Terrence Malick é um cineasta bastante singular. Em 2013 ele completa quatro décadas de atividades cinematográficas, e neste período realizou apenas seis filmes (uma média de um novo título a cada 6 ou 7 anos). O maior intervalo que ficou sem filmar foi entre Cinzas no Paraíso (1978) e Além da Linha Vermelha (1998), ou seja, por vinte anos. No entanto, após conquistar a Palma de Ouro no Festival de Cannes e ser indicado aos Oscars de Melhor Filme e Direção por A Árvore da Vida (2011), o diretor retornou às telas, apenas um ano depois, com o enigmático Amor Pleno. Lançado com bastante expectativa no Festival de Veneza de 2012, provocou reações extremas: enquanto metade da sala de exibição se retirava sob fortes vaias, a outra permanecia extasiada com o que era visto na tela grande. Tanto que o longa recebeu um prêmio especial do júri oficial. Definitivamente, este não é um filme que permita a indiferença, e justamente por isso se tornou o candidato ideal desta semana para mais um Confronto, entre um apaixonado (Dimas Tadeu) e um indignado (Marcelo Müller). E você, o que achou de Amor Pleno?
A FAVOR: “A beleza que só as grandes obras podem ter”, por Dimas Tadeu
Fazer cinema nem sempre é contar uma história. Às vezes, o que ocupa a tela se parece muito mais com um ensaio, um poema (Pasolini já falava de “cinema de poesia”), do que com um romance. Nesse sentido, Terrence Malick pode se gabar de ser um dos maiores ensaístas que a tela grande já viu. Após arrebatar o mundo com A Árvore da Vida (2011), dando ao filme uma dimensão quase cósmica, o diretor se volta a um tema que, de tão comum e trivial no cinema, se impõe como desafiador: o amor. Amor Pleno justapõe os conceitos teológico-filosóficos de Ágape e Eros enquanto explora as venturas e desventuras de um casal que é todos os outros, um padre que representa a fé em seu sentido mais abstrato. Malick constrói sua jornada ao universal a partir de particulares e, se o trajeto as vezes parece audacioso ou hermético, seu percurso oferece a beleza que só as grandes obras podem ter. Se por sua linguagem Amor Pleno talvez pareça um filme para poucos, por sua natureza se revela um filme sobre todos.
CONTRA: “História rasa disfarçada de epifania interminável”, por Marcelo Müller
O recluso Terrence Malick, tido como um dos mais criativos e talentosos artistas do cinema atual, viu o culto ao redor de si alastrar-se bastante após A Árvore da Vida (2011), realização tão aplaudida quanto contestada. Sua mais nova obra, Amor Pleno, chegou chancelada por admiradores de antemão, mas é dos filmes mais fatigantes que vi nos últimos tempos. A estética repleta de planos e imagens impressionantes é a mesma. Contudo, se no longa anterior (do qual gosto muito), inclusive o forte caráter metafísico era, no mínimo, coerente, pois ajudava a relacionar, num plano superior, o macro (criação do mundo) com o micro (dificuldades enfrentadas em família), aqui o americano coloca a beleza e a religiosidade a serviço de uma história rasa, disfarçada de epifania interminável. Malick pretende fazer de cada movimento uma espécie de revelação divina e, na soma, algo que sinalizaria a força originária do Deus que, no filme, castiga com vida de infortúnios sentimentais o homem “responsável” pela contaminação da terra, isso para citar apenas um dos moralismos dogmáticos apregoados. Amor Pleno é chato e arrastado blá-blá-blá teofânico.