Não estou falando de filmes pornôs, que estes todos nós sabemos que possuem um objetivo bastante determinado. Estou falando de cinema, de sétima arte. Tela grande comporta um bom casamento com sexo, desejo e prazer? Ou o melhor é a telinha pequena, no conforto da própria casa, em produções rápidas e próprias para o vídeo, sem muito cuidado, mas eficientes em provocar as reações almejadas? Tenho as minhas dúvidas.
Quando estreou a produção nacional Entre Lençóis (2008), de Gustavo Nieto Roa, que mostrava Reynaldo Gianecchini e Paola Oliveira pelados quase o tempo todo, já que a história se passa inteiramente dentro de um quarto de motel a polêmica foi certeira. É para lá que os dois personagens vão após se conhecerem numa boate qualquer. E o que começa como uma promessa de sexo descompromissado lá pelas tantas descamba para promessas de amor, acabando com o prazer sem culpa e despreocupado. Trata-se, como se pode perceber, de uma produção fraca, ingênua e, pior de tudo, nada original, pois nos remete imediatamente à produção chilena Na Cama (2005), de Matías Bize, que possui exatamente o mesmo roteiro. Plágio? Ou somente “mais uma versão”?
A revista Veja colocou, tempos atrás, uma matéria especial de capa intitulada “a ética da nudez”, fazendo referência à polêmica levantada pelo ator Pedro Cardoso, durante o lançamento do filme Todo Mundo Têm Problemas Sexuais (2008), sobre o excesso da nudez no cinema e na televisão. Bom, vamos com calma! Realmente há aquela nudez gratuita, desnecessária e abusada. Mas há também a que se encaixa dentro de um contexto, que contribui na história que está sendo contada. Em Entre Lençóis, por mais infantil que sejam os diálogos, pior seria o resultado final caso os dois protagonistas ficassem vestidos ou escondidos embaixo dos tais lençóis. Afinal, o cenário é um quarto de motel, não?
Cardoso fez este discurso apontando uma tomada em que a namorada dele na época, a atriz Graziella Moretto, fica nua em Feliz Natal (2008), longa que marca a estréia na direção do também ator Selton Mello. Quem assistiu a este trabalho só pode imaginar que tal protesto deve ser creditado a um ataque de ciúmes, uma vez que a dita cena é justificada dentro do filme – aliás, ótimo e nada explorativo. Evitar radicalismos é importante. Mas Feliz Natal não fala de sexo, muito menos de prazer. E este é o nosso foco aqui.
Outra revista bastante interessante é a norte-americana Entertainmente Weekly. Na edição do dia 28 de novembro de 2008 a matéria de capa era: “os 50 filmes mais sexies de todos os tempos”. E sabe qual ficou em primeiro lugar? O thriller policial Irresistível Paixão (1998), de Steven Soderbergh e estrelado por George Clooney e Jennifer Lopez em momentos de alta tensão sexual. Além de bom filme, ele literalmente coloca qualquer um em ponto de bala! Outros presentes na lista que combinam com maestria bons resultados artísticos e altas temperaturas são Sr. e Sra. Smith (2005, 03°), com Brad Pitt e Angelina Jolie, Corpos Ardentes (1981, 04°), com William Hurt e Kathleen Turner, O Ano em que Vivemos Perigosamente (1982, 14°), com Sigourney Weaver e Mel Gibson, O Destino bate a sua Porta (1981, 25°), com Jack Nicholson e Jessica Lange, Infidelidade (2002, 27°), com Diane Lane e Olivier Martinez, Sexo, Mentiras e Videotape (1989, 35°), com James Spader e Laura San Giacomo, e Pecados Íntimos (2006, 42°), com Kate Winslet e Patrick Wilson.
