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Confronto :: A Caça

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a caca papo de cinema 04

Thomas Vinterberg foi, ao lado de Lars von Trier, um dos pais do movimento Dogma 95, que buscou, no final do século passado, resgatar a naturalidade e o realismo no cinema europeu. Mas, ao contrário do polêmico colega, Vinterberg não perdeu muito tempo no mesmo registro, trilhando uma carreira diversa com (muitos) altos e (poucos) baixos. Após um tempo longe dos holofotes envolvido em projetos subestimados, ele voltou ao centro das atenções no último ano com o provocador A Caça (2012), uma história sobre pedofilia numa pequena cidade no interior da Dinamarca que foi premiada no Festival de Cannes, no European Film Awards e no Festival de Vancouver, entre outros lugares. Ainda assim, mesmo que favorito em mostras e festivais, passou meio que desapercebido pelo grande público, que não comprou muito bem essa trama que parece preferir caminhos não muito óbvios. E é por isso que o título merece essa revisão no Confronto, em que Dimas Tadeu elogia seus méritos, enquanto Marcelo Müller aponta suas falhas, sempre em até 200 palavras. Confira!

 

A FAVOR:Joia do cinema recente”, por Dimas Tadeu
Vinterberg gosta de levar seus personagens – e, por que não, seu elenco – ao limite das emoções. Se em Festa de Família (1998), seu filme mais célebre, isso se dava por meio das regras do Dogma 95, que conferiam a tudo um incômodo grau de realidade e crueza, é em A Caça, seu longa mais recente, que ele logra alcançar esse extremo com o máximo da graça e complexidade. Seja pela profundidade do roteiro, pela atuação visceral ou pela direção grandiosa, que explode em cenas memoráveis como a missa de natal, o filme é uma joia do cinema recente, cuidadosamente lapidada para ganhar o mundo. E, se por um lado a cadeia de eventos parece artificial ou forçada para provar as teses defendidas pelo diretor, por outro, é difícil pensar que, na mesma situação, as pessoas que conhecemos agiriam de forma diversa. Um naturalismo que, se por sua concepção faz lembrar Zola, por sua execução remete a diretores como Bergman, Pasolini e Bertolucci. Uma herança muito bem honrada por Vinterberg.

 

CONTRA:Presa de análises menos benevolentes”, por Marcelo Müller
O novo filme de Thomas Vinterberg, um dos pais do Dogma 95, foi bastante aplaudido por onde passou. Muitos se impressionaram com o retrato do professor acusado injustamente de abuso por uma de suas alunas do primário. Mads Mikkelsen realmente comove na pele do protagonista acossado na pequena comunidade. Há méritos, sem dúvida, mas seria essa repercussão algo equivocada ou exagerada? Cada um fará seu julgamento, contudo há certas facilidades na condução de A Caça que o candidatam a presa de análises menos benevolentes. Inconstâncias e até inverossimilhanças, como a passividade da figura central, o comportamento bizarro da diretiva escolar e até mesmo a guinada do roteiro (elipse de solavanco que busca solucionar ranços e rusgas), fazem do filme peça frágil a olhares menos enfeitiçados pela força inerente ao tema (pedofilia) tão controverso e catalisador por si. Melhor seria se Vinterberg investisse no dilema do pai da menina, amigo do indiciado, e não ficasse martelando sobre um personagem achatado e sem sinais de autodefesa. Tá certo, fosse ele menos passivo, inclusive utilizando métodos ao alcance de qualquer educador para desacreditar a menina, e as coisas se complicariam para o lado do diretor. Compreensível.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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