O 6th Paulínia Film Festival chegou ao seu último dia de programação oficial com muito cinema e estrelas, uma combinação que aponta com exatidão as diretrizes do evento: celebridades, nomes de destaque e filmes de qualidade. A cerimônia de premiação, marcada para o início da noite, começou como atraso – o que, percebe-se, é praxe por aqui, afinal nenhum dos horários previstos foram respeitados durante a semana. Caio Blat e Tainá Müller garantiram os holofotes ao apresentarem a premiação, assim como a homenagem especial a Carlos Diegues foi emocionante na medida certa. Mas antes e depois três longas-metragens foram exibidos, garantindo atrações diferenciadas para o público convidado e da cidade – todas as sessões são gratuitas, o que é uma iniciativa louvável e que merecia ser reproduzida em outros eventos similares pelo país.
O primeiro filme do dia foi o drama A Imigrante, de James Gray. Apesar do título original ser The Immigrant, e de ter sido exibido no Festival do Rio 2013 como O Imigrante (o gênero da protagonista só foi ser percebido depois), a distribuidora já anunciou que este longa chegará aos cinemas nas próximas semanas rebatizado como Era Uma Vez em Nova York (?). Bom, a despeito da confusão do batismo nacional, é uma obra de época densa e muito bem interpretada pelo trio de protagonistas: Marion Cottilard, Joaquin Phoenix e Jeremy Renner. É um trabalho que merece ser visto na tela grande, graças à riqueza de detalhes que apresenta e à forte história que defende sobre uma garota sozinha que precisa se defender na América na virada do século passado.
Depois foi a vez de O Casamento de May – que já foi chamado de May e o Verão quando anunciado pela primeira vez, até por se aproximar mais do título original. Apesar de se passar na Jordânia e discutir a questão da Palestina entre seus temas principais, nada mais é do que uma comédia romântica descartável e passageira, bem aos moldes de inúmeras outras produzidas regularmente em Hollywood. Passatempo menor e sem consequências, feito para agradar um público pouco interessado em algo de conteúdo mais relevante.
Por fim, o filme de encerramento do 6th Paulínia Film Festival foi o forte Bem-Vindo a Nova York, de Abel Ferrara. O diretor esteve na abertura do festival acompanhado da atriz Jacqueline Bisset, que faz a esposa do protagonista interpretado por Gerard Depardieu. Baseado em fatos reais, é inspirado no escândalo que envolveu Dominique Strauss-Kahn, político francês que foi acusado de estupro por uma camareira nos EUA e viu sua carreira – e as chances de se tornar presidente da França – irem pelo ralo. Depardieu e Bisset estão ótimos, apesar da direção pesar a mão em alguns momentos, causando desconforto na plateia. E isso que a versão exibida por aqui foi a com cortes, feita para projeções internacionais!
Entre um filme e outro, aconteceu a esperada cerimônia de premiação do 6th Paulínia Film Festival. Motivos de comemoração: a consagração de A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante, que levou todos os principais prêmios da noite – Filme, Direção, Ator e Atriz – além do da Crítica. Merecia ainda o de Roteiro, Fotografia e Montagem, mas alguns poderiam interpretar como exagero. É um filme muito sensível, que toca pelas simbologia das imagens e pela temática universal que carrega, fazendo de uma vila esquecida no sertão nordestino um retrato das condições humanas. O resultado é de deixar qualquer um com o coração na mão.
Nas categorias de atuação, no entanto, alguns equívocos foram cometidos. Irandhir Santos está ótimo, porém sua participação é menor, e tanto Daniel de Oliveira (Sangue Azul) quanto João Carlos Castanha (Castanha) eram mais merecedores desse reconhecimento. Mas Irandhir possui um caso de amor com o festival difícil de ser superado – em seis edições, sendo cinco competitivas, ele levou com esse o seu terceiro troféu de Melhor Ator, feito alcançado antes com os filmes Olhos Azuis (2009) e Febre do Rato (2011). Já o prêmio de Melhor Atriz, oferecido pela trinca feminina Marcélia Cartaxo, Zezita Matos e Debora Ingrid, foi justo, porém trilhou o caminho seguro da divisão. Mais ousado – e não menos merecido – teria sido reconhecer o esforço e a qualidade do desempenho de Deborah Secco em Boa Sorte. Assim como entre os Coadjuvantes, talvez Fernanda Montenegro (Boa Sorte) e Sandra Corveloni (Sangue Azul) teriam sido boas apostas entre as mulheres, ao mesmo tempo em que Milhem Cortaz (Sangue Azul) e Claudio Jaborandy (A História da Eternidade) também seriam merecedores desse prêmio. Nada que desmereça, no entanto, as vitórias da novata Clarissa Pinheiro e do veterano Marcello Novaes, ambos por Casa Grande.
Houve uma divisão muito equilibrada de prêmios em praticamente todos os filmes concorrentes, indicando com precisão a uniformidade da seleção. Ficaram de mãos abanando apenas os dois longas que realmente destoavam, os irregulares Neblina, um documentário, e Infância, uma comédia dramática familiar sem maiores atrativos. O primeiro parece um trabalho de faculdade, enquanto que o segundo se apoia nos nomes conhecidos do elenco para atrair uma atenção que não encontra justificativa em cena. Já títulos como Castanha, Sangue Azul, Boa Sorte e Sinfonia da Necrópole poderiam ter sido mais abraçados pelo júri. Casa Grande, de Fellipe Barbosa, foi a boa surpresa do ano, e os quatro troféus conquistados apostam com efeito suas maiores qualidades: o bom texto e a coesão de seu elenco.
O 6th Paulínia Film Festival foi muito melhor do que se poderia esperar. Depois de ter sido cancelado em 2012 e ter sido feito às pressas em 2013 – mais uma mostra, apenas para constar, pois não havia caráter competitivo entre os selecionados – neste ano o festival reconquistou com o peso de seus participantes sua posição como um dos mais importantes eventos do gênero em todo o país. É de se constatar que esta é uma iniciativa de caráter ainda muito político, e este parece, mesmo, ser seu único porém. Quando conseguir se tornar independente da administração municipal e se firmar como uma conquista da cidade de Paulínia, tem todos os elementos e as condições favoráveis para crescer em respeito e relevância. E que venham anos ainda melhores!
(O Papo de Cinema é um veículo credenciado oficial do 6th Paulínia Film Festival)
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