INDICADOS
Falar sobre curtas-metragens no Oscar é quase um tiro no escuro. Ao lado de outras categorias “menores” como as irmãs Curta de Ficção e Curta Documentário, à de Animação geralmente é dada pouca importância, ainda que apresente obras espetaculares a cada ano que mereciam ser vistas por todos. Mais uma vez é o caso. Há para todos os tipos de gostos e é bom falar um pouquinho de cada um destes trabalhos para tentar entender como vão votar os representantes (que já não costumam ver nem todos os filmes indicados à categoria principal, imaginem nesta então).
Comecemos por um dos azarões. Os Heróis de Sanjay é uma bela animação que resgata deuses hindus como super heróis na imaginação de um garotinho. O rapaz é indiano e tem sua criatividade alçada ao limite enquanto está entediado com a meditação do pai. Sua única outra indicação é o Annie. O ponto favorável é que seus diretores são antigos colaboradores da Pixar. Mudando totalmente de ares e apostando mais na violência, o britânico Prologue tem sua força nos traços clássicos ao retratar uma batalha de dois times de guerreiros, um de Esparta e outro de Atenas. Foi lembrado apenas pelo Bafta. Já o chileno A História de um Urso venceu os festivais da Florida, RiverRun, Washington DC e IndieLisboa além do Anima Mundi 2014. Pode ser um grande concorrente por conta de sua trajetória e pela sensibilidade do roteiro. O filme é o primeiro trabalho de seus diretores no cinema e retrata um urso contando a história de sua família através de marionetes. Aliás, os três curtas citados até agora marcam a estreia dos realizadores na cerimônia.
O russo We Can’t Live Without Cosmos não tem diálogos e conta com a força da trilha sonora para contar a história de dois irmãos cosmonautas que se preparam para uma missão especial. Só um pode ir até que uma tragédia acontece. O filme tem uma boa carreira, sendo vencedor de seis prêmios e indicado a outros três. Seu diretor, Konstantin Bronzit, já passou pelo Oscar. Ele foi indicado em 2009 por Lavatory – Love Story na mesma categoria. Mas finalmente chegamos ao grande favorito: World of Tomorrow, sobre uma garota que tem o futuro do mundo revelado através de imagens que ecoam pela mente e mostram uma civilização bem diferente da imaginada. O filme venceu o Annie Awards na mesma categoria, ganhou outros quatro prêmios e foi indicado a mais 25. Seu realizador, Don Hertzfeldt, já foi indicado em 2001 pelo curta Rejected.
Multi premiado, com uma atmosfera diferente da habitual, traços simples e psicodélicos na mesma medida, roteiro instigante. Além de tudo, norte americano. Alguma dúvida sobre a predileção da Academia, que deve olhar muito mais o história de sucesso do curta do que o trabalho em si? Não que não mereça, muito pelo contrário. Porém, seus outros concorrentes estão no mesmo páreo em qualidade.
Não é apenas por trazer um personagem animal fofo como protagonista. Apesar do que sugere, a história é muito mais trágica do que se espera, permeada por dor e sofrimento, além de trazer um recado bem atual sobre os direitos dos animais. Quando cinema e ativismo se unem em uma pequena, mas poderosa obra, é de se chamar a atenção de qualquer um.
Todos são, na verdade, mas o russo tem um toque especial: sua origem. Ao retratar sua história (também bem sofrida como a do colega urso já citado) em um contexto de programa espacial, logo a primeira coisa que vem à cabeça é a Guerra Fria e como os EUA não lidam bem com o assunto. O preconceito norte americano com os camaradas russos pode influenciar aqui, ainda que o curta seja emocionante e ingênuo na mesma medida. Torçamos para que os retrógrados abram sua mente para esta produção.
