Ao contrário do Globo de Ouro, o Oscar tem por prática dividir a premiação de Roteiro – ou seja, a melhor história, a melhor trama – em duas categorias: Adaptado e Original. Se a segunda é um tanto óbvia – ou seja, basta que o enredo tenha sido criado especialmente para a realização do filme – a primeira abre espaço para múltiplas interpretações. A mais simples é quando é baseada em um livro, talvez a fonte mais comum de inspirações em Hollywood. Mas há outras bases, como personagens de histórias em quadrinhos, programas de televisão, reportagens jornalísticas, peças de teatrais e muito mais. É por isso que filmes como Spotlight: Segredos Revelados parecem ficar perdidos numa zona cinza – apesar de ser baseado em fatos reais (ou seja, foi adaptado para o cinema a partir de outra fonte), está sendo divulgado como um Roteiro Original pelo simples fato de não ter passado antes por outro meio ficcional – ou seja, da realidade foi direto para a tela grande.
O contrário do que aconteceu com A Grande Aposta, também inspirado em um episódio verídico, porém transformado primeiro em livro (pelo autor Michael Lewis). O thriller econômico tem um ritmo envolvente, elenco repleto de astros e muito bom humor, um equilíbrio difícil de ser atingido que aqui é alcançado com perfeição. Outro trabalho de impacto é o drama O Quarto de Jack, adaptado para às telas pela mesma autora do livro original, Emma Donoghe – e, por sua vez, também inspirado em fatos reais. Para completar essa trinca de presenças praticamente confirmadas, temos Aaron Sorkin – oscarizado por A Rede Social (2010) – que partiu do livro de Walter Isaacson para narrar a versão definitiva da vida do criador da Apple em Steve Jobs, uma cinebiografia que tem recebido críticas entusiasmadas, ao contrário da versão anterior, Jobs (2013) – que, inclusive, teve seu protagonista, Ashton Kutcher, indicado às Framboesas de Ouro como Pior Ator do ano.
Na disputa pelas duas últimas vagas temos três títulos muito bem cotados. Primeiro, vem a aventura espacial Perdido em Marte, baseada no livro de Andy Weir e que arrecadou quase US$ 600 milhões nas bilheterias de todo o mundo – resultado mais do que considerável! Essa grande popularidade encontrará pela frente o delicado romance lésbico Carol, baseado no romance de Patricia Highsmith e sensação no Festival de Cannes do último ano. Por fim, Nick Hornby (indicado ao Oscar por Educação, 2009) adaptou o romance Brooklyn, de Colm Tóibín, e tem marcado presença em diversas premiações da crítica especializada tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra. Estes três títulos possuem grandes chances de também concorrerem na categoria principal, o que pode aumentar suas chances também por aqui.
Se acontecer uma surpresa nessa categoria, podem apostar na animação Anomalisa, primeiro trabalho de Charlie Kaufman em quase uma década. Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza, o longa escrito e dirigido pelo cineasta premiado com o Oscar pelo texto de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004) possui uma torcida grande, tanto aqui quanto na disputa por Melhor Longa de Animação. Já o drama 45 Anos, duplamente premiado no Festival de Berlim (Melhor Ator e Melhor Atriz) pode garantir ao cineasta inglês Andrew Haigh um reconhecimento até então obtido somente em um círculo limitado, o público homossexual, graças ao longa Weekend (2011) e ao seriado Looking (2014-2015). Mas há ainda o quesito emocional, e este pode favorecer o drama esportivo Creed: Nascido para Lutar, sétimo episódio da saga do boxeador Rocky – é bom lembrar que o primeiro, Rocky: Um Lutador (1976), não só concorreu a Roteiro Original como também ganhou a estatueta de Melhor Filme! E como este novo capítulo é o mais bem sucedido desde o longa dos anos 1970, as chances da mágica se repetir não são tão absurdas.
Mas qual é o filme que tem sido mais incensado pela crítica nesta virada de ano? O apocalíptico Mad Max: Estrada da Fúria, que concorre ao Globo de Ouro de Melhor Filme em Drama e já ganhou esse mesmo reconhecimento no National Board of Review e na premiação da FIPRESCI – a Federação Internacional de Críticos de Cinema. Outra surpresa foi o primeiro longa produzido pelo Netflix, Beasts of No Nation, premiado no Festival de Veneza e exibido nos cinemas norte-americanos por apenas uma semana, o suficiente para se qualificar às indicações ao Oscar. Fechando essa lista de possibilidades remotas, mas torcidas imensas, temos o pequeno e simpático A Senhora da Van, produção inglesa que apresenta o melhor trabalho de Maggie Smith em muitos anos, no qual o escritor Alan Bennett adaptou sua própria história real sobre uma mulher idosa que se mudou para o seu jardim e por lá ficou por mais de uma década. O resultado é curioso, e uma lembrança aqui, longe de ser injusta, seria também uma conquista e tanto!
CERTEZAS
QUASE CERTEZAS
AZARÕES
MERECIAM, MAS NÃO VÃO ENTRAR