Há muitos anos não presenciávamos uma corrida ao principal prêmio do ano – o Oscar de Melhor Filme – tão acirrada e indecisa. Em 2015 simplesmente – ao menos até agora – não há um franco favorito, aquele em que todos apostam suas fichas sem reservas. Nosso trabalho aqui, no entanto, não é apontar quem irá ganhar – isso a gente deixa pra fazer um pouco mais pra frente – mas, sim, destacar quem tem mais chances de conseguir uma das vagas entre as indicações que serão anunciadas no dia 15 de janeiro (menos de duas semanas, portanto!). E como existe a possibilidade de até 10 finalistas – algo que aconteceu apenas em 2010 e em 2011, sendo que em 2012, 2013 e em 2014 somente nove títulos foram lembrados – vamos trabalhar nesta quantidade máxima, porém conscientes que podem ser menos concorrentes.
Dois filmes parecem estar monopolizando com mais força as atenções neste início de temporada: Boyhood: Da Infância a Juventude, de Richard Linklater, e Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), de Alejandro González Iñarritú. Ambos começaram suas carreiras em festivais de prestígio – Linklater foi premiado como Melhor Diretor em Berlim, enquanto que Birdman saiu de Veneza com algumas menções especiais – e agora tem sido indicados a tudo (Spirit, SAG, Globo de Ouro, Broadcast). Boyhood, no entanto, já conta a seu favor com os prêmios dos críticos de Boston, Chicago, Detroit, São Francisco, Washington, Los Angeles e Nova York, enquanto que o filme de Iñarritú, além de concorrer no Globo como Comédia (o que geralmente é uma desvantagem), foi premiado somente pelos críticos de Dallas-Fort Worth, Florida, Las Vegas, Phoenix e Kansas. Ambos, no entanto, podem ser considerados independentes demais, o que abriria espaço para outros com maior alcance de público.
É neste vão em que se encaixam os menos gabaritados, porém igualmente aplaudidos, O Jogo da Imitação, de Morten Tyldum, A Teoria de Tudo, de James Marsh, e Selma, de Ava DuVernay. Em comum, os três são inspirados em histórias reais, foram indicados a tudo e não ganharam nada de relevante até agora. Para completar, foram todos recebidos com entusiasmo pela crítica, o que os tornam competidores virtualmente oficiais. Dessa forma, temos cinco títulos praticamente confirmados. Faltam, portanto, mais cinco – ou quatro, se prevalecer a lógica dos últimos anos. E é aqui que as coisas começam a ficar um pouco confusas.
O melhor filme do ano pelo National Board of Review foi o drama criminal O Ano Mais Violento, de J.C. Chandor – que, no entanto, só foi indicado pelos críticos de Phoenix, Indiana e Houston, sem constar nas listas de nenhum outro prêmio importante. Clint Eastwood é um eterno favorito da Academia de Hollywood, porém seu Sniper Americano só conseguiu marcar presença como um dos melhores filmes de ação do Broadcast, ficando ausente de todas as demais premiações. O Abutre, ainda que tenha sido indicado ao Broadcast e premiado pelos críticos de San Diego, tem mais força na atuação de Jake Gyllenhaal como protagonista. Já Invencível, de Angelina Jolie, chamava mais atenção antes de sua estreia pelas expectativas criadas – e que não se confirmaram após o filme ter sido visto. E ainda que tenha algumas das piores críticas de todo esse grupo, está entre os finalistas do Broadcast.
Se estes quatro são dúvidas, outras apostas parecem mais certeiras. David Fincher fez bonito com o thriller Garota Exemplar, que mesmo sem a indicação ao Globo, não pode ser considerado carta fora do baralho. O mesmo pode ser dito de Whiplash: Em Busca da Perfeição, de Damien Chazelle, que ainda que tenha ficado ausente das premiações maiores, foi lembrado por quase todas as associações de críticos – e concorre ao Spirit e ao Broadcast. Caminhos da Floresta é o musical do momento, devendo ocupar a vaga que foi de Os Miseráveis (2012) há dois anos, além de ter sido dirigido por Rob Marshall, o mesmo do oscarizado Chicago (2002). Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo, premiado no Festival de Cannes como Melhor Direção para Bennett Miller – o mesmo de Capote (indicado em 2005) e O Homem que Mudou o Jogo (indicado em 2011) – ganhou força ao ser lembrado no Globo de Ouro, e só o histórico do diretor deve também contar muitos pontos. Por fim, temos a boa surpresa O Grande Hotel Budapeste, lançado no início do ano, premiado no Festival de Berlim e indicado ao Globo, ao SAG, ao Broadcast e a quase todas as premiações das associações de críticos regionais dos Estados Unidos.
De qualquer forma, dez é ainda um número muito limitado para apontar os melhores filmes de um ano que contou com mais de 500 lançamentos – uma média em torno de 10 títulos por semana! Dessa forma, não devem encontrar espaço entre os finalistas obras elogiadas, como o inglês Pride, premiado em Cannes e indicado ao Globo de Ouro, o carismático O Amor é Estranho, indicado ao Spirit e ao Satellite, o inesperado Vício Inerente, lembrado pelos críticos de Houston, Austin, Toronto e pelo National Board of Review, ou o controverso Interestelar, que deve figurar apenas nas categorias técnicas. Resta a dica para conferi-los nas telas! E que vença o melhor!
CERTEZAS ABSOLUTAS:
QUASE CERTEZAS:
COM CHANCES:
AZARÕES:
MERECIAM, MAS NÃO VÃO LEVAR:
As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo. é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.