Atores mais velhos e de gabarito, assim digamos, dificilmente conquistam grandes posições perante o público, especialmente em Hollywood. Ainda mais se ele não for nenhum galã e ser de fora. No caso de Tom Wilkinson, inglês e, por muitos anos, mais conhecido por seu trabalho no teatro e na televisão. Ainda assim, é um dos “eternos coadjuvantes” que todos amam ver quando algum filme é lançado. Sua lista com mais de 100 atuações só comprova o fato.
Além de tudo, conta com um currículo invejável para quase 40 anos de carreira: 22 prêmios (entre eles, um Bafta), 53 indicações (duas só ao Oscar), bem como ser um dos primeiros da lista de vários diretores. No dia 5 de fevereiro o ator comemora mais um aniversário. Motivo que levou a equipe do Papo de Cinema fazer aquela lista com seus cinco trabalhos mais conhecidos – e mais um que merece destaque. Confira!
Por Matheus Bonez
O filme inglês dirigido por Peter Cattaneo foi a grande sensação independente de 1997. No ano seguinte, foi indicado a quatro Oscar, incluindo Melhor Filme, prêmio que ganhou no Bafta, saindo vencedor de quatro das 12 categorias às quais concorria, incluindo a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante para o nosso homenageado. Tom Wilkinson vive um dos seis desempregados do centro industrial do aço da Inglaterra que se unem para um show de strip-tease e, assim, conseguir algum dinheiro. Todos tem complexos, dúvidas, inseguranças. Se o protagonista, Gaz (Robert Carlyle), acaba sendo centro de tudo, é Gerald (Wilkinson) quem une todos, ainda que ele não tenha coragem de contar à esposa que está sem serviço há seis meses. Por sinal, ele é um dos mais resistentes a tirar toda a roupa, ao mesmo tempo em que incentiva os demais. Incoerente? Talvez, mas na pele do ator, Gerald se transforma em gente como a gente, que não sabe o que fazer em momentos de crise, com pouquíssimas alternativas para seguir. Um olhar totalmente humanizado que poderia virar um simples clichê na pele de outro.
Por Yuri Correa
Primeiro filme do cineasta Todd Field, Entre Quatro Paredes recebeu cinco indicações ao Oscar em 2002, incluindo a Melhor Filme e, claro, Melhor Ator para Tom Wilkinson, o nosso homenageado. Mergulha em um romance dentro da família Fowler que traz como protagonista Frank (Nick Stahl), o jovem filho do respeitado casal Matt e Ruth (Wilkinson e Sissy Spacek), ambos importantes membros da pequena comunidade local. Frank está apaixonado por Natalie (Marisa Tomei), uma mãe quase divorciada que ainda está atrelada a um marido ciumento e inconsequente. Mas antes que essa história possa se concretizar, o longa muda drasticamente de direção nos levando por um mergulho ainda mais profundo na casa do Fowler, desta vez trazendo como protagonistas Matt e Ruth que, a partir daí, parecem carregar o roteiro nas costas como se um jamais houvesse sido escrito. É como se soubessem como os seus personagens teriam de reagir, tamanha a veracidade da dinâmica que os dois apresentam. Spacek e sua amargura são capazes de transformar palavras em socos e pontapés violentos em uma discussão já mais para o final, enquanto Wilkinson, que antes parecia reviver através de seu filho a jovialidade de uma paixão, depois, coerentemente, não consegue mais viver através de coisa alguma, tendo que, em um processo doloroso, prender a viver através de si mesmo.
Por Rodrigo de Oliveira
Batman é conhecido por ter uma das galerias de vilões mais ricas das histórias em quadrinhos. Por isso, quando Batman Begins foi lançado, muitos estranharam o fato de os arqui-inimigos mais famosos não terem aparecido, dando lugar para Ra’s Al Ghul e o Espantalho. Mas outro vilão, ainda menos conhecido, roubou a cena na primeira metade do longa-metragem. Interpretado por Tom Wilkinson, o chefão do crime Carmine Falcone mostrou a um jovem Bruce Wayne a podridão que se apoderava de Gotham. Com ótimas frases de efeito e uma interpretação digna de nota,Wilkinson fez falta nos demais filmes da franquia. Só a cena em que Wayne e Falcone conversam no restaurante, em que o vilão explica ao ricaço as vantagens do poder do medo, já vale a participação do ator no filme. Esta ideia de usar o medo contra seus adversários, inclusive, dá o pontapé inicial para que o “príncipe de Gotham” vista uma roupa de morcego e comece a combater o crime. Infelizmente, o personagem acaba sendo desperdiçado na segunda metade de Batman Begins, virando um peão no jogo do Espantalho vivido por Cillian Murphy.
