Steve Martin nasceu em 14 de agosto de 1945, no Texas, Estados Unidos. Sua carreira como comediante não começou muito diferente da maioria dos seus companheiros de profissão. Como roteirista, escreveu para a televisão por um bom tempo – inclusive ganhando um Emmy pelo seu trabalho em The Smothers Brothers Comedy Hour (1967). Se apresentava em programas como do Johnny Carson, que revelou inúmeros talentosos stand up comedians, e no teatro, fez seu nome como um hilário piadista. Fez sucesso na indústria fonográfica, com discos em que contava suas anedotas (algo comum na época). Para o cinema, foi um pulo.
Depois de aparecer em papéis pequenos em algumas produções, estourou como o protagonista de O Panaca (1979), um grande sucesso de bilheteria da época. O nome de Martin começou a ficar mais forte e, na década de 1980, dominou os filmes do gênero, com atuações memoráveis em Dinheiro do Céu (1981), Cliente Morto não Paga (1982), Um Espírito Baixou em Mim (1984), Três Amigos! (1986), Pequena Loja de Horrores (1986), Roxanne (1987), Antes Só do que Mal Acompanhado (1987), Os Safados (1988) e O Tiro que não Saiu pela Culatra (1989). Nos anos 90, os bons papéis começaram a rarear, mas ainda ótimos longas foram estrelados pelo astro, como L.A. Story (1991), O Pai da Noiva (1991) e sua continuação, lançada em 1995, e Os Picaretas (1999).
Embora nunca tenha sido indicado ao Oscar, Martin recebeu uma estatueta honorária pelo seu extraordinário talento. Ele também apresentou a festa da Academia em três ocasiões, uma delas dividindo o palco com seu amigo Alec Baldwin – os dois têm uma saudável disputa de quem mais vezes apresentou o humorístico Saturday Night Live. No Globo de Ouro, foi indicado em cinco ocasiões na categoria Melhor Ator – Comédia ou Musical. No aniversário de Steve Martin, a equipe do Papo de Cinema se reuniu para eleger os cinco filmes inesquecíveis do ator – e mais um, que deve receber atenção especial. Confira!
O Panaca (The Jerk, 1979)
Steve Martin não era mais do que um comediante de televisão e de teatro quando convenceu o diretor Carl Reiner – com quem voltaria a trabalhar em Cliente Morto Não Paga (1982), Médico Erótico (1983) e, principalmente, no hilário Um Espírito Baixou em Mim (1984) – a adaptar para o cinema a peça que o próprio Martin havia escrito em parceria com Carl Gottlieb (autor do roteiro de Tubarão, 1975). Como o personagem-título, o ator teve aqui sua primeira grande oportunidade, revelando não apenas seus dotes de atuação, mas também como roteirista. Verdadeiro clássico da comédia norte-americana, as piadas já começam de imediato quando percebemos que o protagonista é tão ingênuo a ponto de, mesmo sendo o único rapaz branco de uma família de negros, nunca ter desconfiado que era, de fato, adotado (“ah, então é por isso que não tenho o mesmo gingado dos meus irmãos!”, exclama, surpreso, quando a verdade lhe é revelada). Sozinho no mundo, decide ir à cidade grande tentar a sorte em busca de algo – ou alguém – que lhe dê valor. Tal qual Steve Martin, que mesmo com um tipo tão simplório como esse conseguiu dar início a uma das mais bem sucedidas carreiras de Hollywood – por Robledo Milani
Três Amigos! (Three Amigos!, 1986)
Steve Martin conseguiu reunir um time de peso da comédia dos anos 1980 para tirar do papel mais um de seus roteiros, deixando a direção a cargo de John Landis e atuando ao lado de Chevy Chase e Martin Short. A trama, passada em 1916, mostra os comediantes encarnando um trio de atores decadentes da era do cinema mudo, os Três Amigos do título, que são confundidos com heróis verdadeiros por uma jovem de um pequeno vilarejo mexicano e, acreditando terem sido convidados para realizar um espetáculo, acabam se envolvendo na batalha do povoado contra o temível bandido El Guapo (Alfonso Arau). A inspiração na animação da Disney Você Já Foi à Bahia? (1944) é evidente e ajuda a justificar certas ingenuidades e improbabilidades da história. Os deslizes são compensados pela condução habilidosa de Landis e pela química do trio protagonista, com Steve Martin assumindo o papel do líder autoconfiante, mas não muito brilhante, e expert no manuseio do laço. O timing e a interação com Chase e Short geram diversos momentos hilários e marcantes, como os números musicais – em especial a serenata ao redor da fogueira – ou ainda o antológico encontro com o arbusto cantante e o espadachim invisível. – por Leonardo Ribeiro
A Pequena Loja dos Horrores (Little Shop of Horrors, 1986)
