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No dia 18 de dezembro de 1946 nascia Steven Spielberg, o mais popular cineasta de sua geração! No seu aniversário, comemoramos uma carreira repleta de surpresas e conquistas, uma das mais célebres de todo o universo hollywoodiano. Em mais de 40 anos de profissão, Spielberg dirigiu dezenas de filmes, além de ter participado da produção de outros tantos. Atuou também como roteirista, editor, assistente de direção, técnico de efeitos especiais e, acredite, até mesmo como ator! Vencedor de 3 Oscars – além de um honorário – foi indicado ao prêmio máximo do cinema mundial outras quatorze vezes. Ganhou ainda quatro prêmios do Sindicato dos Diretores dos EUA, três Globos de Ouro (EUA), dois prêmios da Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, foi premiado em Cannes e em Veneza. Isso sem mencionar que todos os seus longas, juntos, arrecadaram apenas nas bilheterias norte-americanas mais de US$ 4 bilhões – dos 27 principais, 15 ultrapassaram a marca dos US$ 100 milhões! Steven Spielberg é assim, com um pé na fantasia e outro calcado na realidade, realizador de obras tão profundas e de outras igualmente fantásticas. Escolher apenas os cinco melhores destes trabalhos – e mais um especial que merece ser (re)descoberto – foi uma tarefa árdua, mas a equipe do Papo de Cinema acredita ter sido justa – ainda que algumas escolhas possam ser consideradas polêmicas – com este nome tão relevante e de tamanho impacto. Confira!

 

20141217 jawsTubarão (Jaws, 1975)
– por Marcelo Müller
Tem gente que encrenca com este longa-metragem de Steven Spielberg por conta do conceito de blockbuster ter se instaurado de maneira determinante em Hollywood muito a partir dele. Mas como sucesso não é pecado – e o filme nesse sentido foi usado como bode expiatório por uma indústria que viu a possibilidade de ganhos maximizados de acordo com a mudança de seus modelos de negócio –, vamos às inúmeras qualidades que fazem dele não apenas um dos grandes exemplares de Spielberg, mas também algo de destaque dentro do cenário estadunidense dos anos 1970. De produção complicada, repleta de contratempos, inclusive com uma dificuldade funcional do tubarão animatrônico, esta realização se tornou um imenso êxito de bilheteria, sobretudo em virtude da maneira como Spielberg constrói o suspense, potencializando seu impacto com instantes de horror, praticamente transformando o predador marítimo num monstro a ser fortemente temido. A icônica trilha de John Williams ajuda a estabelecer esse clima de constante ameaça. O tubarão é apenas visto de relance no mais das vezes, a priori uma imposição dos problemas operacionais, mas que gerou um procedimento narrativo amplamente copiado posteriormente, pois eficiente como instância de tensão. Spielberg demonstra, tanto no mar quanto na terra, a excelência de um filme vigoroso.

 

os-cacadores-da-arca-perdida-papo-de-cinemaOs Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981)
– por Victor Hugo Furtado
Após os sucessos de bilheteria Tubarão (1975) e Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), Spielberg resolveu se aventurar pelas produções que exploravam a “jornada do herói”, ou pelo menos uma grande parte estrutural dela. Dando início a uma das mais famosas sagas do cinema, o arqueólogo Indiana Jones, nos anos 1930, é contratado para encontrar a Arca da Aliança, que segundo as escrituras bíblicas conteria “Os Dez Mandamentos” que Deus revelou a Moisés. Mas como a lenda diz que o exército que a possuir será invencível, o professor enfrenta outros interessados no tesouro. O roteiro foi escrito por Lawrence Kasdan, depois de uma discussão de quatro dias, na qual Spielberg, George Lucas e ele definiram os principais elementos narrativos da trama. A concepção do filme se originou quando Lucas decidiu criar uma versão moderna dos seriados dos anos 1930 e 1940. Como se não bastasse o apuro técnico e imagético que Spielberg explora na figura do protagonista, ele ainda foi responsável direto por escolher Harrison Ford para o papel. Como resultado, a obra foi premiada com cinco Oscar e indicada a outros quatro, incluindo Melhor Filme e Direção. Porém, mais importante que isso, foi sua seleção para o Instituto Nacional de Preservação do Cinema dos Estados Unidos, sendo considerado culturalmente, historicamente ou esteticamente significante para o legado da sétima arte.

