Ator, diretor, produtor. Tom Hanks é um dos astros de Hollywood que mais consegue desfilar por diferentes frentes no cinema e na TV norte-americana e sair praticamente ileso sem nenhuma crítica. É claro que ele já teve seu auge em filmes poderosos durante a década de 1990 e o início dos anos 2000 e, após, teve o nome um pouco apagado perante as novas audiências (vulgo, os mais jovens) que o reconhecem muito mais como o professor Robert Langdon de O Código da Vinci (2006) e Anjos e Demônios (2009). Vale lembrar também suas atuações como excepcional dublador de animações, especialmente como o caubói Woody da trilogia Toy Story.
De ator de comédias românticas como Splash: Uma Sereia em Minha Vida (1984) até o sucesso perante a crítica dez anos mais tarde com Filadélfia (1993), Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994) e Apollo 13 (1995), o que não falta no currículo de Tom Hanks são produções excelentes e que mostram o porquê do astro ser uma das figuras mais emblemáticas de Hollywood. No dia 9 de julho o astro completa mais um aniversário. Não estranhe, então, se faltar algum título na seleção que nós fizemos de seus cinco melhores filmes – e aquele que merece ser redescoberto. É muita coisa boa e, certamente, algo tão relevante quanto pode ter ficado de fora.
Por Robledo Milani
Tom Hanks era somente um astro popular de comédias românticas engraçadinhas até aceitar o papel de Andrew Beckett, um advogado que decide lutar contra a discriminação em seu próprio escritório. Isso porque ele havia sido demitido e a única razão para isso era o fato dele ser soropositivo. Gay assumido, envolvido num relacionamento sério (com o então revelação Antonio Banderas) e ciente dos seus direitos, ele contrata para defendê-lo simplesmente o único advogado disposto a assumir essa causa: Joe Miller, vivido pelo sempre excelente Denzel Washington. Este constrói outro tipo impressionante, um profissional que não poderia ser mais diferente do protagonista: negro, homofóbico e em início de carreira. As mesmas razões que os distanciam terminam por uni-los, e a direção de Jonathan Demme é hábil em desenvolver esse processo sem exageros melodramáticos, mas ainda assim ciente de uma poderosa carga emocional. Este é o primeiro filme pró-direitos dos homossexuais realizado por um grande estúdio de Hollywood e de cara faturou dois Oscars: Canção Original, para a bela “Streets of Philadelphia”, de Bruce Springsteen, e, é claro, Melhor Ator, para um Tom Hanks como nunca antes havíamos visto. E que bom reconhecê-lo a essa altura!
Por Marcelo Müller
Os primeiros minutos de O Resgate do Soldado Ryan são de uma pungência impressionante. Entre mortos e feridos, acompanhamos o ataque costeiro na Praia de Omaha, em 06 de junho de 1944. Para muitos, o restante do filme fica bem aquém desse início de qualidade espantosa. No decorrer da trama, temos o Capitão John H. Miller (Tom Hanks) tentando localizar o paraquedista James Francis Ryan, único sobrevivente de quatro irmãos militares, na companhia de sete outros homens. Steven Spielberg faz sua caravana atravessar os destroços da guerra, testemunhando a devastação e as tensões ainda vivas do conflito que vitimou centenas de milhares. A missão é mais política que prática, afinal, não pegaria bem pros EUA uma família americana perder todos os filhos no front. O personagem de Tom Hanks segue o ordenado, mesmo sabendo da insanidade que é colocar em risco seu reduzido pelotão para fazer parte da engrenagem de relações públicas do governo estadunidense. O Resgate do Soldado Ryan possui uma série de observações críticas acerca da validade de atos desencadeados em virtude dos chamados “esforços de guerra”.
