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Theatro Municipal Paulo Gracindo, sede do Paulínia Film Festival

O segundo dia de programação oficial do 6th Paulínia Film Festival foi repleto de atividades – e é preciso ter fôlego para conseguir acompanhar tudo que a organização do evento selecionou, sem muita pena dos participantes. É tanta coisa interessante – o que é muito bom – que, infelizmente, algumas delas acabam ficando de fora do nosso próprio cronograma, por simples falta de tempo – o que é ruim, evidente!

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Abel Ferrara e Jacqueline Bisset

De manhã estava agendado um encontro da imprensa com os convidados estrangeiros da Seleção Internacional, um grupo de seis filmes inéditos que estão sendo exibidos durante a semana aqui em Paulínia, em caráter de première, numa mostra não competitiva em homenagem aos 25 anos da distribuidora Imovision, homenageada especial do evento. Entre as personalidades presentes estavam o diretor Abel Ferrara e a atriz Jacqueline Bisset, do drama Bem-Vindo a Nova York (2014), o ator infantil Mathéo Boisselier, o protagonista de As Férias do Pequeno Nicolau (2014), o diretor Tony Gatlif, de Geronimo (2014), e o cineasta suíço Georges Gachot e o cantor e compositor brasileiro Martinho da Vila, do documentário O Samba (2014).

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Os convidados internacionais Danny Glover (esq) e Michael Madsen (dir)

Ainda pela manhã aconteceram a coletiva de imprensa e debate com o público com a equipe do filme Não Pare na Pista (2014), exibido na noite anterior. O clima foi bastante afetivo, com elogios efusivos e poucas críticas. Lamentou-se, no entanto, a presença do protagonista Julio Andrade, que esteve no festival apresentando o longa na sessão de abertura, mas foi obrigado a voltar correndo ao Rio de Janeiro por conta de gravações na Rede Globo. Outro momento que também chamou atenção foi quando os atores norte-americano Danny Glover e Michael Madsen deixaram as marcas de suas palmas eternizadas na Calçada das Estrelas, mais uma atração do Paulínia Film Festival.

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Debate com a equipe do filme Não Pare na Pista

A programação cinematográfica começou com as atrações do Festivalzinho, filmes voltados para o público infantil. Neste primeiro dia, os títulos em cartaz foram os franceses A Guerra dos Botões (2011), de Yann Samuell, e O Pequeno Nicolau (2010), de Laurent Tirard. Duas escolhas seguras, porém lançadas há tanto tempo que é de se questionar o porquê desse resgate. Depois, como parece se tornar um hábito por aqui, à tarde aconteceram novos atrasos. Previsto para às 16h, o primeiro curta-metragem da mostra competitiva teve o início de sua projeção postergado em quase 40 minutos. Mas Jessy (2013), de Paula Lice, Rodrigo Luna e Ronei Jorge, é tão bom que o público logo esqueceu o descaso dos organizadores e aplaudiu com entusiasmo a história da moça que decide se passar por drag queen em um concurso de dublagem em uma boate, treinando antes com um grupo de drags profissionais, que a ‘montam’ com cuidado e muita diversão. O segundo curta do dia, no entanto, não foi tão feliz. A animação O Menino que Sabia Voar (2013), de Douglas Alves Ferreira, beira o amadorismo em sua técnica, além de ter uma história – sobre uma criança doente que tem visões do pós-vida, em uma experiência de quase morte – muito ingênua e linear.

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Murilo Salles, diretor de Aprendi a Jogar com Você

O dia continuou com a exibição de nada menos do que quatro longas-metragens: os documentários Aprendi a Jogar com Você (2014), de Murilo Salles, O Samba (2014), de Georges Gachot, e Neblina (2014), de Daniel Pátaro e Fernanda Machado, além da ficção Sinfonia da Necrópole (2014), de Juliana Rojas. Os três primeiros decepcionaram em diferentes medidas, enquanto que o último foi uma boa e grata surpresa.

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Martinho da Vila

Aprendi a Jogar com Você é assinado por um dos mais importantes realizadores nacionais. Murilo Salles, no entanto, apresenta um filme desconstruído, sobre um casal de artistas de subúrbio – ele dj, ela cantora – que tentam levar a vida contra as adversidades do caminho. O retrato é pobre, porém tem seus momentos. O Samba, por outro lado, também tem foco musical, mas com um olhar internacional, completando a trilogia do suíço Georges Gachot sobre a música popular brasileira. Após os filmes que fez por Maria Bethânia (Música é Perfume, 2005) e Nana Caymmi (Rio Sonata, 2010), ele se volta para o cantor e compositor Martinho da Vila e sua paixão maior, a escola de samba Unidos da Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Com um título tão abrangente, poderia se esperar algo educativo e instrutivo, mas o resultado é mais poético e livre do que se o previsto. Por fim, Neblina é a única produção de Paulínia e constar na mostra competitiva principal, e essa parece ser a única justificativa para a sua inclusão. Didático, aborrecido e tedioso, é repleto de imagens de arquivo de domínio público e uma narração cansativa para falar de uma estação ferroviária no interior de São Paulo que outrora teve sua importância, mas hoje encontra-se abandonada. O mesmo destino que este filme merece, aliás.

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Equipe do filme Sinfonia da Necrópole

O melhor momento do dia foi a exibição de Sinfonia da Necrópole, que se apresenta como um ‘musical no cemitério’. Por mais que essa expressão pareça ser alegórica, é exatamente isso que a diretora Juliana Rojas entrega: o cotidiano de um grupo de coveiros obrigados a lidar com uma funcionaria do sistema carcerário que precisa rearranjar corpos abandonados para abrir novos espaços para mortos futuros – tudo isso envolto por canções bem humoradas que, como não poderiam deixar de ser, esbanjam bom humor e sarcasmo. O filme, que foi selecionado também para o Festival de Gramado – que acontece no próximo mês – já desponta como um dos favoritos aqui em Paulínia. E que boas surpresas como essa apareçam nos próximos dias é o que torcemos!

(O Papo de Cinema é um veículo convidado oficial do 6th Paulínia Film Festival)

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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