial. – por Matheus Bonez
Duas Mulheres (La Ciociara, 1960)
Durante a Segunda Guerra Mundial, a bela Cesira (Sophia Loren), viúva e dona de uma mercearia, decide fugir dos bombardeios em Roma levando sua filha, Rosetta, para Ciociaria, região onde nasceu. Lá enfrentará as dificuldades do conflito ao lado de outros refugiados. Grande nome do neorealismo italiano, o diretor Vittorio De Sica sempre flertou com um cinema mais comercial, e aqui essa mistura de estilos funciona perfeitamente. O filme mantém seus discursos sociais e políticos, especialmente na figura do jovem de tendências comunistas interpretado por Jean-Paul Belmondo, mas de um modo bastante acessível. Para obter este resultado, o cineasta tem em Sophia Loren seu maior trunfo. Mesmo jovem para o papel, Loren convence como a mulher que faria tudo para defender sua filha e entrega uma atuação bem equilibrada entre o humor inicial e a pesada carga dramática do ato final, quando a jornada de volta à capital se torna um conto de perda da inocência. Um trabalho que lhe rendeu premiação em Cannes, além de torná-la a primeira pessoa a ganhar um Oscar de atuação por um filme de língua estrangeira. Curiosidade: a atriz voltaria ao personagem em uma versão para a TV dirigida por Dino Risi, em 1989. – por Leonardo Ribeiro
O filme que dá título à autobiografia da atriz (lançada em 2014) não poderia ser mais sugestivo. Se a versatilidade já era marca registrada da bela intérprete, aqui ela a comprova mais do que nunca ao interpretar três diferentes mulheres. Este é um dos onze títulos que a diva estrelou ao lado de Marcello Mastroianni, um de seus melhores amigos, e ele também repete o papel triplo. Em cada uma das histórias, a química entre os dois é explosiva. E Loren está divina tanto como Adelina, que precisa sempre estar grávida para não cumprir pena por seus furtos, Anna, a ricaça sedutora, e Mara, a prostituta que não se sabe se larga o trabalho para viver ao lado do cliente apaixonado. A atriz sabe diferenciar o tom de cada uma de suas personagens, nunca parecendo ser a mesma pessoa, sina à qual alguém com menos talento estaria fadada. O inteligente e divertido longa teve ainda mais reconhecimento após ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. – por Matheus Bonez
Matrimônio à Italiana (Matrimonio All’italiana, 1964)
Em cena, dois atores-símbolo do cinema italiano: Sophia Loren e Marcello Mastroianni. Na regia, o consagrado Vittorio De Sica. Baseado na peça de Eduardo De Filippo, cujo título é o nome da protagonista feminina, Filumena Marturano, este filme é sobre um casal de relacionamento duradouro, vínculo iniciado em meio a Segunda Guerra Mundial. Mastroianni interpreta um empresário bem-sucedido que cai de amores pela prostituta voluptuosa, de olhar e decotes provocantes, que conheceu durante um ataque aéreo. Do simples encontro mediado pelo desejo, eles passam a ser amantes por mais de duas décadas, antes que alguns segredos venham à tona e ela externe a vontade de ser assumida como esposa. Os personagens são carregados dos estereótipos atribuídos (não sem razão, muitas vezes) aos nativos do Sul da Itália, ou seja, se mostram passionais, gesticulam bastante, falam alto, não primando pela sutileza. Sophia Loren, no auge da beleza, domina as variações entre comédia, drama e romance, passando da menina que vende o corpo para ganhar a vida à mulher decidida a, se necessário, mentir deslavadamente para alcançar o objetivo de sair do anonimato e casar-se com o homem amado. – por Marcelo Müller
Um Dia Muito Especial (Una Giornata Particolare, 1977)
Você pode apontar para a genialidade do diretor e roteirista Ettore Scola em traçar um painel sobre o fascismo na Itália momentos antes da Segunda Guerra Mundial, tendo como foco dois estranhos abandonados em um imenso condomínio popular do subúrbio. Ou se concentrar na atuação magistral de Marcello Mastroianni – indicado ao Oscar, assim como o próprio filme, que concorreu também na categoria de Melhor Longa Estrangeiro – que compõe com delicadeza, respeito e segurança o perfil de uma minoria muito afetada, porém por tantas vezes esquecida – os homossexuais. Mas isso de nada adiantaria se não fosse a presença calorosa e universal de Sophia Loren, que ao aparecer como uma mãe de família alheia ao precipício ao qual se aproximavam, cria com extrema competência uma ponte de identificação com o grande público, possibilitando que esta singela história transcendesse o ideário da ficção e se tornasse a cada dia que passa mais atual e necessária. Loren e Mastroianni têm aqui um encontro inesquecível, que vai além do mero interesse sexual para se ligarem um ao outro pelo que de mais caro possuem: sua humanidade. E se ele surpreende, é ela que consegue ir além mesmo revisitando uma figura icônica da sociedade italiana – por Robledo Milani
+1
Os Girassóis da Rússia (I girasoli, 1970)
Filme que apresentou mais uma dentre as várias parcerias entre Sophia Loren e Marcelo Mastroianni, conta uma história de amor que mostra a guerra impactando a vida de seus personagens principais. Aqui, nossa homenageada interpreta Giovanna, que sai da Itália e vai até a Rússia no final da Segunda Guerra Mundial na esperança de encontrar seu marido, Antonio (Mastroianni). Este foi dado como desaparecido, com Giovanna se recusando a pensar que o pior pode ter acontecido, sem imaginar que as respostas que encontrará serão surpreendentes e decepcionantes, de qualquer forma. Dirigido pelo grande Vittorio De Sica, o filme desenvolve o casal protagonista maravilhosamente, desde a felicidade de seus primeiros momentos juntos, quando se casam para adiar a ida de Antonio a guerra, até a tristeza que os atinge mais tarde, ao se verem obrigados a seguir caminhos diferentes. Esse arco dramático dos personagens ganha peso não só pela direção de De Sica, mas também pelas belíssimas atuações de Mastroianni e Loren, eles que trazem grande sensibilidade a seus personagens, e é por nos importarmos com eles que a cena final é tão eficaz em toda sua melancolia. – por Thomas Boeira
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