INDICADOS
Você conhece Steve Golin? A não ser que seja um inveterado curioso sobre os bastidores hollywoodianos, provavelmente sua resposta será “não”. Pois bem, fique sabendo que ele é o maior sortudo do Oscar 2016! E sabe por quê? Porque ele tem DUAS chances de levar o Oscar de Melhor Filme – e com todas as expectativas a seu favor! Afinal, ele é produtor de dois dos favoritos ao prêmio deste ano: O Regresso e Spotlight: Segredos Revelados!
O primeiro ganhou o Globo de Ouro e o Bafta – e mais nada! Mas é o campeão de indicações deste ano (concorre em 12 categorias). Já o segundo é o favorito dos atores (Melhor Elenco no SAG), da crítica (ganhou o Critics Choice Award e o prêmio da Sociedade Nacional dos Críticos) e dos especialistas de Boston, Central Ohio, Dallas-Fort Worth, Denver, Detroit, Houston, Indiana, Iowa, Las Vegas, Los Angeles, Nevada, Oklahoma, Phoenix, São Francisco, Southeastern, St. Louis, Vancouver e Washington, além de ter sido premiado no Festival de Veneza e de ter ganho o importante Independent Spirit Award, o Oscar do cinema independente norte-americano. Ou seja, a disputa entre os dois está acirrada!
Mas há uma pedra no meio do caminho, e essa se chama A Grande Aposta. O longa produzido e estrelado pelo astro Brad Pitt (já premiado como Melhor Filme por 12 Anos de Escravidão, 2013) ganhou alguns prêmios importantes de Roteiro Adaptado (é o favorito nesta categoria) e como Melhor Comédia no Critics Choice Award, mas não levou nenhum prêmio de ‘Melhor Filme’ das associações de críticos. Então por que ele pode surpreender? Porque o único reconhecimento de peso ganho pelo filme é, simplesmente, o mais importante de todos: o do Producers Guild of America, ou seja, da Sociedade dos Produtores! Nos últimos dez anos, eles só erraram duas vezes: O Segredo de Brokeback Mountain (2005) e Pequena Miss Sunshine (2006). De 2007 pra cá ele tem acertado todas – até quando Guerra ao Terror bateu Avatar em 2009 ou quando Argo bateu As Aventuras de Pi e Lincoln em 2012!
Steven Spielberg e Ridley Scott, dois veteranos de imenso sucesso, ficaram de fora das indicações de Direção, mas conquistaram aqui uma vaga para concorrerem a Melhor Filme – sem muitas chances, no entanto. O Quarto de Jack é a surpresa indie da vez, enquanto que Brooklin é o bonitinho, mas ordinário – tem seus méritos, mas já foi longe demais. Sobra, enfim, o mais revolucionário de todos os concorrentes: Mad Max: Estrada da Fúria, dirigido pelo septuagenário George Miller, que se mostrou ser o título mais original, instigante, ousado e inovador do ano – tanto que concorre em 10 categorias e foi premiado pelos críticos de Austin, Chicago, Florida, Georgia, Kansas, Londres, San Diego, Seattle, Utah e pelo National Board of Review, além de ter ganho o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI). Há muitos anos esta disputa não estava tão acirrada! E que vença o melhor (ao menos)!
É o filme ‘seguro’ deste ano. Está longe de ser o melhor desta temporada – sua estrutura é bastante convencional, aliás – mas contém um tema relevante e sua exposição pode contribuir no sentido do Oscar de achar “importante” para o debate social. Ao falar de um problema universal – o abuso sexual de padres da Igreja Católica contra menores de idade – o filme toca num ponto controverso, e que tal debate proporcionado pelo projeto só tem a contribuir. Além do mais, é também o concorrente mais premiado do ano, e ao contar com o apoio do sindicato dos atores (que são em quantidade a parcela mais representativa dos votantes do Oscar) não lhe faz mal nenhum. Ou seja, conta com os votos dos ‘conscientes’, daqueles com medo de arriscar, daqueles que acham que é too much too soon (no caso de Iñarritu) e daqueles que querem aplaudir os amigos (é um dos elencos mais prestigiados do ano). Essa combinação deve ser imbatível.
