Tom Cruise é o legítimo astro de Hollywood que causa reações das mais adversas no público. Ou se ama ou se odeia. Suas chamadas loucuras, especialmente em relação à Cientologia, e seus turbulentos casamentos (especialmente com Nicole Kidman e Katie Holmes) podem até causar asco em alguns, mas não se pode negar que o ator sempre traz para si a atenção dos holofotes e dos espectadores. Indicado três vezes ao Oscar, Cruise é um intérprete que não tem medo de se jogar em produções arriscadas, ao mesmo tempo em que tem, ao menos, um razoável conforto no retorno da crítica e dos seus fãs.
Descoberto há 30 anos como um “rostinho bonito” em filmes como Vidas Sem Rumo (1983), Top Gun: Ases Indomáveis (1986) e Cocktail (1988), o galã demorou um pouco para se desvencilhar desta fama plástica para chamar a atenção pela qualidade dramática de seus trabalhos. Porém, quando o fez, foi recebido de braços abertos. E agora que Cruise está de aniversário neste dia 3 de julho, a equipe do Papo de Cinema resolveu escolher seus cinco melhores filmes e, é claro, aquele que merece ser lembrado.
Tom Cruise sempre foi, além de lindo, talentoso. A questão é que como a forma chama atenção antes do conteúdo, no início de sua carreira ele precisou se esforçar para mostrar que era mais do que “um rostinho bonito”. E se hoje ele parece ter se rendido à condição de superstar, vinte anos atrás suas escolhas eram mais ousadas, como assumir o papel do vilão Lestat, o morto-vivo sanguinário. O personagem principal poderia ser Louis (Brad Pitt), e a garota (Kirsten Dunst) foi uma revelação, mas é impossível não pensar nesse filme sem ter à mente a imagem de Cruise, loiro, com dentes afiados, dotado de uma ira colérica e pronto para uma nova vítima. A direção de Neil Jordan, o texto pop de Anne Rice e o sucesso de público (US$ 220 milhões arrecadados mundialmente) e de crítica (duas indicações ao Oscar e aplausos por onde era exibido) mostraram que a investida, por mais arriscada que tenha sido num primeiro instante, foi um acerto e tanto. E afinal, quem nunca sonhou em se deparar com vampiros galantes e charmosos como o casal formado por Cruise e Pitt? – por Robledo Milani
O filme de Brian De Palma sabe elevar as tensões até um limite, até o esgotamento de toda e qualquer faísca de um suspense que se constroi e se renova a cada sequência. Tom Cruise, protagonizando os movimentos da ação, não precisaria fazer muita coisa para sustentar a força do filme, pois ela reside exatamente no tempo da ação, na coordenação e na manutenção que o cineasta opera através desse tempo, desse ato de forçá-lo até extrapolar o limite do verossímil. De fato, além disso, a tal missão impossível precisa contar com a energia também do espectador. No entanto, é bem verdade que o grande ator é, primeiro, aquele que não estraga as coisas para, só então, torná-las mais potentes. E Tom Cruise ainda faz um pouco mais, pois tem o timbre que o rigor “de gênero” pede, o rosto facilmente reconhecível na determinação de uma “história de mentirinha” (é De Palma que vai dizer que a câmera mente 24 vezes por segundo) e o torpor físico que faz par com a velocidade de uma aventura. – por Pedro Henrique Gomes
Esqueça tudo o que você já viu de Tom Cruise. Mérito de sua imersão ou da soberba direção de Paul Thomas Anderson, o guru Frank T.J. Mackey é, definitivamente, um dos maiores papéis do ator. O tipo narcisista, mentor de um curso machista de auto-ajuda para homens, fez com que Cruise desaparecesse sob a arrogância do personagem e recebesse sua terceira indicação ao Oscar. Tom Cruise já era fã do filme anterior de Anderson, Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997), e convidou o cineasta para uma conversa de set enquanto filmava De Olhos Bem Fechados (1999), de Stanley Kubrick, interessado em estrelar qualquer que fosse seu próximo projeto. Pupilo mais aclamado de Robert Altman, Anderson supera em suas obras vários trabalhos de seu mestre. Este filme se inicia na atmosfera de Short Cuts: Cenas da Vida (1993), porém se encerra num espectro bem mais sombrio e melancólico, oprimido pela trilha monumental de Jon Brion e as canções de Aimee Mann. Com um elenco excepcional em performances genuínas, a grandeza do filme reside no retrato visceral de seus personagens, que alternadamente são confrontados com as trágicas incertezas da vida e da morte e se descobrem tão frágeis quanto a natureza humana. – por Conrado Heoli
Este é um filme no qual as vidas profissional e pessoal de Tom Cruise acabam se cruzando. Contracenando com a sua então esposa na época, Nicole Kidman, e nas mãos de um dos maiores diretores da história do cinema, era a oportunidade perfeita para o grande astro americano abocanhar sua primeira estatueta do Oscar e quem sabe, finalmente ser levado a sério como um ator dramático e não somente mais um rostinho bonito. Mas não foi o que aconteceu, em parte. O filme de Kubrick dividiu opiniões na sua época de lançamento. Muitos não entenderam, outros acharam de mau gosto. Ao passo que a crítica se dividia quanto ao filme, o casamento de Cruise começava a se mostrar desgastado. Seja como for, este filme acabou redescoberto após anos de seu lançamento e é considerado por alguns como até mesmo o melhor filme de Stanley Kubrick e, certamente, uma das melhores interpretações da carreira do astro, com um alcance dramático na medida. – por Renato Cabral
Por mais que eu possa ter uma implicância (totalmente subjetiva) em relação a Tom Cruise, não posso negar que ele gosta de ousar em seus papéis. Ou gostava até a década passada. Em um dos grandes momentos de sua melhor fase – que incluem desde Jerry Maguire: A Grande Virada (1996), Minority Report (2002) e O Último Samurai (2003), entre outros filmes citados por aqui – o astro resolveu largar o bom mocismo de vez ao encarnar o perigoso Vincent, um assassino de aluguel que obriga o taxista Max (Jamie Foxx) a ajudá-lo a fugir da polícia enquanto ele precisa matar cinco testemunha de um processo contra um cartel do narcotráfico. O roteiro excepcionalmente bem elaborado, a direção tensa e extraordinária de Michael Mann e as atuações espetaculares da dupla de protagonistas tornaram o filme um sucesso. Totalmente merecido. – por Matheus Bonez
+1
Pode-se acusar Tom Cruise de várias coisas, menos de acomodado. Com uma carreira cheia de sucessos, o ator poderia facilmente manter-se nos gêneros que mais lhe geram dividendos, como os de ação e aventura, ao contrário de embarcar em produções que desafiem seu status como astro ou sex symbol. Pois é exatamente isso que ele faz nessa comédia dirigida pelo seu amigo Ben Stiller, no qual o astro de Top Gun (1985) aparece de forma surpreendente. Careca, peludo e com uma barriga saliente, Les Grossman é tudo o que Cruise não é. E pelo fato de o ator convencer completamente no papel, estando hilário debaixo de bastante maquiagem – e apelando para os piores impropérios na hora de falar com seus subordinados – já merece todos os elogios. Aparecendo pouco e sem o seu nome nos cartazes, a participação do ator pode até passar despercebida pelos menos atentos, tamanha a transformação. O astro só não roubou completamente o filme por causa da presença de Robert Downey Jr., com uma performance ainda mais surpreendente (e indicada ao Oscar) como o cara disfarçado de outro cara interpretando outro cara. – por Rodrigo de Oliveira