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O diretor goianense Fábio Meira e as suas jovens atrizes, Isabela Torres e Priscila Bittencourt, ainda estão digerindo a vertigem: As Duas Irenes, o “pequeno” (em orçamento) projeto deles, teve estreia mundial na Berlinale. Em conversa exclusiva com o Papo de Cinema, os três contaram um pouco desta enorme surpresa, ainda emocionados com a enorme recepção do público na estreia: “Ainda não caiu a ficha!”, diz a muito espontânea Priscila.

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Priscila Bittencourt, Fábio Meira e Isabela Torres / Foto Roni Nunes

O filme, como diz o título, conta a história de duas Irenes: uma é a tímida e sufocada pela estrutura familiar (aquela que é vivida por Priscila), e que descobre por acaso que o pai tem uma segunda família – e outra filha, também de 13 anos, chamada Irene (Isabel). Assim a Irene “entediada”, como a define sua intérprete, começa por espionar a “outra”, muito mais madura e espontânea, até que uma inusitada amizade surge…

Fábio Meira acha fantástico isso tudo. “Nunca pensei em nada disto (estreia na Berlinale). Era um pequeno projeto de muito baixo orçamento (R$ 1,2 milhão), vindo de um Estado sem qualquer importância no Brasil – que nunca é referência nem por causa da sua economia, nem por outro atributo maior. E agora estamos aqui...”

Ainda não caiu a ficha”, acrescenta Priscila – quando fica óbvio que há um inversão de papéis aqui. “Sim”, diz Fábio, “a Isabela (que limita-se a sorrir…) é que é tímida e no filme interpreta a extrovertida. E na vida real é precisamente o contrário”.

Isabela veio de Brasília, quando o diretor já estava achando difícil o processo de escolha do elenco em Goiânia, e a conheceu através de uma seleção com várias candidatas. “No começo, achei que a semelhança dela com a Inês Peixoto, que faz de mãe dela e estava no projeto desde o início, era imensa. Aí tentei convencê-la a entrar. Também havia o fato dela dançar, o que era excelente, tinha já um trabalho com o público.” E foi difícil trabalhar com o Fábio? “Nada disto!”, diz Isabela. “Ele me ajudou muito”.

A falante Priscila acrescenta: “Eu aprendi muito, principalmente porque antes tinha o hábito de dizer tudo o que vinha à cabeça, independente de magoar as pessoas. Agora estou mais comedida”, diz.

Longos ensaios, no decorrer de vários meses, levaram As Duas Irenes a um caminho já bem-sucedido no cinema brasileiro que termina por ir aos grandes eventos internacionais. Foi o caso do gaúcho Beira-Mar (2015), que estreou na mesma Berlinale, há dois anos, ou do carioca Mate-me por Favor (2015), que estreou em Veneza também em 2015. “O trabalho com os atores é fundamental. Eles são a cara do filme”, observa Fábio.

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Cena de As Duas Irenes

A história tem um fundo autobiográfico: um dia o diretor e também roteirista descobriu que seu avô tinha uma segunda família. Ao contrário da personagem, no entanto, a sua tia, que prosseguiu problemática pela vida afora, nunca quis conhecê-la. “Eu parti desta premissa para pensar: e se ela tivesse decidido conhecer a outra? O que aconteceria?”.

E por que contar esta história com protagonistas femininas? “Eu cresci no meio de mulheres muito fortes, era fascinado por este universo. No filme, os homens têm apenas papel acessório”.

Já comprado pela Vitrine Filmes, os expectadores brasileiros podem descobrir essa bela história nos cinemas no segundo semestre. Até lá, Fábio Meira vai pensando no seu novo projeto, Tia Virgínia, no qual conseguiu escalar Renata Sorrah para compor um trio de madames com 70 anos. É nesta hora que Priscila fica sabendo que não há lugar para ela no filme, afinal “a personagem mais nova tem 35 anos…”.

(Entrevista feita ao vivo em Berlim, Alemanha)

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