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Cine Esquema Novo Expandido extrapola os formatos tradicionais do audiovisual

Publicado por
Danilo Fantinel

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Atualizado às 18h50min

Começou ontem e segue até o dia 30 de junho, em Porto Alegre, a sétima edição do Cine Esquema Novo (CEN). Neste ano, além de discutir as dimensões artísticas e as transformações do audiovisual no século 21, o festival apresenta sua reformulação conceitual. De agora em diante, chama-se Cine Esquema Novo Expandido (CEN-E) e passa a ter formato bienal.

Entre as mudanças estão o recorte internacional, sessões de cinema com debates, cursos especiais e mostras em galerias e espaços públicos com obras que extrapolam os formatos tradicionais do filme. A partir do ano que vem, uma mostra competitiva equalizará curtas, longas, videoinstalações e futuros suportes ou configurações em um mesmo nível.

A reorganização torna o evento um ambiente de exposição e reflexão sobre o universo da imagem contemporânea como um todo, contemplando não apenas o cinema encerrado em salas escuras, mas também as várias formas de expressão imagético-sonoras e seus diversos modelos de exibição.

Para tornar-se um elo definitivo entre cinema e artes visuais, polos de produção que foram se distanciando ao longo do tempo, o CEN-E pretende reunir obras e criadores que possam refletir um festival com o perfil do novo século, reafirmando a capacidade interpretativa do público e ecoando os anseios da comunidade artística.

Assim, o festival traz pela primeira vez ao Brasil o artista inglês William Raban, um pioneiro do cinema expandido na Europa a partir da década de 1970. Muitos de seus mais de 40 filmes têm caráter documental e experimental. Ele apresentará as videoinstalações About Now MMX (2010), The Houseless Shadow (2011) e fará a première mundial de Time and the Wave (2013). As produções serão exibidas de hoje até 20 de julho na Usina do Gasômetro. A master class Materialidade do Tempo: o Suporte Fílmico e a Cidade, que será realizada hoje, está com as inscrições encerradas.

A vinda do criador é uma parceria com a 9ª Bienal do Mercosul, responsável por projetos sobre a expansão das artes visuais e que, a partir de setembro, apresentará uma mostra de filmes exibidos no CEN-E que dialogam com a obra de Raban. Leia uma entrevista com o artista, realizada por Gabriela Ramos de Almeida e Jamer G. Mello, neste link.

Além do britânico, foram convidados para o CEN-E os realizadores brasileiros Carlosmagno Rodrigues (MG), DistrukturMelissa Dullius & Gustavo Jahn (RS – Alemanha), Guto Parente (CE), Ricardo Alves Jr. (MG) e Sérgio Borges (MG). Suas obras repensam a linguagem cinematográfica e ultrapassam as fronteiras estéticas e narrativas. Veja a programação completa aqui.

O CEN-E em formato bienal ocorrerá a partir de 2014. Saiba mais no site oficial.

 

Abertura com Thames Film

O lançamento do festival, realizado ontem para convidados, não poderia ter dado um melhor indicativo sobre a transmutação e a ressignificação do evento. A exibição de Thames Film (1986), de William Raban, inédito no Brasil, foi realizada em três telões a bordo de um barco nas águas do rio Guaíba.

Imagens, pesquisa histórica, analogias, simbolismos, elucubrações, narração, som ambiente, trilha sonora e silêncios estabeleceram as relações e as vivências entre Londres e o rio Tâmisa ao longo dos séculos. Raban desbravou o rio e desvendou a cidade a bordo de um pequeno bote percorrendo 80 quilômetros do coração de Londres até o mar aberto, remontando o trajeto realizado pelo escritor e viajante Thomas Pennant em 1787.

Durante a projeção e o percurso, o público apreciava não só as margens do Tâmisa e o skyline de Londres, mas também as margens do Guaíba e a silhueta de Porto Alegre. Diferenças arquitetônicas e urbanas à parte, por vezes imagem fílmica e imagem real mesclavam-se simultaneamente. Prédios, armazéns, portos, navios, pontes, vias e guindastes sobrepunham filme e cidade, uniam experiência cinematográfica imaginada e experiência social real, proporcionando leituras únicas entre os presentes.

Comentei com Raban que me sentia dentro do filme, devido à paisagem vista no longa e a realidade que se mostrava fora de nosso barco. Conciso e com um sorriso no rosto, o artista concordou: “That’s right! It’s amazing!”. Ele mesmo parecia inserido dentro de seu filme, mas desta vez de outra forma.

 

Programação

O Cine Esquema Novo Expandido será realizado de 20 a 30 de junho na Usina do Gasômetro, no Santander Cultural e na Galeria Ecarta, em Porto Alegre. As obras de William Raban seriam apresentadas de hoje até 20 de julho na Usina do Gasômetro. No entanto, devido às manifestações marcadas para hoje, dia 20, a programação desta quinta-feira foi transferida para o sábado, dia 22, a partir das 12h.

As sessões de cinema começam a partir de sexta-feira, dia 21, no Santander. Serão exibidos filmes às 19h, seguidos de seminários com os realizadores Sérgio Borges, Guto Parente, Ricardo Alves Jr., Carlosmagno Rodrigues e a dupla Gustavo Jahn e Melissa Dullius. Um dos destaques é o inédito longa-metragem Doce Amianto (foto acima), de Parente e Uirá Reis.

A partir de terça, dia 25, a galeria Ecarta apresenta videoinstalações dos cineastas convidados do CEN-E.

> Entrevista com William Raban realizada por Gabriela Ramos de Almeida e Jamer G. Mello

> Programação do festival (com entrada franca e seminários com os realizadores)

> Artistas convidados

> Site oficial do Cine Esquema Novo Expandido

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.

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