 

20141217 et the extra terrestrialE.T.: O Extraterrestre (E.T. the Extra-Terrestrial, 1982)
– por Marina Paulista
Símbolo máximo dos trabalhos infanto-juvenis de Spielberg, este filme é, certamente, um dos maiores ícones de uma carreira repleta de figuras que marcaram o cinema americano. Maior sucesso de bilheteria da década de 1980 – superado apenas em 1993 por Jurassic Park, do mesmo diretor – o longa conta a história de Elliott (Henry Thomas), um garotinho que se torna amigo de um dócil alienígena que foi deixado na Terra por acidente. O menino e o extraterrestre forjam uma forte conexão e, com a ajuda de seus irmãos Mike (Robert MacNaughton) e Gertie (a pequena Drew Barrymore), Elliott protege a criatura dos agentes do governo, enquanto tenta ajudar o amigo a voltar para seu planeta-natal. Talvez o maior triunfo da direção de Spielberg aqui seja sua incrível capacidade de conversar com o público mais jovem. O diretor coloca as crianças no centro da narrativa e mantém sua câmera quase sempre numa perspectiva infantil, chegando até a identificar um personagem adulto não pelo rosto, mas pelas chaves que este carrega na calça, simulando o campo de visão de uma criança. Capaz de arrancar lágrimas de espectadores de todas as idades, este clássico hollywoodiano desperta nostalgia nos adultos e ainda consegue encantar crianças de novas gerações.

 

20141217 schindlers listA Lista de Schindler (Schindler’s List, 1993)
– por Wallace Andrioli
Geralmente lembrado como responsável por enfim fazer de Steven Spielberg um cineasta “sério”, sobretudo aos olhos da Academia, esse filme sobre o empresário tcheco Oskar Schindler (Liam Neeson), membro do partido nazista que salvou mais de 1000 judeus da morte durante a Segunda Guerra Mundial, tem uma força que extrapola qualquer compensação possivelmente promovida no Oscar. Filmando em preto e branco e esbanjando sua contumaz elegância visual, Spielberg consegue criar imagens impactantes, que, inspiradas em ao menos dois documentários icônicos sobre o Holocausto judeu – Noite e Neblina (1955), de Alain Resnais, e Shoah (1985), de Claude Lanzmann – acabaram transformadas em referências inevitáveis quando se pensa o tema em questão no cinema. Ao mesmo tempo, o diretor maneja com maestria um protagonista moralmente dúbio, de difícil apreciação num contexto como o que se passa a história, apostando pesado no carisma de Neeson – que entrega aquela que é, ainda hoje, provavelmente sua melhor interpretação. Dura, rigorosa esteticamente e muito emocionante, essa talvez seja, de fato, a obra-prima de Steven Spielberg.

 

o-resgate-do-soldado-ryan-papo-de-cinemaO Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998)
– por Matheus Bonez
Só pela sequência inicial de 20 minutos com explosões, sangue e o retrato do Dia D (a invasão norte-americanos no norte da França, em seis de junho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial), Steven Spielberg já mereceria todos os louros. O realismo é chocante e violento, numa de suas melhores composições técnicas e dramáticas. Foi tão grande o impacto que muitos espectadores, acostumados com as obras mais “fofas” do diretor, deixaram a sala por não suportarem a tragédia que se desenhava perante seus olhos. Quando a história principal realmente começa, o pelotão liderado pelo Capitão John Miller (Tom Hanks) precisa resgatar o Ryan do título (Matt Damon), o único de quatro irmãos soldados que sobreviveu. Ainda que possa parecer fora da realidade este sentimentalismo todo, Spielberg é hábil o bastante para causar esta dúvida nos próprios membros do grupo. Afinal, o que é a vida de um desconhecido em meio a uma guerra que faz milhões de vítimas inocentes? Em meio a questionamentos pessoais em um ambiente totalmente hostil, questionando o próprio valor de um conflito dessa altura, o cineasta alia o melhor de sua sensibilidade com o realismo necessário para realizar um dos melhores filmes daquele ano e, porque não dizer, de toda a sua carreira.

 

+1

 

duel dvdEncurralado (Duel, 1971)
– por Conrado Heoli
Steven Spielberg estava longe de se tornar “O” Spielberg quando se envolveu com esta produção, realizada originalmente para a televisão, mas que se tornou cult instantâneo quando levada aos cinemas da Europa, Austrália e, posteriormente, Estados Unidos. Responsável por impulsionar a carreira do hoje profícuo realizador, na época um jovem e inexperiente diretor em suas primeiras desventuras atrás das câmeras, este intenso e divertido thriller ainda é capaz de deixar seus espectadores na ponta das poltronas. Roteirizado pelo renomado escritor Richard Matheson a partir de um conto de sua própria autoria – que, por sua vez, foi inspirado numa situação verídica vivida por ele – o suspense acompanha um vendedor que dirige por estradas do deserto californiano até se perceber perseguido por um caminhão petroleiro. Com pouquíssimos diálogos e muitas cenas de ação e suspense, o filme se desenvolve rapidamente numa sucessão destas sequências complexas e excepcionalmente orquestradas por Spielberg, que apenas três anos depois já estava no comando de Tubarão (1975). O cineasta permite ao seu longa-metragem um final abrupto, mas eletrizante e redentor. Sua motivação era certeira: ao contrário da dinâmica de sua narrativa, aqui era o pequeno cineasta quem perseguia determinadamente maiores objetivos. Seu êxito é tão evidente quanto louvável.

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