A Mostra Competitiva do CLOSE – Festival Nacional de Cinema da Diversidade Sexual apresenta uma boa produção, ainda que irregular, dos últimos doze meses em território brasileiro. Talvez o melhor deles seja um documentário de estrutura extremamente convencional (trechos de entrevista intercalados com algumas imagens de apoio), mas que tem um conteúdo emocional profundo. No gaúcho O Segredo dos Lírios, realizado por Brunna Kirsch e Cris Aldreyn, somos apresentados a três mulheres: Estela, Christiane e Vera. Todas tem filhas lésbicas e contam, à sua forma, como lidaram com a sexualidade das meninas: uma sempre tratou com naturalidade; outra tinha desconfiança, mas ainda ficava na dúvida sobre o que fazer; já a história mais forte mostra uma mãe ausente que justamente começou a se aproximar da filha, ainda que com muitas ressalvas no início, após a descoberta da orientação da garota.
O melhor de tudo é que, por mais que as trajetórias sejam distintas, todas souberam, em determinados e diferentes períodos, aceitar que os filhos são como são e o que eles precisam é de acolhimento. Todos passaram por aquilo que qualquer mãe, com preconceitos ou não, pensa ao saber da sexualidade de seu filho: a clássica pergunta “onde foi que eu errei” e o medo do que os outros possam pensar e agir. O filme torna-se poderoso não apenas pela sinceridade com que estas mulheres revelam o amor pela sua prole, mas sim por mostrar que é este sentimento que pode salvar os filhos e torná-los corajosos para lutar contra uma sociedade hipócrita que adora julgar os outros sem olhar para o próprio rabo – com o perdão da expressão. Obrigatório para qualquer pai, mãe, irmão ou quem quer que seja.
Já no fraco Homem Completo é apresentada a história de uma noite de Marcelo, um rapaz que fica dividido entre o passivo Edu e o ativo João. Na produção paulista de Rui Calvo a discussão da “indefinição” das preferências do personagem principal na cama toma conta de uma forma superficial, ainda que os diálogos crus e que remetem ao cotidiano do mundo homossexual sejam um prato cheio. A história fica ainda mais comprometida ao tratar de forma estereotipada o gay passivo como o rapaz afeminado e que usa roupas “diferentes” e de marca em contraste ao ativo “macho alfa”: másculo, barbudo, musculoso, fala grosso e usa samba canção.
Já Desvelo, ficção baiana de Clarissa Rebouças, tem uma história que parece ter sido inspirada em Meninos Não Choram (1999), aquele mesmo que deu à Hilary Swank seu primeiro Oscar de Melhor Atriz. Luzia é uma jovem que se apaixona por Léo. Porém, o ex-namorado ciumento, Diogo, atormenta a vida dela. Ao descobrir de forma violenta que Léo é uma menina, Luzia tem certeza de seu amor, não interessando o sexo que ele tem. Afinal, o que precisa é de proteção. Ainda que esta mensagem possa se confundir um pouco no fim da história.
O carioca Uma, Duas Semanas, de Fernanda Teixeira, apresenta boas atuações na história de um aposentado que tem sua rotina alterada com a chegada do filho maquiador que quer ser ator no Rio de Janeiro. A relação entre pai e filho está mais focada nas atitudes de um com o outro (no caso, o rapaz querendo controlar e desestruturar a vida do idoso) do que na sexualidade. Ainda assim, é uma trama bem contada sobre a solidão e ainda possui com um final ambíguo e divertido.
Diversão, por sinal, é que permeia Chapô, de Eduardo Mattos. A ficção paulista mistura elementos de fantasia, chanchada e terror ao adaptar, de forma gay, sadomasoquista e kitsch, o conto da Chapeuzinho Vermelho. Chapeuzinho, ou melhor, Chapô (a referência, além da história, é ao figurino do personagem – uma camiseta do Chapolin Colorado) não aguenta mais viver com a mãe num minúsculo apartamento. E assim resolve procurar algum trabalho. No fim acaba sendo garoto de programa por uma noite, o que causa uma briga no dia seguinte. Ele vai embora de casa para o refúgio da vovó. Mal sabe que a vovozinha era uma tarada que foi, literalmente, comida pelo amante peludo. E agora Chapô pode ser a nova vítima. Profundidade zero, mas diversão nota dez.
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