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Confronto :: A Visita

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A carreira de M. Night Shyamalan poderia ser representada por um meteoro que ascendeu ao firmamento com velocidade e intensidade proporcionais à posterior queda. Projeto após projeto o cineasta indiano, naturalizado norte-americano, foi desapontando a maior parte dos fãs que acompanharam com entusiasmo seus filmes iniciais, e passaram a não reconhecê-lo como artista, nem ao menos como artesão esmerado, em realizações que naufragaram, embora a bilheteria nunca tenha lhe virado as costas totalmente. A Visita (2015), seu mais recente filme, está sendo celebrado por alguns como retorno aos bons e velhos tempos. Outra parcela da audiência, porém, acredita que esta é apenas uma nova etapa da decadência. Para botar mais lenha na fogueira, chamamos ao Confronto da semana os críticos Leonardo Ribeiro e Renato Cabral. O primeiro defende A Visita do ataque do segundo. E você, de que lado está nessa contenda que põe o filme na berlinda? Confira e não deixe de opinar.

 

 

A FAVOR :: “Um belo retorno do cineasta à boa forma”, por Leonardo Ribeiro
Após dois projetos impessoais, O Último Mestre do Ar (2010) e Depois da Terra (2013), M. Night Shyamalan encontrou no terror de found footage uma forma de voltar a ter um domínio maior sobre sua obra. A princípio, a estética do subgênero parece conflitar com o estilo rebuscado do cineasta, mas Shyamalan encontra nele uma forma de explorar um viés do terror ausente em seus outros trabalhos: o cômico. É em chave satírica, portanto, que Shyamalan constrói sua trama com toques de João e Maria sobre dois irmãos que vão passar férias na casa dos avós, onde fatos perturbadores acontecem. Se nos exemplares comuns o found footage serve para emular o realismo, aqui Shyamalan assume a farsa sem temor, através da figura da garota aspirante a cineasta que manipula constantemente seu registro. Os momentos de suspense e tensão estão presentes, como a sequência do “pega-pega” embaixo da casa, e há até a reviravolta surpresa ao final. Mas é mesmo em sua capacidade de mesclar o horror ao riso que A Visita se sustenta. Um belo retorno do cineasta à boa forma. Shyamalan ainda encontra espaço para trabalhar os temas mais pessoais de sua filmografia, como a relação entre filhos e pais ausentes.

 

CONTRA :: Beira, em diversos momentos, o irritante”, por Renato Cabral
Se compararmos A Visita com cada um dos últimos três filmes de M. Night Shyamalan é até fácil considerar essa sua nova empreitada algo próximo de uma produção relevante. Mas, levando em consideração o restante da filmografia do cineasta ou considerando seu novo filme num cenário ainda mais amplo, é um tanto frustrante se deparar com algo tão previsível, que beira, em diversos momentos, o irritante. Shyamalan, em determinados pontos de sua filmografia, parte de uma premissa familiar para adentrar num universo bizarro e assustador que ameaça esse cenário perfeito. Em A Visita isso se torna ainda mais visível e didático. Infelizmente, se valendo de uma trama sem momentos memoráveis e diálogos escritos de forma tão superficial e pobre, o diretor acaba caindo no poço das produções de suspense genéricas. A verossimilhança que ele busca, para isso adicionando ao filme uma ideia de documentário, começa interessante e acaba cômica. Sem falar na presença daquela perfeita conexão de rede que dá direito até a uma videoconferência de Skype em alta definição.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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