O dia começa cedo para os cinéfilos presentes ao 37º Festival de Cinema de Gramado. Na terça-feira, terceiro dia de atividades, às 09h da manhã, já havia sessão no Centro Municipal de Cultura (acima). O filme em cartaz foi o longa-metragem brasileiro Só 10% é Mentira, de Pedro Cezar. Esse documentário fala da vida e da obra do poeta sulmatogrossense Manoel de Barros, alternando sequências de entrevistas, versos de sua obra e depoimentos de especialistas em literatura. A pouca presença de alguns curiosos evidenciou ainda mais a ausência das escolas da cidade, num projeto que diz respeito direto com a nossa educação. Merece ser descoberto.
Às 14h, no Palácio dos Festivais, aconteceu a primeira sessão do terceiro ano do projeto Revelando os Brasis, com o curta O Dono do Carnaval, de Maria de Lourdes Lezo. Filmado em Taiaçu, no interior de São Paulo, conta a divertida história de um homem que insiste em participar vestido de baiana no desfile carnavalesco. Inspirado numa pitoresca história real. Em seguida, fora de competição, foi exibido o documentário português em longa-metragem Ruas da Amargura, de Rui Simões, premiado realizador lusitano. Uma obra de alto valor social, que cansa um pouco pela longa duração (quase duas horas) e pela temática não muito original – a vida e as carências de quem mora nas ruas – mas que recompensa pela profundidade na abordagem.
A Mostra Competitiva Nacional de Curtas-metragens começou na terça-feira, às 17h, no Palácio dos Festivais. Neste primeiro dia foram exibidos quatro produções bem distintas. Na quarta e na quinta acontecem as projeções dos demais selecionados. O primeiro filme foi o carioca Pra Inglês Ver (acima), de Vitor Granado e Robson Dias. Trata-se de um documentário visual sobre o olhar do turista estrangeiro atrás do exótico da favela brasileira. Também do Rio de Janeiro é Em Terra de Cego, de João Boltshauser, que conta com Babu Santana (Cidade de Deus, 2002, Estômago, 2007) à frente do elenco. Esta ficção relata as aventuras de um bandido bom de lábia que vive se metendo em confusões. De Porto Alegre vem Quiropterofobia, de Fernando Mantelli. Esta história de suspense e terror mostra o que acontece quando um casal é sequestrado por um psicopata. No elenco estão os gaúchos Nelson Diniz, Alvaro Rosacosta e Marcos Verza. E pro fim, Doceamargo, de Rafael Primot. Esta produção paulista traz a conhecida Debora Falabella como principal destaque, em meio aos conflitos políticos brasileiros de 1968.
O grande vencedor do Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim deste ano, o peruano A Teta Assustada, de Claudia Llosa, foi o destaque da terceira noite do 37º Festival de Cinema de Gramado. Esta delicada e comovente realização conquista o espectador pela força das imagens e simplicidade de sua história, mostrando como o terror de um período de sangue e violência pode instaurar um medo na população que irá perdurar por mais de uma geração. Um filme arrebatador, instigante e original, que merece ser reverenciado por onde for exibido. Com lançamento garantido no Brasil pela Paris Filmes, deve entrar em cartaz em breve por todo o país – felizmente! Uma bela surpresa que justifica qualquer expectativa, e desde já desponta como favorito entre os latinos ao Kikito!
Reginaldo Faria (acima) pode ser conhecido nacionalmente pelos populares papéis de estrelou na televisão, como em novelas como Vale Tudo e Dancin’ Days, mas é no cinema que deixou sua marca registrada. Dono de dois kikitos de Melhor Ator, por Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia (1977) e A Menina do Lado (1987), além de ter sido protagonista de dois vencedores como Melhor Filme – Pra Frente, Brasil (1982) e Memórias Póstumas (2001) – ele recebeu ontem uma justa homenagem com a entrega do Troféu Oscarito, em reconhecimento por sua extensa filmografia. Reginaldo estava acompanhado dos filhos – inclusive o também ator Marcelo Faria – e se revelou bastante emocionado com a lembrança. Já receberam o Oscarito, em anos anteriores, nomes como Grande Otelo, Anselmo Duarte, Carlos Manga, José Lewgoy, Paulo José, Hugo Carvana, Marieta Severo, Milton Gonçalves, Lima Duarte, Antônio Fagundes, Zezé Motta e Walmor Chagas.
O mundo das artes plásticas entrou em cena, no terceiro dia de festival, com o longa nacional Cildo, exibido dentro da mostra competitiva. Enfocando a vida, a obra e as ideias do artista plástico Cildo Meireles, o documentarista Gustavo Rosa de Moura realizou um trabalho bonito e referencial, mas que pouco inova em sua linguagem. Não faz feio e possui uma importância cultural, mas não deve ser lembrada com muito entusiasmo na noite de premiações.
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