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Cinema abaixo d’água

Publicado por
Robledo Milani

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O 37º Festival de Cinema de Gramado começou, literalmente, abaixo d’água. O último domingo, dia 09 de agosto, foi marcado pela chuva ininterrupta que insistia em cair na charmosa cidade da serra gaúcha. Mesmo assim, nada parecia desaminar os cinéfilos e curiosos presentes na cidade. A Cerimônia de Abertura começou às 17h, com o Concerto de Abertura. Ao invés da OSPA (que recusou o convite com medo da Gripe H1N1), quem conduziu os trabalhos foi a Orquestra da Unisinos, em plena Rua Coberta, em frente ao Palácio dos Festivais. Entre as presenças, destaque foi a atriz Dira Paes (acima), a grande homenageada deste primeiro dia.

O primeiro grande momento deste ano foi a entrega da Homenagem Especial Cidade de Gramado para a atriz Dira Paes. Conhecida como ‘Musa da Retomada”, ela já participou de quase 30 filmes diferentes, um marco impressionante aqui no Brasil. Visivelmente emocionada, a vencedora do Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante por Noite de São João, em 2003, ganhou agora outra estatueta, desta vez pelo conjunto de sua carreira, que inclui títulos populares como Dois Filhos de Francisco (2005) e Ó Paí, Ó (2007) e outros mais alternativos, como Baixio das Bestas (2006) e A Festa da Menina Morta (2008).

O filme convidado para a sessão especial de abertura, fora de competição, foi o documentário cubano Memórias do Subdesenvolvimento, feito por Tomás Gutiérrez Alea em 1968. Grande vencedor do Festival de Karlovy Vary, na República Tcheca, esse é um verdadeiro clássico do cinema latino-americano. Alea já foi premiado duas vezes em Gramado, nos anos 90, com os longas Morango e Chocolate (1994) e Guantanamera (1995). Valeu pela curiosidade, pela coragem dos organizadores em propor um trabalho ainda hoje pertinente e pelo resgate histórico.

O primeiro filme em competição a ser exibido no 37º Festival de Cinema de Gramado foi a produção nacional Quase um Tango…, de Sergio Silva (acima), filmado em Porto Alegre e em Carlos Barbosa no início de 2008. Realizador do elogiado Anahy de las Misiones (1997) e do irregular Noite de São João, ambos também exibidos em Gramado (Anahy passou fora de competição, em 1997, e Noite ganhou os kikitos de Ator, Fotografia, Música e Atriz Coadjuvante, em 2003), Sergio Silva realizou mais um trabalho marcado pela ousadia e inovação. Quase um Tango… (intitulado originalmente Quase um Tango Argentino) é uma história que segue uma corrente mais naturalista, sem um argumento muito definido ou uma trama a ser solucionada, conquistando pela simplicidade da comunicação. Chamam atenção as boas atuações do elenco, com destaque para Marcos Palmeira e Vivianne Pasmanter, e pela bela trilha sonora de Leo Henkin.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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