Refilmagem musical de A Loja dos Horrores (1960), esta longa é comandado por Frank Oz – que usa de seus talentos para a criação de bonecos para conceber Audrey II, a planta carnívora falante (ou seria cantante?) que move a trama. Caso lhe seja um estranho, Frank Oz é o responsável pela manipulação e dublagem do Mestre Yoda na trilogia original de Star Wars. Especialista em lidar com bonecos, Oz consegue enfocar de forma bastante orgânica o elemento principal do roteiro – e seu talento incrível pode ser constatado em como, apesar de sabermos que trata-se de um animatrônico, Audrey II convence como um personagem real vivido por algum ator, já que possuí expressão corporal, feições, gingado, etc. E isso é apenas um dos méritos dessa produção, que além de uma trilha divertida, repleta de canções memoráveis, ainda traz uma escalação de elenco impecável. De Rick Moranis, passando pela ponta de Bill Murray, chegamos à participação do nosso homenageado: Steve Martin. Um homem cruel, bruto e que sente prazer em torturar pessoas, e que por isso mesmo assumiu a única profissão em que poderia fazer isso de forma legal: tornou-se um dentista – e sua canção sobre o assunto é um dos pontos altos do projeto. – por Yuri Correa
O Pai da Noiva (Father of the Bride, 1991)
A distribuição é da Disney, o roteiro é de Nancy Meyers e Diane Keaton está no elenco. Ou seja, é a receita do bolo para um filme família, leve e despretensioso. Com um Steve Martin mais rabugento do que nunca então, é sucesso garantido. Aqui, ele faz o pai da noiva do título, um homem ciumento que não quer passar a mão de seu “bebê” para um garanhão de quem ele não gosta. Óbvio que, nesse meio tempo, vai ter muita lição de moral, mensagens edificantes, um romantismo exacerbado, enfim, tudo o que uma comédia do gênero leva na bagagem. Mas o principal se concentra no patriarca da família, um grande chato ranzinza que, de tão mala, acaba se tornando engraçado. Isso, é claro, graças às trapalhadas que o nosso homenageado confere a seu personagem, com a naturalidade que lhe é conhecida, conseguindo superar Spencer Tracy, o pai do título original de 1950. O sucesso foi tanto que gerou uma continuação quatro anos depois, inclusive uma indicação a Melhor Ator em Comédia ou Musical para Steve Martin. – por Matheus Bonez
Os Picaretas (Bowfinger, 1999)
Este quarto longa realizado em parceria com o cineasta Frank Oz traz Steve Martin ao lado de outro ícone da comédia oitentista: Eddie Murphy. Na trama, Martin interpreta Bobby Bowfinger, um produtor/diretor cinematográfico à beira da falência que há anos tenta emplacar um sucesso. Em sua última cartada, Bowfinger elabora um insólito plano para rodar uma ficção científica B, tendo como protagonista o astro de ação Kit Ramsey (Murphy) sem que este saiba que faz parte do filme. Para isso, ele conta com a ajuda de sua fiel equipe, que inclui a aspirante a estrela Daisy (Heather Graham) e um sósia de Kit (novamente Murphy). O delicioso roteiro escrito pelo próprio Martin apresenta uma ácida sátira metalingüística à indústria hollywoodiana, repleta de tiradas extremamente inteligentes e divertidas mescladas a toques de humor mais físico. Murphy se destaca em papel duplo, mas Martin não fica atrás, dividindo diversos momentos hilários de improviso com o parceiro de cena – a sequência da travessia da estrada é inesquecível. Com seu estilo habitual, o ator cria um personagem extremamente simpático, apesar do cinismo latente, fazendo de Bowfinger uma figura à la Ed Wood que, mesmo sem a menor aptidão, deixa transbordar um amor verdadeiro pelo cinema. – por Leonardo Ribeiro
+1
Garota da Vitrine (Shopgirl, 2005)
Steve Martin ficou mundialmente conhecido pelo seu talento de fazer rir. Curiosamente, quando adaptou o seu próprio livro para o cinema, reservou para si um personagem bastante diferente do que estava acostumado a encarnar. Embora seu nome seja o principal no pôster, seu personagem é coadjuvante. A real protagonista é vivida por Claire Danes, neste longa dirigido por Anand Tucker. A atriz interpreta Mirabelle, uma tímida vendedora de luvas da Saks Fifth Avenue, uma loja grã-fina de Beverly Hills. Uma noite, lavando suas roupas, conhece o amalucado Jeremy (Jason Schwartzman). Os dois combinam de se encontrar, mas, depois de certo tempo, Mirabelle percebe que está saindo com Jeremy muito mais por falta de opção do que por realmente ter algo a ver com o rapaz. Neste momento ela conhece Ray Porter (Martin), um homem mais velho e bem-sucedido que parece dar a atenção e o carinho que a garota achava que precisava. Mesmo que tenha narração em off desnecessária e alguns penduricalhos no roteiro que poderiam ter ficado de fora, Garota da Vitrine é uma comédia romântica agridoce que tem o coração no local certo e conta com uma atuação contida e certeira de Steve Martin. – por Rodrigo de Oliveira
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