Por Thomás Boeira
Tom Wilkinson não é o protagonista de Conduta de Risco. Este papel, como todos sabem, ficou a cargo de George Clooney com seu Michael Clayton. No entanto, é seguro dizer que o veterano ator é a alma do filme. Interpretando Arthur Edens, advogado colega de Clayton que tem um surto no meio de uma reunião, passando a ser protegido por ele diante de um caso envolvendo um cliente importante da firma para a qual eles trabalham, Wilkinson é quem faz a maior parte das engrenagens da história andarem, com seu personagem representando uma espécie de bomba para as outras figuras que passam pela tela. Enquanto alguns querem apenas afastá-lo de forma que ele não cause problemas maiores, outros querem simplesmente apagá-lo pelo mesmo motivo. E Wilkinson o encarna brilhantemente, se revelando bastante contido na maior parte do tempo, mas trazendo intensidade para Arthur quando isso é necessário, numa atuação que foi merecidamente agraciada com uma indicação ao Oscar, a segunda de sua carreira.
Por Robledo Milani
Tom Wilkinson já contava em sua filmografia com mais de 60 títulos – majoritariamente trabalhos para a televisão – quando conquistou sua primeira indicação ao Oscar, pelo drama Entre Quatro Paredes (2001). Desde então ele apareceu em mais de uma meia centena de outras produções, se tornando cada vez mais frequente na tela grande. Porém, da mesma forma como é escalado para viver homens fortes e poderosos, raras são as ocasiões que temos de vislumbrar suas habilidades em construir personagens mais frágeis e delicados – porém nunca mesmo masculinos. Uma dessas ocasiões foi nessa divertida comédia dramática sobre a terceira idade indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta como Melhor Filme. Com um verdadeiro dream team de veteranos ingleses, ao seu lado estão os nunca menos geniais Maggie Smith, Judi Dench e Bill Nighy, entre outros. E assim como cada um dos tipos aqui reunidos possuem seus segredos e temores, os defendidos por Wilkinson – indicado ao British Independent Film Awards por sua atuação – talvez sejam os mais emocionantes, pois o conduzem por uma jornada de toda uma vida. Quando finalmente lhe chega o momento de abandonar as mentiras e se assumir como realmente é, o que vemos em cena não é um astro ou um grande nome de Hollywood, mas, antes, um ator na plenitude de sua complexidade e oferecendo o melhor do seu talento.
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Por Marcelo Müller
O Sonho de Cassandra poucas vezes é mencionado como um êxito da fase europeia de Woody Allen. A meu ver, isso é uma injustiça. A trama tem o quê dostoievskiano, sobretudo da obra Crime e Castigo, aliás, fonte da qual o cineasta nova-iorquino já havia bebido algumas vezes. A trama é centrada em dois irmãos, interpretados por Ewan McGregor e Colin Farrell, ávidos para melhorar de vida. Um está atolando em dívidas por conta do vício em jogos; o outro faz mais o estilo sonhador, mas acaba entrando em suas furadas, do mesmo jeito. Contudo, quem rouba a cena nesse filme inglês de Woody Allen é mesmo Tom Wilkinson, na pele do tio milionário dos protagonistas, um cara muito respeitado, inclusive por ajudar financeiramente a família em apuros. Certo dia, em desespero, os irmãos o procuram em busca de algum rumo, de dinheiro, trabalho, o que vier para amenizar a situação. O personagem de Wilkinson aceita auxiliá-los, mas não sem um preço, não sem algo em troca que compense. Então, todo mundo se vê numa jogada arriscada, claro, ilícita, que pode, de fato, mudar a trajetória de todos, sendo não necessariamente a mudança uma coisa boa. Wilkinson confere a austeridade e o cinismo imprescindíveis à caracterização desse coadjuvante que acaba tomando para si boa parte da atenção.