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5+1 :: Vincent Cassel

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Ao completar mais um aniversário neste dia 23 de novembro, Vincent Cassel consolida sua posição como um dos maiores nomes do cinema francês – e com forte destaque também no exterior. Vencedor do César e do Lumiere (os dois mais importantes prêmios do cinema francês), ficou casado durante quase 15 anos com a italiana Monica Bellucci – uma das mulheres mais bonitas do mundo – e, ao mesmo tempo em que é presença constante no cinema feito no seu país de origem, é frequente também vê-lo em produções hollywoodianas de prestígio. Vilão contumaz de blockbusters norte-americanos (Jason Bourne, 2016), já esteve em dramas indicados ao Oscar (Cisne Negro, 2010) e até dublou animações campeãs de bilheteria (Shrek, 2001). Além disso, está cada vez mais próximo dos cineastas brasileiros (já trabalhou com Heitor Dhalia e Fernando Meirelles, e está nos elencos dos próximos filmes de Selton Mello e de Carlos Diegues), sem deixar de aparecer também em produções do Canadá, Itália e Inglaterra, entre tantas outras. E se o longa em dois episódios Inimigo Público N° 1 (ambas lançadas em 2008) parece ter sido o ápice de sua carreira junto à crítica, é bom perceber que sua carreira é tão variada que cabe ainda sucessos de público, obras cultuadas e até contos de fada. Como a seleção que apresentamos a seguir, com cinco momentos marcantes de sua trajetória como protagonista, além de um trabalho como coadjuvante tão impressionante que por pouco não rouba a cena dos personagens principais. Confira!

 

O Ódio (La Haine, 1995)
– por Leonardo Ribeiro
Depois de ter um de seus primeiros papéis na estreia de Mathieu Kassovitz na direção, na comédia romântica Métisse (1993), Vincent Cassel refez a parceria com o diretor neste filme que alçou o nome de ambos ao receber o prêmio de Direção em Cannes. O longa apresenta um retrato do cotidiano das periferias parisienses, acompanhando um dia na vida de três jovens representantes da diversidade étnica e cultural dos bairros pobres da cidade: Vinz (Cassel), judeu, Hubert (Hubert Koundé), negro, e Saïd (Saïd Taghmaoui), de descendência árabe. Após verem um amigo ser baleado durante um confronto com a polícia, o trio vaga pelas ruas da vizinhança cometendo pequenos delitos e divagando sobre seu futuro. Apesar da estilização visual – a belíssima fotografia em preto e branco, a montagem acelerada – Kassovitz busca um registro realista e urgente dos conflitos sociais e raciais recorrentes nas capitais europeias. Para isso, contou com a naturalidade da interação dos protagonistas, tendo em Cassel um catalisador do sentimento de angústia, raiva e desorientação da juventude francesa. Responsável por momentos intensos, como aquele em que imita Robert De Niro em Taxi Driver (1976), o ator entrega uma atuação visceral e explosiva que marcaria sua carreira.

 

Rios Vermelhos (Les rivières pourpres, 2000)
– por Yuri Correa
Típico suspense sobre a investigação de um assassino em série, desses que ficaram bastante populares após Se7en: Os Sete Crimes Capitais (1995), este thriller conta com uma dupla de peso como protagonistas: Jean Reno, como o inevitável detetive carrancudo, e o parceiro mais esquentado, Vincent Cassel. São dois dentre os grandes intérpretes franceses da nossa época, e se Reno é um ator mais sutil que o seu colega, este entrega uma vivacidade marcante em tela, mesmo nas suas menores aparições. Aqui, no entanto, está em pleno domínio do papel, formando uma dupla improvável e feita ao acaso, quando os dois se descobrem envolvidos com o mesmo caso. Invertendo as expectativas geradas pelos seus físicos, Reno assumiu o personagem mais cerebral, enquanto que Cassel explode a cada instante, levando sua força bruta às últimas consequências. O sucesso foi tamanho – mais de US$ 60 milhões arrecadado ao redor do mundo, para um filme que custou US$ 14 milhões – que consolidou a carreira de ambos no exterior. Terceira parceria com o diretor Mathieu Kassovitz, este projeto, baseado no livro de Jean-Christophe Grangé, chegou até a conquistar cinco indicações ao César Awards, ganhando uma continuação em 2004, para a qual apenas Reno voltou.

