Stephen Hawking é um dos mais consagrados cientistas em atividade. Doutor em cosmologia, ele foi professor lucasiano de matemática na Universidade de Cambridge (posto anteriormente ocupado, entre outros, por Isaac Newton), além de fundador do Centro de Cosmologia Teórica da mesma e prestigiada instituição. Seus livros instigaram uma geração inteira a pensar a relação espaço-temporal. Essa figura emérita é delineada em A Teoria de Tudo (2015), indicado ao Oscar de Melhor Filme. O relacionamento duradouro entre Hawking (Eddie Redmayne) e sua esposa Jane (Felicity Jones), muitas vezes penoso para ambos em virtude da doença degenerativa que o acometeu cedo, guia a abordagem. Há quem veja A Teoria de Tudo apenas como mais uma cinebiografia burocrática, enquanto outros defendem sua sensibilidade de ressaltar os legados humano e científico de Hawking. Do primeiro time faz parte o crítico Marcelo Müller. Engrossando as fileiras do segundo está seu colega Roberto Cunha. Confira o Confronto da semana e não deixe de opinar.
A FAVOR :: “O longa cumpre sua missão”, por Roberto Cunha
A Teoria de Tudo estreou em novembro passado nos Estados Unidos, e somente no finzinho de janeiro no Brasil. Antes disso, recebeu quase uma centena de indicações (cinco ao Oscar) e papou cerca de 20 prêmios, entre eles dois Globo de Ouro, como o conquistado por Eddie Redmayne (incrível) na pele de Stephen Hawking. Agora, inacreditável também é ver a produção ser condenada por ter ficado presa ao físico e não ter viajado de maneira mais profunda nos aspectos da física. Oras. Se o filme não é sobre isso e sim baseado no livro de sua ex-esposa, que enfatiza mais a relação do casal, como “cobrar” algo diferente? É até possível ver o gênio evoluindo nas teorias revolucionárias sobre buracos negros e big bang, mas o espaço e o tempo do longa (bem) dirigido por James Marsh é o começo dos estudos, o surgimento da doença e, claro, o relacionamento amoroso com Jane Hawking e as consequências boas e/ou ruins desse romance. Sob essa ótica, o longa cumpre sua missão, entregando uma boa reconstituição de época, bons diálogos, elenco coeso, boa trilha sonora e momentos de emoção. E se o roteiro é quadradinho, bom foi ver que ele desce redondo.
CONTRA :: “Cinema com prazo de validade”, por Marcelo Müller
A Teoria de Tudo, cinebiografia de Stephen Hawking, físico e cosmólogo britânico, traça um caminho açucarado e edificante a fim de retratá-lo. Optando por um viés mais palatável, que privilegia a vida pessoal de Hawking em detrimento de sua importância teórica, o filme se desenvolve numa linha previsível. O roteiro constrói momentos de felicidade e êxito, para logo depois contrapô-los com instantes nos quais a doença não pode ser ignorada como barreira considerável. Acaba que logo nos acostumados com o esquema. Inegável, há alguns momentos emocionantes, a maioria deles mérito da interpretação de Eddie Redmayne, ele que dosa muito bem a euforia do começo, quando vê surgir não apenas um grande amor, mas a possibilidade de desenvolver suas pesquisas, e a gradativa ruína física que, felizmente, não debilitou uma das mentes mais criativas a estudar o, nas palavras do personagem, casamento entre espaço e tempo. Contudo, muitas complexidades inerentes à situação de Hawking são trabalhadas cuidadosamente, mas com tanta cerimônia que perdem força, no fim das contas soando calculadas demais, quadradas. Cinebiografias assim são matematicamente criadas para angariar prêmios, e desaparecem do radar tão logo os anúncios sejam feitos. Cinema com prazo de validade.