Há muito tempo que o Globo de Ouro, prêmio entregue pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA, na sigla em inglês), não é termômetro para o Oscar. Na verdade, não sei bem se algum dia foi, pois há disparidade enorme entre os votantes de um, correspondentes estrangeiros da imprensa em Los Angeles, e de outro, profissionais da indústria cinematográfica. Para uma prévia do que teremos nas distinções da Academia, a serem entregues no dia 26 de fevereiro, melhor ficar de olho nos vindouros eventos dos sindicatos, estes formados por pessoas que ou votam, ou influenciam diretamente o eleitorado do Oscar.
A edição 2012 do Globo de Ouro foi uma festa morna, e se alguns convidados exibiam sinais de tédio quando flagrados pelas câmeras, é porque realmente foi difícil acompanhar as três horas sem qualquer pestanejar. Até mesmo o corrosivo Ricky Gervais desta feita pareceu um anárquico bastante controlado, provavelmente devido a seus exageros no ano passado. Entre os premiados do cinema, os grandes vitoriosos da noite foram mesmo O Artista e Os Descendentes, pois bisaram as láureas mais consideráveis de suas categorias. O filme de Michel Hazanavicius venceu Melhor Filme em Comédia ou Musical, Melhor Ator em Comédia ou Musical (Jean Dujardin) e Melhor Trilha Sonora, enquanto o retorno de Alexander Payne à direção abocanhou as distinções de Melhor Filme em Drama e Melhor Ator em Drama (George Clooney). São vitórias significativas numa noite guiada em grande parte pela pulverização.
Vale ainda destacar as sintomáticas conquistas de Meryl Streep, que levou seu oitavo Globo de Ouro, desta vez como Melhor Atriz em Drama por A Dama de Ferro, Martin Scorsese, o Melhor Diretor por A Invenção de Hugo Cabret, e Woody Allen que obviamente não foi buscar a estatueta de Melhor Roteiro por Meia-Noite em Paris. A vitória de A Separação, de Asghar Farhadi, eleito Melhor Filme Estrangeiro, fez jus a esta obra-prima iraniana. No mais, uma premiação com algumas cartas marcadas e surpresas esparsas, fora, é claro, sua faceta televisiva que vou me limitar a não comentar.
Especial nota negativa, mas de necessária menção, para a baixa qualidade da transmissão brasileira realizada pelo canal TNT, repleta de comentários banais de Rubens Ewald Filho, que se ateve mais às plásticas e enchimentos das atrizes do que aos aspectos que se esperam enriquecidos quando sublinhados por um crítico com o conhecimento enciclopédico que Rubens possui. Em suma, entre os que gostam e os que não suportam estas premiações festivas bem típicas da indústria americana, é quase consensual que o Globo de Ouro enquanto evento se diferencia do Oscar apenas pelo fato de soar menos pomposo e mais descontraído. É uma cópia menor, um prêmio que ainda se mantém pelo esforço da associação que o concede, por seu aspecto tradicional e, quem sabe, pela fartura de comida e bebida que rola nos bastidores, ou mesmo no jantar oficial.
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