Tim Burton pode não ser reconhecido por suas premiações ou unanimidade perante a crítica, porém é um dos verdadeiros autores do cinema hollywoodiano contemporâneo. Ao utilizar referências ao expressionismo alemão mesclados com bom humor e sensibilidade, o cineasta criou sua própria linguagem e já embarcou em praticamente todos os gêneros existentes no cinema sem nunca perder a criatividade. Entre alguns destes filmes, como não lembrar dos ótimos A Noiva Cadáver (2005) e Frankenweenie (2012), suas únicas indicações ao Oscar e ainda na mesma categoria, Melhor Filme de Animação?
É claro que uma filmografia de quase 30 títulos em pouco mais de 40 anos de carreira tem teus altos e baixos, mesmo que alguns tenham sido grandes sucessos de bilheteria como A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) e Alice no País das Maravilhas (2010), ainda que dividindo a opinião do público e da crítica. No dia 25 de agosto, Tim Burton comemora mais um aniversário e a equipe do Papo de Cinema comemora lembrando os cinco melhores filmes do diretor, assim como aquele que merece uma segunda chance, mesmo que tenha sido ignorado na época do lançamento. Confira!
Por Yuri Correa
O segundo filme de Tim Burton já demonstrava todo o talento gótico e sombrio do diretor. Sempre inspirado visualmente no expressionismo alemão ao compor seus designs de produção, o cineasta, aqui ainda adepto dos cenários, maquiagens e figurinos não digitais – como viria a ser infelizmente mais tarde – encontra em suas imagens a força do inusitado projeto. Conta a história de um casal que, morto, se descobre novato na tarefa de ser fantasma, logo buscando a ajuda de Beetlejuice (Michael Keaton), o que, obviamente, se mostra um erro. É eufemismo dizer que neste seu início de carreira Burton já flertava com suas tendências, uma vez que até hoje seu estilo parece decorrer deste longa. Não seria exagero, portanto, dizer que o curta-metragem Vincent e este Os Fantasmas se Divertem inauguraram a sua filmografia como a conhecemos hoje. Divertido, mórbido, nonsense e sombriamente colorido, a ideia de Beetlejuice (título original) é simples, mas comicamente eficiente, e já professava o cineasta que mais tarde viria a realizar obras admiráveis como Edward Mãos de Tesoura (1990), Batman (1989), Ed Wood (1994) e Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007).
Por Thomás Boeira
Depois do grande sucesso de Batman (1989), Tim Burton preferiu se dedicar a uma produção que ele vinha desenvolvendo há algum tempo e cuja escala era um pouco menor. O filme foi Edward Mãos de Tesoura, que trouxe Johnny Depp no papel do personagem-título, um jovem que vive sozinho em um castelo e que tem tesouras no lugar das mãos, já que seu inventor (interpretado pelo saudoso Vincent Price, em seu último papel no cinema) morreu antes de terminá-lo. Tímido, gentil e ingênuo, ele é descoberto pela vendedora Peg (Dianne Wiest), que o leva para sua casa. Enquanto vira o centro das atenções da vizinhança, Edward se apaixona pela filha de Peg, Kim (Wynona Ryder). Com todo o estilo conhecido do diretor dando as caras, Edward Mãos de Tesoura se revela tocante, divertido e até mesmo tenso em determinados momentos, em uma história que lembra um pouco o conto A Bela e a Fera. E foi o primeiro filme que Burton fez com seu grande amigo Johnny Depp, em uma parceria que até agora já rendeu outras sete produções.
Por Rodrigo de Oliveira
Batman (1989) foi um grande sucesso de bilheteria e reconfigurou a imagem do homem-morcego para o grande público. Apesar do bem sucedido resultado, o filme tinha muita intervenção dos estúdios Warner, que não confiavam tanto no novato Tim Burton. O mesmo não aconteceu em Batman: O Retorno (1992). Com aquele sucesso em mãos, o diretor se viu mais livre para construir seu trabalho. E o que vemos na tela é um exemplar legítimo de Burton. As excentricidades do cineasta podem ser percebidas principalmente na dupla de vilões: Pinguim e Mulher-Gato. O primeiro, vivido por Danny DeVito, um órfão criado pelos animais, grotesca aberração rejeitada pelos pais. A segunda, vivida sensualmente por Michelle Pfeiffer, é uma morta-viva ressuscitada por gatos que vive em uma tênue linha entre o bem e o mal. Neste cenário, o Batman de Michael Keaton não fica muito longe das excentricidades, visto que é um homem vestido de morcego. As mudanças de origem dos personagens podem ter incomodado os fãs mais xiitas, mas é inegável a autoralidade de Tim Burton em um filme que segue como uma das melhores adaptações de personagem dos quadrinhos para o cinema.
