Com um total de 350 milhões de cópias de seus livros vendidas em todo o mundo, Stephen King poderia ter escolhido se aventurar apenas pelo mundo literário. Porém, com a ajuda de fãs de suas obras e uma paixão pela sétima arte, o autor já atuou em várias frentes do cinema: de intérprete a produtor, de roteirista a diretor (de apenas um filme, Comboio do Terror, de 1986). Nono autor mais traduzido do mundo, King é mais conhecido pelo terror, pelo fantástico, mas nem por isso deixa a sensibilidade de lado ao contar dramas, como é o caso de Conta Comigo (1986) e Um Sonho de Liberdade (1994).
Autor de 50 livros, o norte-americano é uma das figuras mais requisitadas no meio literário e cinematográfico. No dia 21 de setembro de 2013, Stephen Edwin King completa 66 anos. E, para comemorar, é claro, a equipe do Papo de Cinema resolveu escolher os cinco melhores filmes – e mais aquele que merece uma menção honrosa – baseados em suas obras. Não estranhe se algum título memorável faltar por aqui. Seria preciso mais que um Top 10, inclusive, para incluirmos tantos bons filmes.
Por Renato Cabral
A adolescência é um tema recorrente nas obras de Stephen King. Em Christine: O Carro Assassino (1983), King explora a obsessão dos jovens com os automóveis e em Carrie, primeiro livro do autor adaptado para o cinema, é a vez do desabrochar da descoberta da feminilidade da personagem-título. Muitos dos personagens da obra foram encontrados por King enquanto lecionava aulas de inglês e trabalhava em uma lavanderia. Todas essas figuras renderam seu primeiro livro de ficção e um esmagador sucesso que acabou então, adaptado para as telas por um Brian De Palma que procurava o trabalho certo para se tornar um dos grandes autores do cinema americano. A história da jovem telepática que sofre bullying e se vinga de todos os que lhe trataram mal é um marco. Se nas escolas americanas é um texto praticamente proibido, nos cinemas se tornou uma obra constantemente revisitada e referenciada. Um verdadeiro clássico cult que nenhuma refilmagem, como a recente protagonizada por Chloë Grace Moretz, será capaz de superar.
Por Robledo Milani
Logo após Carrie: A Estranha (1976), o romance seguinte de Stephen King a ser adaptado para o cinema foi O Iluminado. No comando estava um Stanley Kubrick vencedor do Oscar, premiado no BAFTA, no National Board of Review e nos festivais de Locarno e Veneza, dentre outros. Tamanha relevância não o impediu de criar o “seu” filme, desvirtuando o suficiente da base original a ponto de despertar a fúria do escritor, que posteriormente afirmou desprezar o trabalho estrelado por um ensandecido Jack Nicholson. King – até pela proximidade – não conseguiu se distanciar o suficiente da fonte para perceber o incrível trabalho executado pelo cineasta, que aqui cria uma das obras de horror mais impactantes da história do cinema. Essa incompreensão se refletiu também no público e na crítica da época (além do fracasso de bilheteria, recebeu duas indicações às temidas Framboesas de Ouro), mas o filme foi, aos poucos, adquirindo um status de cult que hoje parece ser inabalável. Expressões como “redrum” e “all work and no play makes jack a dull boy” entraram no imaginário popular – graças à união destes dois gênios, King e Kubrick, que, mesmo sem um entendimento mútuo, presentearam seus fãs com uma verdadeira obra de arte.
