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A Última Juventude

Publicado por
Robledo Milani

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Este ano foram mais de 40 filmes inscritos para a seleção competitiva nacional, aqui em Gramado. Mas não foi nenhuma surpresa, apesar da forte concorrência, vermos Domingos Oliveira mais uma vez entre os selecionados. E após anos trabalhando com a temática feminina, Domingos retorna às telas com uma obra notoriamente masculina: Juventude, que mostra o reencontro de três amigos de infância, agora já na faixa dos 70 anos, durante um final de semana na casa de campo de um deles. Durante estes dois dias de convivência eles relembram fatos marcantes de suas histórias, trazem à tona amarguras e remorsos e celebram os sentimentos em comum que os uniram. Uma pequena pérola.

Juventude (acima) é o quarto filme escrito e dirigido por Domingos Oliveira a concorrer aqui em Gramado. E em todas as três edições anteriores ele saiu premiado. Amores (1998) ganhou 3 kikitos: Prêmio Especial do Júri, Melhor Filme segundo a Crítica e Melhor Filme segundo o Júri Popular. Separações (2002) premiou suas mulheres: Melhor Atriz, para Priscilla Rozenbaum, e Melhor Atriz Coadjuvante, para Suzana Saldanha. E Carreiras (2005), com o qual Priscilla bisou seu prêmio de Melhor Atriz. Neste meio tempo ele fez apenas um filme que escapou da competição serrana, Feminices (2004), que poderia ser considerado o oposto deste Juventude, já que eram apenas mulheres como protagonistas. Não sei como o júri oficial irá reagir a esta visão masculina atual, mas pelo que vimos na noite de quinta-feira, quando o filme foi aplaudido de pé – o único até o momento – provocando lágrimas em Domingos Oliveira e em Paulo José (os dois presentes), podemos afirmar que este é, desde já, um dos favoritos nas principais categorias. Inclusive, não será surpresa nenhuma se resolverem entregar um prêmio triplo de Melhor Ator, para Domingos, Paulo e Aderbal Freire Filho. Nada mais justo, afinal.

A quinta noite do 36º Festival de Cinema de Gramado foi marcada também pela exibição do sonolento Cochochi, do México. Dirigido por Israel Cardenas e Laura Guzman, o filme mostra, em inacreditáveis e intermináveis 87 minutos, dois irmãos indígenas atravessando sozinhos e à cavalo a Serra Tarahumara para fazer uma entrega à pedido do avô. Durante o trajeto eles acabam se perdendo, tornando a viagem ainda mais extensa do que o imaginado. Mas longa mesmo teve que ser a paciência da platéia, que contava os segundos para o término da projeção.

Entre os dois filmes, um momento muito aguardado: a entrega dos kikitos aos melhores da Mostra Gaúcha de Curtas-Metragens. Um Dia Como Hoje (acima), um interessante Road movie dirigido por Eduardo Wannmacher, levou os principais prêmios: Melhor Filme, Atriz (Carolina Sudati), Ator (Júlio Andrade), Montagem (Fabio Lobanowsky) e Roteiro (Eduardo Wannmacher). Os irmãos Diego e Paulo Müller foram premiados pelo curta Cortejo Negro: Direção (Diego) e Produção (Pablo), além do prêmio de Melhor Fotografia (Fernando Vanelli). O único curta gaúcho que disputou também a mostra nacional, Subsolo, de Jaime Lerner, ganhou apenas na categoria de Melhor Música (Fausto Prado). Outros premiados foram Cristiano Scherer, pela Edição de Som, por Rosário dos Navegantes, e Rita Faustini, pela Direção de Arte de Sete Trouxas. Parabéns!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.