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A avaliação não é puramente subjetiva: os jornalistas aqui e ali têm sido unânimes e as reações do público na sessão do Cine Star, seguido de um longo e produtivo (coisa rara) Q&A (sessão de perguntas e respostas), parecem demonstrar que se está diante do mais belo momento do cinema brasileiro na Berlinale até agora. Contribuindo para esta sensação, temos No Intenso Agora, filme que homenageia o enorme Eduardo Coutinho e é digno do mestre.

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João Moreira Salles / Foto Roni Nunes

Conforme o diretor João Moreira Salles relatou na conversa com os espectadores, mas também numa entrevista exclusiva ao Papo de Cinema, No Intenso Agora foi “inventado na sala de montagem ao longo de um processo de quatro anos” – um trabalho conjunto com Eduardo Escorel e Laís Lifschitz. “Tudo veio quando começamos a ver várias vezes aquelas mesmas imagens, os textos vieram depois“.

O projeto parte de vídeos caseiros feitos pela mãe do cineasta, que fez uma visita à China em 1966, quando o diretor começou a interessar-se pelo ano de 1968 – momento em que a força dos acontecimentos pessoais são fortes e a conexão com o que acontecia no mundo num ano fervilhante foi direcionando o filme para alguns dos grandes acontecimentos do período. “Fiquei interessado na captação do fulgor daquele instante que os movimentos decorriam“.

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Cena de No Intenso Agora

As escolhas, obrigatórias e que impedem que o filme “seja interminável”, recaem principalmente sobre o maio de 68 parisiense e a invasão da Praga de Dubcek pelos tanques russos no mesmo ano. Os vídeos usados para a sua interpretação poética (e a graça distintiva do filme) são, na sua maioria, feito por amadores – alguns dos quais a produção nunca conseguiu identificar os autores. Há momentos preciosos: depois de uma greve numa fábrica parisiense, uma operária faz um longo e desesperado testemunho sobre o fim da paralisação, enquanto um sindicalista cínico tenta explicar os avanços e os estudantes, os grandes protagonistas da data, só aparecem marginalmente nas filmagens. Naquela cena triste de uma trabalhadora traída, filmada fortuitamente por dois aprendizes de cinema, a “revolução” estava encerrada.

O que mais me interessava a partir de um certo momento era falar da perda de finalidade”, diz Salles. Este é o segundo estágio: ao longo dos anos 70, a França tornou-se um lugar politicamente estranho e quando diversos ícones do período de questionamentos morriam… pela via do suicídio.

Enquanto isso, não muito longe dali, qualquer aspiração de libertação, era filmada amedontradamente através de cortinas, com câmeras escondidas nas janelas enquanto os russos desfilavam sobre uma Praga que enterrava de vez o mito da revolução coletiva.

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Cena de No Intenso Agora

Mas não só Salles vai buscar a adaptação – o processo em que as sociedades submergem nos seus quotidianos e, contrariando toda a lógica dos movimentos, aceitam a ordem instaurada, por pior que esta seja. Este processo de adaptação parece encerrar o fim de qualquer utopia.

No Intenso Agora ainda não tem dada de estreia no Brasil.

(Entrevista feita ao vivo em Berlim, Alemanha)

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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