Por Marcelo Müller
Em 1994, Tim Burton lançou uma cinebiografia daquele que é carinhosamente considerado até hoje como o pior diretor de todos os tempos: Ed Wood. O filme, fotografado num belo preto e branco, acompanha as peripécias desse artista que produzia e dirigia longas trash, geralmente com algum elemento de terror e ficção científica. No papel-título, o quase onipresente – quando se trata de filmes de Burton – Johnny Depp, que interpreta a ingenuidade de quem vivia a ilusão de criar grandes obras, quando na verdade produzia ruindade. Trucagens mal feitas, interpretações canastronas, angulações de câmera nada funcionais, tudo isso rendeu fama às avessas a Wood. Burton olha o cineasta de outrora como um sonhador, um artista que mesmo desprovido de talento buscava no cinema o veículo pelo qual faria vir à tona sua imaginação, de alguma maneira identificando-se com essa necessidade. Ed Wood é uma espécie de carta de amor ao próprio cinema, essa arte que inebria realizadores e espectadores, que faz com que alguém sem o mínimo talento entre para a história por conta de uma paixão desmedida, dessas que só o cinema suscita e eterniza.
Por Matheus Bonez
Adepto da estética gótica e que remete ao expressionismo alemão, Tim Burton sempre utilizou como pano de fundo histórias sensíveis sobre seres deslocados, párias da sociedade. Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas é seu título mais intimista e autobiográfico, no qual o cineasta se baseou no no best-seller de Daniel Wallace como um espelho da sua própria vida e origem, especialmente no mote do filme: sua relação conturbada com o pai. Na trama, Will Bloom (Billy Crudup) precisa acertar as contas com o pai, Edward (Albert Finney), que está doente e sempre contou “histórias de pescador” para o filho. É o momento de ruptura e reconciliação do rapaz que não consegue entender a imaginação fértil do pai confundida com mentira deslavadas. É claro que estes contos de Edward são um prato cheio para o cineasta usar e abusar de sua estética longe da realidade, desta vez com muito mais cores e luz. É o filme mais lacrimoso de Burton, mas com sentimentos nem um pouco artificiais. Uma obra-prima.
+1
Por Robledo Milani
Esta incrível e absurda produção é uma obra completamente original de Tim Burton, com seu DNA inscrito em cada detalhe da história. Pra começar, sua origem extremamente pop: é baseado numa série de cartões colecionáveis que, com os anos, se tornaram uma febre entre alguns poucos aficionados. A trama é sobre alienígenas – marcianos, obviamente – que decidem invadir a Terra. Ao chegarem aqui, ao invés de buscarem qualquer tipo de diálogo – o que os terráqueos seguem insistindo até o fim – partem logo para a ação, destruindo tudo que encontram pelo caminho – desde uma bela e branca pomba da paz até o próprio presidente dos Estados Unidos! No impressionante elenco de astros, praticamente só amigos do diretor: Jack Nicholson, Danny DeVito, Sarah Jessica Parker, Martin Short, Sylvia Sidney e Lisa Maria (sua namorada na época), todos eles já tendo trabalhando anteriormente com o cineasta. Ainda que tenha faturado mais de US$ 100 milhões nas bilheterias de todo o mundo, decepcionou muita gente quando chegou aos cinemas, que esperavam algo mais sério e realista. Burton, no entanto, assim como seus ETs endiabrados, só queria se divertir. E hoje, quase vinte anos após seu lançamento, fica ainda melhor para nós, espectadores, rirmos juntos dessa grande e irresistível piada.