O sexto dia de sessões aqui no Festival de Cannes começou com um Steve Carell irreconhecível e terminou com um contemplativo filme da premiada japonesa Naomi Kawase. Confira um rápido panorama!
Foxcatcher (idem, 2014)
Muito bom =D
Primeira sessão do dia, Foxcatcher não pareceu ter dificuldades para envolver uma parcela dos espectadores dentro do Grande Théâtre Lumière, o maior de Cannes. Até o momento, foi o único que recebeu duas salvas de palmas, motivadas pela posterior entrada de créditos na tela, falando sobre o destino final dos personagens. Seria claque? Com mais de 10 prêmios na carreira e uma indicação ao Oscar por Capote (2005), o cineasta americano Bennett Miller faz sua estreia em Cannes com esse drama curioso sobre uma figura nada interessante, porém surpreendente, e no pior dos sentidos.
Foxcatcher é baseado em fatos reais de uma história não muito conhecida sobre o envolvimento do medalhista olímpico Mark Schultz e seu irmão Dave com o magnata John Du Pont (Steve Carell). Versão verdadeira (mas do mal) do fictício Tony Stark, Du Pont produzia armamentos e queria, através do esporte, fazer valer a sua visão de patriotismo contra a então potência União Soviética. É quando decide montar uma equipe de Luta Livre e contrata Mark (Channing Tatum), um bronco bom de porrada, mas ruim da cabeça por se sentir sempre a sombra do irmão (Mark Ruffalo). Dono de uma visão – literalmente – particular do mundo (produzia vídeos falsos de suas proezas), o empresário vê aí a oportunidade que precisava para “crescer” e, quem sabe, superar a rejeição que sofria de sua própria mãe.
No quesito atuação, o destaque vai para Carell, irreconhecível e assustador. Os dois irmãos, no entanto, também estão muito bem. Foxcatcher pode até sair daqui sem nenhum prêmio, principalmente por ser “redondo” demais, mas mostra um potencial junto ao grande público, iniciando desde já a corrida por algumas estatuetas do cobiçado Oscar.
Still the Water (Futatsume No Mado, 2014)
Ruim :(
A japonesa Naomi Kawase é habitué do Festival de Cannes, já contando com dois prêmios no currículo. Nesse ano ela recebeu pela quarta vez a indicação para a – ainda – inédita Palma de Ouro. Ao julgar pelos moderados, mas não fracos, aplausos recebidos da imprensa, pode ser que a hora tenha chegado, ainda mais se pensarmos que ela é uma das duas únicas representantes do sexo feminino e os jurados são presididos pela cineasta Jane Campion.
O corpo de um homem aparece boiando numa ilha do Japão, após uma forte tormenta, aumentando o já existente medo do mar do jovem Kaito. A fobia não faz sentido para a sua (mais que) melhor amiga Kyoko, já que a água é um elemento em que ela se sente totalmente à vontade. Tendo em comum mais do que a adolescência, sua consequente (e batida) descoberta do corpo, os dois têm ainda um problema envolvendo um mesmo membro da família: a mãe. Enquanto ele rejeita a solteirice da sua, ela precisa aceitar o fato de que a dela irá morrer.
Para contar essa história de amor, fé e morte, a cineasta usa e abusa da câmera na mão, se aproximando de uma linguagem de documentário ao mostrar belas imagens da natureza e, ao mesmo tempo, revelar as relações naqueles dois núcleos familiares distintos. Por conta disso, os diálogos transitam entre os realistas e os mais místico, acompanhado de rituais um tanto quanto desconfortáveis, como o cortar de garganta de cabras ou canções tradicionais, às vezes, chatas. Mas isso é cultural e pode muito bem não ser levado em consideração por parte do público. Sua duração, no entanto, é um outro ponto fraco. De curioso, um momento (belíssimo) dos jovens nadando nus, remetendo ao clássico popular A Lagoa Azul (1980).