INDICADOS
Sem o fator “Leonardo DiCaprio” certamente teríamos uma disputa bem mais acirrada entre os indicados ao Oscar de Melhor Ator neste ano. Eddie Redmayne levou para casa a estatueta passada e bem que poderia pleitear o bicampeonato pelo papel de um dos primeiros transexuais da História, no filme dirigido pelo também oscarizado Tom Hooper. Matt Damon, que já concorreu anteriormente, por conta do trabalho em Gênio Indomável (1997), seria igualmente um forte candidato a vitorioso, pelo papel do astronauta deixado para trás em Marte, cuja sobrevivência depende de sua própria sagacidade. O irlandês Michael Fassbender, bastante requisitado desde que despontou no cenário das produções independentes, celebra sua primeira indicação como protagonista no filme de Danny Boyle. Por fim, Bryan “Sr.White” Cranston, conhecido por encabeçar o elenco da cultuada série Breaking Bad, mostra seu valor novamente, ao viver Dalton Trumbo, personagem hollywoodiano famoso e controverso.
Porém, tudo aponta ao triunfo de Leonardo DiCaprio, algo que, para muitos, já deveria ter ocorrido numa de suas três indicações anteriores, respectivamente por O Aviador (2005), Diamante de Sangue (2007) e O Lobo de Wall Street (2014). Pululam na internet memes alusivos às vezes em que DiCaprio bateu na trave, brincadeiras que tiram sarro dessa “sina”. Será que agora vai? Parece que sim, a julgar, sobretudo, pela quantidade de prêmios já conferidos ao protagonista do filme de Alejandro González Iñarritu. DiCaprio ganhou o Globo de Ouro, o Broadcast Film Critics Association, o Boston Society of Film Critics Awards, o Chicago Film Critics Association Awards, o Screen Actors Guild Awards e, mais recentemente, o prestigiado BAFTA. A despeito de alguns dissidentes, o clamor popular também reivindica a vitória desse ator que se tornou conhecido das massas interpretando um jovem idealista em Titanic (1997). DiCaprio conseguiu mostrar ao longo dos anos que não se enquadra na categoria restritiva dos atores bem-sucedidos somente pela beleza, enfileirando atuações aplaudidas tanto pelo público quando pela crítica. O Oscar coroaria esse trabalho consistente.
Não tem jeito, desta vez só uma zebra do tamanho do T-Rex de Jurassic Park faz com que Leonardo DiCaprio perca o Oscar de Melhor Ator. Vencedor da maioria dos prêmios “termômetro”, dono da simpatia e da torcida de boa parte do público, ele realmente merece somar a estatueta mais cobiçada de Hollywood à sua já vasta lista de láureas. A composição de seu personagem é complexa, não apenas do ponto de vista emocional, mas também do físico. Além de lutar contra as condições climáticas extremamente desfavoráveis nas locações, DiCaprio precisou, geralmente, expressar muito com o mínimo, transmitir ao espectador, ao mesmo tempo, a fúria da vingança, o latente instinto de sobrevivência e a tristeza decorrente da perda de um ente querido. O resultado é admirável.
Um personagem icônico como Walter White pode assumir contornos fantasmagóricos na vida de um ator. Bryan Cranston, felizmente, mostra no filme de Jay Roch – assim como antes, em realizações menores – que não se deixou escravizar pela figura singular e carismática vivida na televisão. A forma como ele interpreta Dalton Trumbo é um dos grandes trunfos do longa, atributo responsável por fazê-lo sobrepujar, inclusive, certas armadilhas comuns às cinebiografias. Não fosse bater de frente com um favorito tão forte quanto Leonardo DiCaprio, Cranston poderia, perfeitamente, afinar o discurso e preparar-se para subir ao palco.
Embora figure entre os cinco postulantes ao Oscar de Melhor Ator, Michael Fassbender teve um grande papel esnobado pela Academia, o de Macbeth na versão de Justin Kurzel da criação de Willian Shakespeare. Ele transmite com muita pungência a loucura gradativa que acomete esse homem levado pelas palavras da esposa a assassinar o rei, a fazer o necessário para assumir, e posteriormente manter, o trono escocês. Fassbender apresenta um desempenho visceral, infelizmente preterido frente ao de concorrentes, verdade seja dita, igualmente sólidos, cuja nominação é justa, como a dele próprio na pele de Steve Jobs.