Há aqueles filmes sexies que também comportam uma emocionante trama romântica, mostrando que sexo e amor podem sim andar juntos. E os exemplos não faltam, como apontam o escritor descobrindo a paixão pela sua musa em Shakespeare Apaixonado (1999, 13°), o deliciosamente adolescente Diário de uma Paixão (2004, 19°), o campeão de bilheteria e de Oscars Titanic (1997, 20°), o triste e comovente A Época da Inocência (1993, 23°), o austero e envolvente O Paciente Inglês (1996, 26°), o sobrenatural e hilário Ghost (1990, 36°), O Guarda-Costas (1992, 41°), dono da trilha sonora mais vendida de todos os tempos, e o maduro As Pontes de Madison (1995, 45°), com Meryl Streep e Clint Eastwood. E prazer sexual é uma língua que não possui idioma, como provam os mexicanos E Sua Mãe Também (2001, 07°) e Como Água para Chocolate (1992) (46°), que literalmente põe fogo na casa (!), o francês Swimming Pool – À Beira da Piscina (2003, 18°), com a pin up Ludivine Sagnier infernizando a imaginação da quarentona Charlotte Rampling, e o chinês Amor à Flor da Pele (2000, 37°), de Wong Kar-Wai.
Entre produções internacionais como E Sua Mãe Também e Swimming Pool se percebe algo que em raros momentos chega a ser desenhado com cores mais fortes no cinema norte-americano: a homossexualidade. E o israelense Delicada Atração (1996, 49°) é uma boa prova disso, chegando a ser apontado como uma ‘versão menor atormentada de Brokeback Mountain (2006). Mas este olhar homoerótico não é exclusividade estrangeira, o que mostra a presença na lista de títulos como Cidade dos Sonhos (2001, 17°), com a protagonista lésbica interpretada por Naomi Watts, o thriller dirigido pelos irmãos Wachowski antes da trilogia Matrix e conduzido por um casal de assassinas Ligadas pelo Desejo (1996, 29°), o drama de época inglês Maurice (1997, 30°), que mostra James Wilby dividido entre o amor por Hugh Grant e a atração por Rupert Graves, o ensolarado O Talentoso Ripley (1999, 39°), em que o desejo que Matt Damon sente por Jude Law extrapola os limites éticos, ou Beijando Jessica Stein (2001, 47°), uma divertida comédia romântica sobre uma garota descobrindo o amor… com outras garotas! E isso sem falar do despudoradamente gay 300 (2006, 50°), aventura com Gerard Butler e o nosso Rodrigo Santoro em trajes sumários em batalhas de visual fantástico. Como resistir?
Sexo é prazer, e o cinema é uma máquina incomparável em criar – e vender, claro – mitos sexuais. E estes estão presentes em ícones como Daniel Day-Lewis (O Último dos Moicanos, 1992, 08°), Michelle Pfeiffer (Os Fabulosos Baker Boys, 1989, 12°), Marilyn Monroe (O Pecado Mora ao Lado, 1955, 16°), Sharon Stone (Instinto Selvagem, 1992, 21°), Denzel Washington (Mississippi Masala, 1991, 22°), Kim Basinger (9 e meia Semanas de Amor, 1986, 24°), Richard Gere (Gigolô Americano, 1980, 31°), Sarah Michelle Gellar (Segundas Intenções, 1999, 32°), Linda Fiorentino (A Última Sedução, 1994, 40°), e Patrick Swayze (Dirty Dancing, 1987, 43°). E isso que ficaram de fora outros nomes de respeito apontados com certo destaque, como Nicole Kidman e Ewan Mcgregor (Moulin Rouge, 2001, o musical mais sexy de todos os tempos, batendo Chicago, 2002, e Rocky Horror Picture Show, 1975), Marlon Brando (Uma Rua Chamada Pecado, 1951, sua interpretação mais sexy), Halle Berry (007 – Um Novo Dia Para Morrer, 2002, sua interpretação mais sexy), Christian Bale (Psicopata Americano, 2000, sua interpretação mais sexy), ou algumas das cenas de sexo mais quentes do cinema, como Brad Pitt e Geena Davis em Thelma e Louise (1991), Kevin Costner e Sean Young em Sem Saída (1987), e James McAvoy e Keira Knightley em Desejo e Reparação (2007).
Percebe-se que nessa seleção ficou de fora o cinema brasileiro, com todas as suas musas, como Sônia Braga, Vera Fisher, Cláudia Raia, Lucélia Santos, Christiane Torloni e tantas outras. Todas, infelizmente, geralmente em produções tão constrangedoras quanto o novo Entre Lençóis. Sendo assim, voltamos à mesma pergunta: cinema e sexo combinam? Pelo jeito, em Hollywood este casal é sinônimo de sucesso, elogios da crítica e fartas bilheterias. Agora, no Brasil, são outros quinhentos…
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