Por Conrado Heoli
Em meio às adaptações macabras e icônicas de It: A Obra Prima do Medo (1990) e Às Vezes Eles Voltam (1991), uma obra bem menos controversa de Stephen King colocou o autor no rol dos escritores mais assediados por Hollywood. Louca Obsessão, um dos suspenses mais tensos e realistas da aparentemente infindável obra de King, é também um filme de muitos outros méritos: rendeu a Kathy Bates seu único Oscar, apresentou o talento de Rob Reiner na condução de um gênero até então inédito em sua filmografia e fez com que seus espectadores nunca mais considerassem uma marreta apenas por conta de seu uso tradicional. A construção do suspense em Louca Obsessão é gradativa e atinge níveis surpreendentes pela caracterização incomum de seu herói e vilão: um romancista prolífico e sua autoproclamada fã número um. A claustrofóbica ambientação do filme, que cede pouco espaço a quaisquer outros personagens, é um dos méritos de William Goldman e seu roteiro, muito sagaz ao suprimir a narrativa descritiva de King por silêncios, constantes conflitos e diálogos certeiros. Annie Wilkes deveria figurar em qualquer lista dos psicopatas preferidos do cinema norte-americano.
Por Matheus Bonez
Apesar de obras adaptadas para o cinema como Conta Comigo (1986) e Um Sonho de Liberdade (1994), Stephen King sempre foi mais conhecido pelo terror e o suspense. Transitando entre este último gênero e o drama de fundo histórico, em 1998 um ainda novato Bryan Singer produziu e dirigiu O Aprendiz, um tenro roteiro sobre Todd (Brad Renfro), um estudante fixado pela história do nazismo que descobre que seu vizinho, Kurt (Ian McKellen), nada mais é do que um ex-membro do regime. O garoto chantageia o alemão para descobrir mais sobre o que aconteceu na II Guerra , especialmente detalhes sórdidos e como eram feitas as torturas e as matanças. Muito além do jogo de gato e rato que se estabelece (e é invertido) entre o idoso e seu pupilo, o filme se concentra na atuação magistral de McKellen, que, se no início pode não parecer em nada com um monstro, com o passar dos minutos percebe-se que o mal estava adormecido. Mal que também pode estar presente no coração do jovem Todd, mesmo que ele não se dê conta disso. Ao final, a pergunta que fica é se o ser humano pode ser tão ruim por natureza. A resposta pode não ser concreta, mas King conhece do riscado como poucos e sua história estabelece que este mesmo mal pode ser algo intrínseco à humanidade.
Por Rodrigo de Oliveira
Frank Darabont dirigiu duas adaptações cinematográficas para livros de Stephen King, ambas com uma prisão como cenário e indicadas ao principal prêmio da Academia: Um Sonho de Liberdade (1994) e À Espera de um Milagre (1999). A primeira, estrelada por Morgan Freeman e Tim Robbins, é a mais incensada, indicada a sete Oscar (sem levar prêmio algum) e no topo da lista dos melhores filmes de acordo com os leitores da bíblia do cinema, o IMDb. Este sucesso não impediu que Darabont temesse a repetição, aventurando-se em mais uma obra do escritor. À Espera de um Milagre consegue ser ainda mais interessante, por trazer a temática sobrenatural de tantos livros de King, mas com um teor diferente. A ambientação é perfeita, com o público sendo transportado para uma prisão onde, em teoria, os piores criminosos ficam à espera de sua morte. A chegada de John Coffey, um sujeito gigante, de fala mansa e que tem medo do escuro, nos mostra que, realmente, as aparências enganam. Além de ser uma adaptação fidelíssima ao romance do autor, o longa-metragem traz atuações soberbas de Tom Hanks, Michael Clarke Duncan (indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante) e James Cromwell.
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Por Willian Silveira
O tesouro a ser encontrado, as jóias a serem resgatadas, os papeis a serem protegidos. Alfred Hitchcock revelou que a essa artimanha os produtores chamavam McGuffin. Enquanto elemento que impulsiona a história sem ser aprofundado, Frank Darabont constrói em O Nevoeiro um exemplo perfeito. Adaptação de uma das obras mais famosas de Stephen King, a chegada iminente de uma tempestade leva David Drayton (Thomas Jane) e seu filho pequeno a buscarem suprimentos no supermercado. É durante este episódio que ambos ficam presos com a chegada de um nevoeiro. Junto a eles e em meio ao desespero, os tipos humanos se revelam em todas as suas fraquezas. Darabont consegue criar com simplicidade um suspense que náo se limita aos sustos, mas se expande pela complexidade psicológica.