Por Pedro Henrique Gomes
Tom Hanks e Michael Clarke Duncan travam um duelo de forças antagônicas neste filme de Frank Darabont. A relação que se cria entre os prisioneiros e os policiais só pode ser mediada por um aparelho de expectativas, com a morte como pano de fundo. O Estado punitivo, representado fortemente pelas brechas que a pena de morte deixa em seus julgamentos, é também extensão de uma morte: morte da própria moral do humano, pois algo sempre se perde no processo. O personagem de Duncan, condenado à cadeira elétrica, encontra no outro a força para resistir. Neste sentido, Tom Hanks tem “apenas” a incumbência de sustentar essa dor amiga, ali tão próxima e visível e até mesmo compartilhada a partir do estado das coisas degradante e opressor no qual ele mesmo parece localizar sua atividade. O policial que ele interpreta é a peça chave, síntese, de um sistema que extingue qualquer humanidade mesmo do mais sereno homem. Durante o filme, em cada aproximação que a câmera faz em direção ao seu rosto, destroçado, vencido, lá está boa parte do peso do mundo.
Por Rodrigo de Oliveira
Não são muitos os atores que conseguem carregar um filme nas costas. Neste seleto grupo de astros, Tom Hanks é presença certeira. Duvida? Basta ver o que o ator realiza em Náufrago, segunda parceria com o cineasta Robert Zemeckis – depois do premiadíssimo Forrest Gump. No filme, Hanks é um sujeito que corre contra o tempo no seu trabalho, o que o transforma em uma pessoa com dificuldades em manter relacionamentos com seus entes queridos. Quando um terrível acidente o deixa ilhado, sem qualquer forma de conexão com o mundo exterior, aquele homem colocará tudo que sabe em perspectiva. O que chama a atenção em Náufrago é a forma como Hanks consegue segurar a atenção do espectador. Em boa parte do filme, o ator está sozinho na ilha, com direito apenas a uma bola de vôlei que serve como seu amigo e consciência. Perdendo peso durante o intervalo das filmagens para passar credibilidade como um sujeito perdido, Tom Hanks mergulha de corpo e alma em um personagem difícil, com poucos diálogos e de muita entrega. Ainda que o filme se perca no desfecho, sem saber direito como amarrar as pontas, a atuação indicada ao Oscar do ator vale cada segundo.
por Renato Cabral
Segunda realização do diretor Sam Mendes e sua primeira após o premiado Beleza Americana (1999), Estrada para Perdição talvez seja o filme mais polido e ágil do diretor, no qual tudo parece estar na medida certa. Tom Hanks estrela a produção entregando uma das melhores e mais explosivas performances de sua carreira, em uma imersão no universo gângster. O projeto acabou surgindo nas mãos de Steven Spielberg, que leu a história em quadrinhos e avisou a Hanks que ali havia um ótimo material para ser adaptado às telas. O ator acabou levando a proposta a Mendes e, bom, Estrada para Perdição aconteceu. Na história, que se passa nos anos 30 da Depressão americana, Hanks é um pai de família em meio ao mundo da máfia. À noite ele é o chamado Anjo da Morte e tem como chefe o personagem interpretado por Paul Newman, uma espécie de Al Capone. Tudo vai bem até que um dia o filho do personagem de Hanks presencia um acerto de contas em que o pai está presente e testemunha uma execução. É quando o trabalho e a família do personagem acabam entrando em colisão. Contracenando com um grandioso elenco que passa por Newman e segue com nomes como Daniel Craig, Jude Law e Jennifer Jason Leigh, Hanks apresenta um lindo e dedicado trabalho que oscila entre a sutileza de um relacionamento de pai e filho e a problemática do violento mundo do crime.
+1
Por Dimas Tadeu
Muita gente conhece o Tom Hanks de filmes grandiosos, nos quais ele encarna o papel de herói bonzinho em histórias de superação. Mas sua estreia como diretor de longa-metragens com The Wonders: O Sonho Não Acabou lhe trouxe um personagem diferente: o de um empresário larápio que será um dos responsáveis pela ascensão e também pela queda de uma banda de rock nos anos 60. Com uma trilha sonora deliciosa (que inclui o hit “That Thing You Do!“, título do longa em inglês), uma direção de arte cuidadosa e uma história cativante, o filme marca a carreira do ator de diversas formas, deixando clara sua polivalência, já que ele escreve, dirige e atua no longa.