A grande dama do cinema, teatro e televisão nacional foi a estrela maior do quinto – e penúltimo – dia de programação oficial do 6th Paulínia Film Festival, aqui no interior de São Paulo. Fernanda Montenegro esteve presente acompanhando a exibição do longa inédito Infância (2014), de Domingos Oliveira. Da mesma produção, também passou por aqui no início da semana o ator Paulo Betti, que precisou ir embora antes da projeção devido aos seus compromissos com a Rede Globo. Mas ‘Fernandona’, como é carinhosamente chamada pelos colegas, foi mais do que absoluta, roubando a cena até mesmo da jovem Deborah Secco, que dois dias antes havia recebido uma ovação intensa. Quando foi chamada ao palco pela apresentadora Marcia Cabrita, Montenegro foi recebida com muitos aplausos de uma plateia completamente lotada, que se levantou especialmente para saudá-la. Um dos momentos mais emocionantes da semana.
Infelizmente, essa mesma expectativa não se confirmou durante a exibição do filme, que se mostrou ser um dos mais irrelevantes de toda a programação oficial. Curiosamente, o crítico de cinema e apresentador Rubens Ewald Filho justificou a presença de Infância aqui em Paulínia e também em Gramado, daqui a um mês, pelo fato da suposta qualidade artística da obra. Rubens, não por acaso, é curador de ambos os festivais, e o fato dele ter escolhido dois filmes – além desse, também Sinfonia da Necrópole (2014), de Juliana Rojas, será apresentado na serra gaúcha – para ambos os eventos, causou uma impressão estranha. Afinal, faltam títulos inéditos no país? Ou esses dois são muito melhores – na opinião dele – que os demais exibidos aqui em Paulínia, tanto que merecem irem também para outro festival? Parece um pouco injusto com os demais concorrentes.
Assim como os mais recentes trabalhos de Domingos Oliveira, Infância apresenta mais do mesmo, partindo de reminiscências pessoais do diretor e roteirista para recriar um dia do seu tempo de criança, com a família reunida na casa da avó Dona Mocinha, papel que Fernanda Montenegro desempenha sem maiores dificuldades. A atriz esteve presente aqui em Paulínia também no elenco de Boa Sorte, de Carolina Jabor, e ainda que neste sua participação seja de mera coadjuvante, o personagem que desempenha parece ter sido mais desafiador e à altura do seu talento do que o da matriarca imaginada por Oliveira.
A fraca percepção deste drama familiar se intensificou ainda mais por ele ter sido exibido logo após ao denso A História da Eternidade (2014), de Camilo Cavalcante, provavelmente o melhor de todos os longas selecionados para a mostra competitiva deste ano. Tendo como foco três núcleos familiares em uma vila abandonada no sertão nordestino, o diretor é hábil em criar imagens fortes e relevantes, que vão de metáforas bíblicas à temas contemporâneos, além de ter reunido um elenco em estado de graça liderado pelos ótimos Irandhir Santos, Claudio Jaborandy e Marcelia Cartaxo. Esse filme chegou desacreditado em Paulínia, tendo sido escolhido em segunda chamada para tapar o buraco deixado por Cassiá, documentário de Paulo Henrique Fontenelle que havia sido selecionado previamente, mas não foi finalizado há tempo de ter sua participação confirmada. E pra quem surgiu como ovelha negra, levar o troféu principal não parece mais ser uma missão impossível. Um resultado que seria não apenas justo, mas mais do que merecido!
(O Papo de Cinema é um veículo credenciado oficial do 6th Paulínia Film Festival)