Alfred Hitchcock

O mestre do suspense. Assim Alfred Hitchcock é conhecido mundialmente por seus mais de 50 filmes permeados por assassinatos, vinganças e suspeitostrans. No ano em que completa-se 31 anos da morte do cineasta, o Centro Cultural Banco do Brasil realizou uma mostra em São Paulo e no Rio de Janeiro com a filmografia do diretor e suas dezenas de longas-metragens, três curtas e 127 episódios da série de TV Alfred Hitchcock Presents. Uma forma de conhecer a obra do artista a fundo e que também revela outras nuances de seu trabalho.

Seus filmes não seguiam uma linha de suspense à la Agatha Christie com seus famosos “quem matou?”. Pelo contrário. As narrativas do diretor poderiam ser consideradas óbvias se levarmos em conta este aspecto, já que na maioria dos seus filmes o assassino já era revelado. O que importava e divertia – ou melhor, entretém – o público até hoje, era como seus vilões seriam pegos. Não duvido que muitos autores de novela tenham se inspirado em Hitchcock para compor seus vilões.

Hitchcock usava sempre um exemplo para explicar o que realmente era suspense para ele. Se numa cena uma bomba é colocada embaixo de uma mesa, um casal senta sobre as cadeiras e o artefato explode, levamos um susto. Mas se deixarmos o mesmo explosivo com o tempo de um minuto para estourar, e nesse meio tempo o mesmo casal estiver conversando sobre trivialidades enquanto o relógio passa, a expectativa é saber o que vai acontecer: os dois vão ver a bomba? Vão conseguir fugir a tempo? Vão desarmar o explosivo? Para o diretor, isto era suspense.

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Porém, acima de tudo isso, Hitchcock era apaixonado pela psique humana. Suas histórias eram recheadas de personagens com distúrbios psicológicos e sexuais. Nem preciso citar Psicose (1960), seu filme mais conhecido, em que o assassino era um homem problemático que assumia a personalidade da mãe para expor suas frustrações.  A inteligência cinematográfica de Hitchcock chegava ao ponto de até o figurino expor o medo e culpa dos personagens. Em Disque M para Matar (1954), por exemplo, a personagem de Grace Kelly começa o filme vestindo trajes brancos quando está com seu marido. Ao encontrar o amante, está com um vestido vermelho. E ao ser presa, só usa tons escuros. Uma forma mais cinematográfica de contar as histórias e problemas sem recorrer a diálogos para tudo.

O mais interessante era que esses distúrbios muitas vezes foram representados por personagens duplos. Explico. Aqueles que se complementam, muitas vezes mostrando os aspectos negativos e positivos de uma mesma personalidade. Além de Psicose, podemos ver isso em longas como A Sombra de uma Dúvida (1943), Pacto Sinistro (1951), Um Corpo que Cai (1958), Os Pássaros (1963), O Homem Errado (1956), Frenesi (1972), entre muitos outros. Uma forma de mostrar que o bem sempre prevalece, como qualquer narrativa clássica, mas que nem por isso todos nós deixamos de ter um lado obscuro que luta para sair a qualquer momento.

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Falar sobre Hitchcock e suas inspirações nos filmes renderiam linhas e linhas de texto. Por enquanto fica o convite para conhecer o cinema clássico através do diretor e de toda sua obra. E boa viagem no tempo.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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