Ao contrário da grande maioria das 24 categorias do Oscar, a de Melhor Filme em Língua Estrangeira (esse é seu nome oficial) pertence a um subcomitê, com suas regras próprias e bastante específicas. Para se ter uma ideia, existem dois grupos separados de votantes – selecionados dentre os mais de cinco mil membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood – que escolhem seus favoritos, cada um chegando a um total de 3 títulos. Depois, um terceiro comitê se reúne para analisar as 6 opções levantadas e indicar mais três finalistas, com o objetivo de “salvar” aqueles que eventualmente tenham ficado de fora mas que fizeram boas campanhas, com repercussões positivas em seus países e premiações significativas em festivais de renome.

Portanto, foi através desta logística que, dos 83 filmes inscritos neste ano, chegou-se aos 9 pré-selecionados. De acordo com suas origens, o melhor histórico é a Rússia (13 indicações, 4 vitórias), seguido de perto pela Suécia (14 indicações, 3 vitórias) e Holanda (7 indicações, 3 vitórias). Depois temos a Argentina (6 indicações, 2 vitórias) e a Geórgia (1 indicação). Caso fiquem entre os finalistas, Venezuela e Estônia estarão concorrendo pela primeira vez, da mesma forma que a Mauritânia – que, aliás, tem aqui seu primeiro candidato de todos os tempos.

Leviatã, da Rússia, é o franco favorito. Premiado no Festival de Cannes (Melhor Roteiro), está também entre os indicados ao Globo de Ouro. O mesmo pode ser dito a respeito de Ida, da Polônia, um dos únicos já exibidos comercialmente nos Estados Unidos e com recepção calorosa do público e da crítica. Concorrem ainda nesta categoria no Globo de Ouro o sueco Força Maior e Tangerines, da Estônia. O argentino Relatos Selvagens, após ter sido muito aplaudido em Cannes, ganhou força ao ser eleito o Melhor Estrangeiro do ano pelo National Board of Review. Libertador, da Venezuela, pode ganhar força por ter como protagonista um astro conhecido (Edgar Ramírez), mas quem viu o título venezuelano que acabou preterido – o sensível Pelo Malo – pode acabar ressentido por esta escolha mais óbvia. Paula van der Oest, diretora de Lucia de B., é a única dentre todos os realizadores que já foi indicado anteriormente ao Oscar – por Zus & Zo (2001). E ainda que pouco vistos e comentados, tanto Timbuktu, da Mauritânia, quanto A Ilha dos Milharais, da Geórgia, podem surpreender – afinal, já foram considerados melhores do que outros concorrentes muito mais aplaudidos internacionalmente.

Por fim, ressalta-se a sentida ausência do brasileiro Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, premiado no Festival de Berlim e em mais de uma dezena de festivais ao redor do mundo. Soma-se a isso a completa ignorada que os votantes deram a todos os títulos de temática homossexual – nunca houve tantos candidatos concorrendo nessa categoria que compartilhassem do mesmo tema. Ao lado do nosso representante estavam o francês Saint Laurent (exibido há pouco por aqui), o português E Agora? Lembra-me (um documentário emocionante), o suíço O Círculo (também premiado em Berlim) e o finlandês Concrete Night. Isso sem falar do canadense Mommy (cujo enredo não é gay, mas seu diretor, Xavier Dolan, é assumidíssimo). Maior absurdo do que o fato deste ter ficado de fora somente o esquecimento de Dois Dias, Uma Noite, dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, estrelado pela oscarizada Marion Cotillard e um dos filmes mais bonitos e tocantes deste ano. Uma lástima!

 

CERTEZAS ABSOLUTAS:

  • Leviatã, de Andrey Zvyagintsev (Rússia)
  • Ida, de Pawel Pawlokowski (Polônia)

 

QUASE CERTEZAS:

 

UMA VAGA, TRÊS OPÇÕES:

  • Libertador, de Alberto Arvelo (Venezuela)
  • Lucia de B., de Paula van der Oest (Holanda)
  • Tangerines, de Zaza Urushadze (Estônia)

 

AZARÕES:

  • A Ilha dos Milharais, de George Ovashvili (Geórgia)
  • Timbuktu, de Abderrahmane Sissako (Mauritânia)

 

MERECIAM, MAS JÁ ESTÃO DE FORA:

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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