Por Roberto Cunha*
Documentário sobre os maiores produtores das décadas de ouro do cinema de ação foi uma grata surpresa para os cinéfilos de carteirinha!
Se você decide entrar numa sala para ver um filme porque ele te interessou, imagine a sensação de ver a obra, no caso um documentário, na companhia dos retratados nela. Foi o que aconteceu na primeira exibição mundial de The Go-Go Boys, contando com ninguém menos que Menahem Golan e Yoram Globus na Sala Buñuel, do Palácio dos Festivais. Diretor geral do evento, Thierry Fremaux entrou na sala e chamou a dupla, aplaudida de pé. “Cannes é a casa do cinema mundial“, disse um debilitado, mas ainda guerreiro Menahem. “Cannes foi muito bom com a gente e nós fomos muito bons com Cannes“, disse Yoram.
The Go-Go Boys (idem, 2014)
Excelente \o/
Se você já passou dos 40, certamente, viu filmes com Charles Bronson, Chuck Norris, Jean-Claude Van Damme, entre outros ícones desse cinema produzido em larga escala, que atendia (e como!) seus espectadores. The Go-Go Boys é uma verdadeira ode aos papas, ou seriam rabinos, dessa indústria milionária, que chegou a representar 20% das bilheterias americanas. O mais curioso é constatar que essas feras são primos, não se entendiam, mas funcionavam muito bem juntos e montaram um verdadeiro império chamado Cannon Group, que chegou a ter mil salas de cinema, um insano sistema de produção e um faturamento absurdo.
Voltando ao passado da dupla, o longa apresenta inúmeros depoimentos deles e de profissionais, que acompanhados de imagens sensacionais de arquivo, vão fazendo o espectador viajar no tempo e no sonho de dois israelenses ambiciosos, que decidiram sair de seu país para conquistar Hollywood na marra. “Crianças brincavam de Banco Imobiliário. Eu, de vender filmes e ganhar dinheiro“, diz Yoram sobre a experiência que teve desde os três anos de idade, começando pelo cinema do pai. Abarrotado de passagens engraçadíssimas, especialmente por conta do eterno jeito fanfarrão de Menahem, é emocionante o que eles conseguiram construir com US$ 500 e muitos lanches (nada de almoços ou jantares) ao longo da carreira.
Entre as muitas curiosidades, a origem do apelido Go-Go Boys, a origem do sucesso O Grande Dragão Branco (1988), clássico do gênero com Jean-Claude Van Damme, depoimentos de Chuck Norris, Michael Dudikoff – o eterno Guerreiro Americano (1985) – e até Billy Drago, conhecido por seus inúmeros papéis de vilão irritante. As muitas declarações – nada modestas – de Menahem, contrastando com o lado mais centrado de Yoram, são ótimas, assim como a opinião deles sobre o mercado, sobre a crítica etc. Mas como todo bom filme chega ao fim, o doc também revela o lado triste da história, a derrocada do grupo e as trapalhadas que acabaram se envolvendo. Não deve estrear no Brasil, mas vale a pena ficar de olho em outros festivais etc.
Abaixo, você tem um vídeo amador, capturando os agradecimentos da diretora e a reação da plateia, diante das duas figuraças.
http://www.youtube.com/watch?v=GEI4pMvqvFo
*Enviado especial do Papo de Cinema para o Festival de Cannes 2014