Que nos desculpem George Reeves, Dean Cain e Tom Welling, os principais intérpretes do Homem de Aço na televisão, mas aqui estamos falando de Cinema, e é na tela grande onde se constroem os maiores mitos do universo pop. E quando falamos no maior herói de todos os tempos, são os rostos destes jovens corajosos que ousaram dar vida ao personagem criado por Jerry Siegel e Joe Shuster nos anos 1930 que surgem imediatamente em nossas mentes. Christopher Reeve é o maior de todos – e foi, até o dia da sua morte, em 2004, lembrado por isso. Brandon Routh foi por demais reverencial, tendo sido logo descartado. É neste ponto em que se encontra agora Henry Cavill, o atual Superman que chega agora às telas em O Homem de Aço (2013), com a missão de não apenas respeitar o que de melhor foi feito antes, como também recriá-lo na medida exata para a atual geração. Tarefa essa, felizmente, cumprida à altura!
Christopher Reeve
Mas de nada isso tudo adiantaria se não fosse a competência, humildade e visual perfeito de Christopher Reeve, a encarnação clássica do Superman, talvez a mais próxima da imaginada pelos próprios idealizadores. Reeve, ao longo de quatro longas (o último foi lançado em 1987), não só entendeu o personagem como poucos como praticamente se fundiu a ele, tornando criador e criatura numa só coisa. Os fãs só o identificavam desse jeito, e mesmo a relativa superação após o trágico acidente que o deixou paraplégico em 1995 era creditada como digna de um “super-herói”. Reeve chegou a atuar em outros filmes de respeito, como o romântico Em Algum Lugar do Passado (1980) ou o drama Vestígios do Dia (1993), mas será para sempre lembrado não como o talentoso ator que de fato era, mas como o verdadeiro filho de Krypton!
Brandon Routh
É curioso perceber, por outro lado, que o maior prejudicado em toda esta história foi o próprio Routh, que do pó veio e ao pó retornou. Após O Retorno ser reconhecido publicamente para um passo em falso da DC Comics no cinema, cada um dos notórios envolvidos – como o oscarizado Kevin Spacey ou os badalados James Marsden, Kate Bosworth e Parker Posey – decidiu trilhar um caminho diferente, reconstruindo suas carreiras e esquecendo tal envolvimento. Essa opção, no entanto, não estava disponível para Brandon Routh, pois ele era a “cara” de Superman – O Retorno, um ator fisicamente parecido – de forma até assustadora – com Christopher Reeve, mas com visíveis limitações no seu talento criativo. Aparentemente sem saída e preso a um personagem que não o recebeu de braços abertos, o ator até hoje tenta voltar à cena, distanciando-se dessa glória passageira, que poderia ter lhe dado tanto, mas que acabou lhe deixando sem nada.
Henry Cavill
O Homem de Aço é, provavelmente, a mais impressionante adaptação de um legítimo super-herói para a tela grande. Descartando a magnífica trilogia do Cavaleiro das Trevas – afinal, Batman é um homem sem superpoderes – o Superman que agora vemos consegue ir além do empolgante – e exagerado – Os Vingadores (2012) justamente por sua seriedade, seu senso de urgência e sua constante dimensão de perigo. Kal-El só pode ser comparado em termos fantásticos ao mitológico Thor (da concorrente Marvel), e se formos tentar equiparar esse filme com o longa de 2011, o deus de Asgard perderá feio, seja pelo tom fantasioso ou pelas limitações auto-impostas pelo conceito no qual foi concebido. Zack Snyder, que já havia nos transmitido uma percepção das suas capacidades nos cartunescos 300 (2006) e Watchmen (2009), realiza um verdadeiro épico, em que tudo pode acontecer – e, de fato, acontece.
Novamente, tamanho sucesso só foi possível graças ao comprometimento, determinação e entrega com que Henry Cavill assumiu o personagem. Em suas mãos, Clark Kent não é só um homem, Kal-El é mais do que um alienígena desgarrado, e Superman é, mais do que nunca, o homem mais poderoso do universo. Temos aqui uma ameaça plausível e um elenco de apoio formado quase que exclusivamente por vencedores (Russell Crowe, Kevin Costner) ou por indicados (Diane Lane, Amy Adams, Michael Shannon, Laurence Fishburne) ao Oscar! Os padrões da indústria foram, definitivamente, alterados com O Homem de Aço, e daqui pra frente não bastarão mais bons efeitos especiais e algumas piadas divertidas para garantir a atenção do público. Serão necessários heróis de verdade, na estampa e no conteúdo. E pra quem tiver alguma dúvida, aí está Henry Cavill como o melhor exemplo possível!