Como cheguei aqui na Cidade de Goiás na quinta-feira, final da tarde, e morto de sono, fui direto dormir e só pude começar a me envolver nas atividades do FICA a partir da sexta-feira. Depois de um belo almoço no Restaurante Flor de Ipê (um dos melhores da cidade), de uma passada pelo centro de imprensa, de visitar o centro histórico (sobre o Museu Casa de Cora Coralina comento depois) e entrar em várias lojinhas de artesanato, finalmente resolvi me concentrar e ir ao cinema. Afinal, estou aqui para isso, não?
As mostras competitivas foram apresentadas em dois horários diários (14h30 – 17h30 e 18h-21h), de terça à sexta. Assim, me restou apenas esta última oportunidade de conferir os trabalhos na competição oficial. E os títulos que pude assistir, infelizmente, não me entusiasmaram.
O primeiro a ser apresentado foi Sumidouro (2008, BRA), de Cris Azzi, documentário em vídeo digital de 71′ sobre o processo de migração de duas comunidades que desapareceram após a construção da Usina Hidrelétrica de Irapé, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Além de longo e pouco original, a abordagem do tema é bastante pretensiosa e convencional.
Depois veio Caça ao Vulcão (2008, ITA/FRA), de Tullio Bernabei, documentário em vídeo digital de 52′ sobre uma expedição no Mar Mediterrâneo, ao largo da costa da Sicília, que buscava comprovar a existência de um provável vulcão submarino e acaba descobrindo uma gigantesca seqüência com mais de 100 vulcões ainda ativos no fundo do mar. O tema é ótimo e desperta interesse, mas a forma como é levado à tela não é das melhores. Além de sensacionalista, com uma trilha exagerada e uma locução um tanto equivocada, no final acaba desperdiçando o bom material numa falta de maiores conclusões. Uma lástima.
O terceiro era um representante de Goiás: Subpapéis (2008, BRA), de Luiz Eduardo Jorge, documentário em vídeo digital de 18′. Premiado como Melhor Roteiro no Festcine 2007, que acontece em Goiânia, é “um mergulho nas profundezas da reciclagem do lixo urbano“. Interessante, porém pouco inovador. Apesar de levantar algumas questões curiosas, não desenvolve a contento nenhuma delas.
O penúltimo competidor foi Monkey Joy (2008, HOL/BRA), de Amir Admoni, animação em vídeo digital de 8′ co-produzida entre a Holanda e o Brasil. A história é bizarra e nonsense, e por isso mesmo divertida. Em Amsterdã, um novo produto – o Monkey Joy – vira coqueluche (trata-se de um macaco em forma de Buda que dá umas risadinhas histriônicas, e a cada nova risada cresce um pouco, até ficar gigantesco e inconveniente). É uma óbvia crítica à sociedade de consumo, combinada com a paranoia da política anti-imigração européia. Um dos animadores, o paulista Fons Schiedon, veio no mesmo vôo que eu para Goiás, e pudemos conversar. É um cara novo e muito animado com a possibilidade de participar do seu primeiro festival de cinema. Tomara que o filme dele, que apesar de bem-humorado é um pouco ingênuo, se saia bem na premiação.
O último a ser apresentado foi o meu favorito: Pajerama (2008, BRA), de Leonardo Cadaval, animação digital em 35mm de 9′. Segundo o material do festival, é “uma fantasia sobre a perplexidade de um índio diante da invasão da floresta pelo mundo urbano, mas estas mesmas experiências estranhas vão lhe revelando mistérios de tempo e espaço“. Confesso que isso não ajuda muito, mas o resultado é melhor do que o esperado. Começa com uma citação de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e termina como um verdadeiro pesadelo eco-urbano. Muito interessante.
Apesar do FICA terminar somente no domingo, o anúncio dos vencedores já acontece no sábado pela manhã. Isso dá tempo para a exibição dos longas convidados no sábado à tarde (pretendo assistir Chega de Saudade, 2007, de Laís Bodanzky, e Quilombo, 1986, do Cacá Diegues) e de preparar as exibições dos Vencedores do 10º FICA, no domingo pela manhã e pela tarde. Assim, ao menos os melhores tenho certeza que assistirei!
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