Ao lado deste filme há um fator que tanto pode contar contra como a favor: é dirigido por Alejandro González Iñarritu, premiado no ano passado por Birdman (2014). Ou seja, alguns podem achar que é muito cedo para premiá-lo novamente, outros podem aproveitar o momento do seu nome em alta para reconhecê-lo mais uma vez. Se de fato isso acontecer, será uma vitória injusta: os maiores méritos do filme são atuação de Leonardo DiCaprio (favorito a Melhor Ator) e a impressionante fotografia de Emmanuel Lubezki (que pode ganhar sua terceira estatueta consecutiva, após Gravidade, 2013, e Birdman, 2014). Para se ter uma ideia, apesar das 12 indicações, falhou em conseguir a de Melhor Roteiro – o que já indica o quão fraca é sua história. A última vez que um longa ganhou como Melhor Filme sem ter sido sequer indicado a Melhor Roteiro foi com Titanic (1997), há duas décadas. E antes disso havia sido A Noviça Rebelde (1965)! Em 87 anos de Oscar, apenas 7 filmes conseguiram esse feito – e a maioria antes dos anos 1950!
É o melhor filme do ano, sem sombra de dúvida. Mas muita gente parece simplesmente não ter aberto os olhos para essa realidade, talvez por preguiça de se deparar com o novo e o provocador. Muita violência, muita ação e um visual arrebatador também contribuem no sentido de afastar dos debates os mais conservadores, que não conseguem ir além dessa primeira impressão para se debruçarem sobre o que o filme tem de melhor – um grande libelo feminista, afinal. No entanto, em toda a história da premiação apenas duas vezes continuações foram premiadas – O Poderoso Chefão 2 (1974) e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003). Mesmo com suas dez indicações, é bem provável que seja o maior campeão da noite, mas principalmente nas categorias técnicas.
O simples fato de ter ganho o prêmio dos Produtores de Hollywood já o colocaria como favorito. Mas a ausência de qualquer outro reconhecimento de peso lança sobre esse título uma dúvida. Ou seja, tem chances, mas não muitas. Sua fina ironia e o curioso painel que desenha sobre o caótico cenário financeiro nos Estados Unidos pode ter incomodado alguns e afastado outros – que, levianamente, o acusaram de ser ‘confuso’ demais – mas não se deixe enganar: esse é o título mais inteligente de todos os concorrentes. Sua vitória, se ocorrer, merece ser recebida com uma salva de palmas em pé!
Apesar de ter ganho o Globo de Ouro de Melhor Filme – absurdamente, na categoria de Comédia ou Musical – essa ficção-científica foi também o mais bem sucedido de todos os concorrentes nas bilheterias – faturou mais de US$ 600 milhões em todo o mundo. É, pela lógica, o mais visto de todos, o que de certa forma conta a seu favor. Mas o fato do diretor Ridley Scott ter ficado de fora de sua categoria específica foi um passo em falso, diminuindo bastante suas chances.
Esse filme só pode ser levado como uma possível – porém muito improvável – ameaça nessa categoria pelo fato do diretor Lenny Abrahamson também ter sido indicado, pegando uma vaga que merecia ter sido de Scott ou de Spielberg (ou de Danny Boyle ou de Quentin Tarantino, se formos mais longe). Ainda assim, sua força está no elenco: Brie Larson é imbatível como Melhor Atriz, e Jacob Tremblay foi a maior injustiça do ano.
Esse é o melhor filme de Steven Spielberg em muitos anos – talvez desde Prenda-me se for Capaz (2002) ou mesmo O Resgate do Soldado Ryan (1998)! É, também, a décima indicação de um longa seu a Melhor Filme (um verdadeiro recorde) e a décima-sexta do seu realizador (dessa vez concorrendo como produtor). Mas aponta também para o curioso caso de antipatia da Academia em relação a Tom Hanks (inexplicavelmente esnobado por Capitão Phillips, 2013, e agora mais uma vez). Fez bonito e merece estar entre os finalistas.
A melhor definição para esse concorrente é que se trata de um filme ‘fofo’. A protagonista Saoirse Ronan está excelente, o texto de Nick Hornby a partir do livro de Colm Tóibin funciona à perfeição e tudo parece se encaixar no seu devido lugar. Agora, como explicar sua presença entre os melhores do ano? Títulos como Steve Jobs, Os Oito Odiados, Trumbo: Lista Negra, Carol, 45 Anos, Creed: Nascido para Lutar, Divertida Mente, Straight Outta Compton: A História do N.W.A. e Star Wars: O Despertar da Força, apenas para ficarmos entre os indicados nas demais categorias, possuem muito mais mérito para ocupar essa vaga. Apenas para constar: é, de todos os finalistas, o que concorre em menos categorias – apenas 3 (Filme, Atriz e Roteiro Adaptado). E não deve levar nenhuma.