Passada a ressaca cinematográfica pós-Festival do Rio, com um saldo de 57 filmes vistos em duas semanas, permanece a impressão de uma mostra eclética composta por pequenas grandes obras, salvas algumas exceções de excelentes ou péssimos longas. De 26 de setembro a 11 de outubro, com mais uma semana para novas sessões de alguns títulos, pude participar da maratona cinéfila que torna a Cidade Maravilhosa ainda mais interessante e me frustrar pela homérica tarefa de selecionar uma pequena amostra dentre os 427 filmes exibidos no festival.
Um dos principais destaques da 14ª do Festival do Rio, alardeado pelos seus cinéfilos e diversas mídias, foram os incontáveis problemas de projeção. Sessões interrompidas ou canceladas e filmes sem áudio, legenda ou formato adequado deixaram espectadores irados em inúmeras sessões. Uma das situações mais embaraçosas ocorreu com o filme Elena (2011), delicado drama russo de Andrey Zvyagintsev que, interrompido em seus minutos finais de projeção, teve seu desfecho revelado pela funcionária da sala exibidora para os interessados. Enquanto terminava a história, o filme voltou a ser exibido e os espectadores retomaram a sessão – já cientes do que ocorreria a seguir. Segundo Ilda Santiago, diretora-executiva do festival, os constantes problemas evidenciam a dificuldade em se trabalhar com diferentes formatos de exibição. Nesta edição, os filmes foram exibidos em 35mm ou em DCP (sigla para Digital Cinema Package), formato que apresenta a mesma qualidade da película mas que dificultou algumas projeções.
Com ou sem dificuldades técnicas, a seleção para a edição de 2012 do Festival do Rio trouxe ao país filmes muito esperados. César Deve Morrer (2012), dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, Moonrise Kingdom (2012), de Wes Anderson, e Grandes Expectativas (2012), de Mike Newell, foram os títulos mais vistos, seguidos por outros que em breve ganharão distribuição nacional: Pietà (2012), de Kim Ki-Duk, Elefante Branco (2012), de Pablo Trapero, e Holy Motors (2012), de Leos Carax – que participou da Première de seu filme ao lado da popstar Kylie Minogue. Entre minhas melhores sessões, destaco o emocional documentário de Sarah Polley, Histórias Que Contamos (2012), o drama mexicano Depois de Lúcia (2012), de Michel Franco, vencedor da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, e o surpreendente O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho – premiado como Melhor Longa de Ficção e Melhor Roteiro entre os selecionados para a mostra Première Brasil.
Além de boas sessões com filmes esperados, descobrir um ótimo filme a partir de uma sessão da qual não se espera nada tem um sabor especial. Foi assim com o canadense Tudo o que você possui (2012), de Bernard Émond, que tive o prazer de assistir novamente na repescagem do festival. Delicado e contundente, o drama trabalha com temas já muito explorados no gênero de uma maneira bastante singular. Outra grata surpresa foi Cor da Pele: Mel (2012), misto de animação e documentário de Laurent Boileau e Jung, este último que relata suas próprias lembranças de uma infância conturbada como um sul-coreano adotado por um casal belga. Beasts of the Southern Wild (2012), indie de Benh Zeitlin que ganhou o título comercial de Indomável Sonhadora no mercado nacional, Dentro de Casa (2012), de François Ozon, e o documentário West of Memphis (2012), de Amy Berg, foram outros pontos altos da programação desta edição do Festival do Rio.
A sensação mais perene depois de uma imersão cinematográfica como esta, mesmo com todo o cansaço e algumas frustrações, é a ansiedade para participar de uma nova programação com tantos filmes e pela oportunidade rara de se assistir a uma média de 5 a 6 filmes por dia – trabalho dos sonhos para qualquer cinéfilo.
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