 

Irreversível (Irréversible, 2002)
– por Victor Hugo Furtado
Tanto assistir quanto atuar neste filme pode ser considerada uma experiência intensa e marcante. Os felizardos que contemplaram a obra na seleção oficial do Festival de Cannes, em 2002, e não se deram por vencidos diante da tensão gerada pelo realizador Gaspar Noé, puderam acompanhar o irracionalmente raivoso Marcus (Cassel), com auxílio do amigo Pierre (Albert Dupontel), em busca de um delinquente perturbado pelo submundo de Paris. A intenção de ambos é se vingarem do ataque sofrido pela namorada do primeiro (Monica Bellucci), que fora estuprada e covardemente agredida numa passagem subterrânea no meio da noite. Narrado de trás pra frente, como já havíamos visto em Amnésia (2000), cada sequência se desenrola e culmina na ação que inicia a passagem anterior. Protagonizando cenas de extrema violência, como ter seu braço quebrado numa briga e quase ser violentado exatamente como irá acontecer com sua amada em seguida, podemos afirmar que esta, se não é a mais famosa ou mais premiada interpretação de Cassel, ao menos pode ser julgada como a mais louca exigência de sua sanidade mental enquanto ator. Pra completar, ele e Bellucci estavam casados um com o outro na vida real na época das filmagens.

 

A Bela e a Fera (La belle et la Bête, 2014)
– por Marina Paulista
Muito mais fiel ao conto original de Gabrielle-Suzanne Barbot do que sua mais conhecida adaptação, a animação da Disney de 1991, o longa do diretor francês Christophe Gans é, talvez, a versão mais visualmente impressionante do clássico conto de fadas. Com uma fantástica direção de arte – apesar de alguns usos desnecessários e exagerados de computação gráfica – o filme traz Vincent Cassel no papel do príncipe transformado em fera, enquanto que a ótima Léa Seydoux aparece como a jovem prisioneira do monstro. Boa parte do trabalho de Cassel aqui é feita quase inteiramente com a voz, já que o ator passa praticamente todo o seu tempo em cena na pele da fera titular, uma figura que jamais deixa o espectador esquecer que está diante de uma animação feita por computadores e parece pouco expressiva. Felizmente, um ator do seu calibre é capaz de transformá-lo num personagem complexo, vulnerável e ameaçador ao mesmo tempo, tanto em sua forma monstruosa quanto nos flashbacks (e no conhecidíssimo desfecho) em que ressurge, enfim, como humano. É uma pena, entretanto, que a obra torne-se refém do conto que adapta, dando destaque exagerado a personagens secundários, quando tem nas mãos as brilhantes interpretações de Cassel e Seydoux.

 

Meu Rei (Mon Roi, 2015)
– por Wallace Andrioli
Vincent Cassel parece estar em sua zona de conforto nesse ótimo filme de Maïwenn, interpretando um sujeito sedutor, bon vivant, extrovertido e bem-sucedido. Mas seu personagem tem uma faceta mais complicada, que acaba por ser o motor da narrativa: Georgio (Cassel) é extremamente controlador e estabelece com a protagonista, Tony (Emanuelle Bercot, que pelo papel ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes), uma relação abusiva, baseada em muita violência psicológica e traições. A diretora, no entanto, ao invés de fazer desse homem um vilão à la Dormindo com o Inimigo (1991), opta por humanizá-lo, por tentar entender como ele enxerga a vida, descobrindo, no percurso, que Georgio de fato acredita amar a esposa e o filho, sem tomar suas ações como prejudiciais aos dois. A atuação intensa de Cassel, que consegue, com imensa competência, fazer o personagem trafegar entre a agressividade e a fragilidade, é fundamental para o êxito dessa empreitada de tornar complexa uma figura que seria, a princípio, absolutamente detestável.

 

+1

 

Senhores do Crime (Eastern Promises, 2007)
– por Matheus Bonez
Entre Anna (Naomi Watts) e Nikolai (Viggo Mortensen) há diversos obstáculos na trama dirigida por David Cronenberg. Não que seja uma história de amor, mas a atração entre os protagonistas toma ainda mais sentido quando percebemos sentimentos ocultos de Kirill (Vincent Cassel), o “príncipe” da máfia russa, pelo homem de confiança de seu pai. A mania de querer estar sempre com o guarda-costas, inclusive na hora de transar com prostitutas, é apenas um dos vários indicativos de sua personalidade. A construção do personagem é minimamente detalhada, mas recheada de camadas obscuras que o roteirista vai descascando ao longo do filme. Poderia ser um mero coadjuvante com apenas um objetivo em cena, mas o nosso homenageado, tão acostumado a ser protagonista, mais uma vez rouba a cena. Especialmente quando ao lado de Mortensen, com quem mantém uma química inegável de atuação. De garoto mimado e explosivo para um fraco que não consegue lidar com a verdade de ser um completo inútil para os negócios da família, Cassel dá um banho em seu personagem, mostrando tudo de bom e ruim que ele pode ter. Não à toa seu nome em destaque nos créditos. Quase um Marlon Brando à francesa.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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