Dos nove indicados ao Oscar na categoria de Melhor Filme em 2013, talvez nenhum fosse tão comprometido com a realidade – e, justamente por isso, tão propenso ao debate e ao questionamento – quanto A Hora Mais Escura, segundo longa da diretora Kathryn Bigelow a se aventurar pelo universo do terrorismo e do confronto militar. Este foi seu primeiro trabalho após o surpreendente e oscarizado Guerra ao Terror (2009), e se despertou a atenção de muitos por mostrar de forma corajosa a caçada à Osama Bin Laden, em outros tantos suscitou dúvidas sobre as cenas de tortura e técnicas empregadas pelos norte-americanos em tempos em guerra. Indicado ao Oscar em cinco categorias, ganhou apenas em uma – como Melhor Edição de Som – mas recebeu muitos reconhecimentos para sua protagonista, a jovem e bela Jessica Chastain, que ganhou o Globo de Ouro e o National Board of Review de Melhor Atriz do ano. Intenso, nervoso e potencialmente polêmico, é um trabalho que merece ser discutido. Ainda mais aqui no nosso Confronto, que dessa vez coloca frente à frente os argumentos de Pedro Henrique Gomes e Marcelo Müller. Confira!
A FAVOR: “Pretensioso como todo grande criador de imagens sempre foi”, por Pedro Henrique Gomes
Para além de ser o filme “sobre a caçada a Bin Laden”, A Hora Mais Escura gira em torno de outra personagem. Como as grandes interpretações, ela surge pequena, quase irrelevante, mas depois cresce. A tal busca pelo “maior terrorista do mundo” não passa de desculpa para filmar o lado de cá da coisa. Ou seja, o filme não tem nada a ver com o terrorismo, mas sim com certas estruturas de poder: da mente ao corpo, tudo num âmbito de frivolidades e falsos amigos, de relações de força e resistência. De Bin Laden só é interessante mostrar um pedaço da face, um respingo de seu corpo moribundo. É Maya (Jessica Chastain), agente da CIA, quem protagoniza o drama. Nem a tortura, nem a morte que se oferece cotidianamente, nada disso é tema no filme de Kathryn Bigelow, cineasta pretensiosa, assim como os maiores criadores de imagens sempre foram. Após ter alcançado seu objetivo, Maya só vai derramar as primeiras lágrimas quando sua brutalidade espiritual não puder mais suportar “o peso do mundo”. Neste ano, não há nenhum filme que tenha mostrado com tanta força e com semelhante sutileza como os santos também têm duas caras.
CONTRA: “Discussões éticas que beiram o raso”, por Marcelo Müller
A Hora Mais Escura caminha sobre a esteira política e cinematográfica de Guerra ao Terror (2009), também um filme de qualidades questionáveis (mesmo vencedor do Oscar). Ambos são dirigidos por Kathryn Bigelow, artista mais citada como ex-mulher de James Cameron que por seus méritos (noutros longas, é bom dizer logo). Acusado de dizer “amém” aos procedimentos de tortura como elemento investigativo, o filme se propõe a desnudar o caminho percorrido até a captura do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden. De início tenso e com imagética algo retórica, vai gradativamente caindo num terreno pedregoso, quando não lamacento, de maquinações geopolíticas e discussões éticas que beiram o raso. A linguagem tensa escolhida por Bigelow apenas maquia a narrativa bastante simplista com a qual desenvolve seu longa, cuja tese, a bem da verdade, em nada se aproxima da corroboração com este ou aquele método. Ainda sobre a ética, ela é cortejada pelo enredo, mas poucas vezes vira vedete. Câmera na mão, sequências em breu total, explosões repentinas, e o que temos é uma variação mais aborrecedora e longa de Guerra ao Terror, este ao menos ciente de seu escopo e, vá lá, de abordagem interessante.
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