Terceiro longa-metragem dirigido por Ben Affleck, Argo foi uma das grandes surpresas da temporada de premiações 2012-2013. Lançado em outubro de 2012 após ter passado por uma série de festivais (Telluride, Toronto, Zurique, Helsinki e Rio de Janeiro, entre outros), chegou despertando mais curiosidade do que expectativa. Afinal, o que o astro de produções tão descartáveis quanto Pearl Harbor (2001) ou Sobrevivendo ao Natal (2004) poderia ter feito de tão bom? Mesmo tendo sigo ignorado no Oscar – Affleck não foi indicado nem como Ator, nem como Diretor – Argo acabou caindo nas graças do público (mais de US$ 220 milhões arrecadados em todo o mundo, para um orçamento de US$ 44,5 milhões) e se confirmou como um dos favoritos da indústria e da crítica, que o premiaram no Globo de Ouro, no Critics Choice Awards, no BAFTA (Inglaterra), no César (França), no Sindicato dos Diretores, dos Produtores, dos Roteiristas e dos Atores, no National Board of Review, pela associação dos críticos da Espanha, da Florida, de Phoenix, de San Diego e, por fim, com a consagração final do Oscar, de onde saiu com três estatuetas: Edição, Roteiro Adaptado e Melhor Filme do Ano! Mas, ainda assim, o título está longe de ser uma unanimidade, e é por isso que iremos apresentar aqui duas visões opostas – além da crítica oficial, do Rodrigo de Oliveira, já publicada – sobre esse que foi um dos longas mais comentados da última temporada. Confira, veja o filme e faça a sua escolha!
A FAVOR: “Competência com criatividade”, por Robledo Milani
Por quê Argo foi apontado como o melhor filme do ano? As razões são muitas. Ele pode não ser fantástico como As Aventuras de Pi, revolucionário como Django Livre, historicamente relevante como Lincoln ou polêmico como A Hora Mais Escura, mas possui algo que o fez ser superior a todos os seus concorrentes ao Oscar: universalidade. Afinal, trata-se de uma trama inspirada em fatos reais, muito bem contada, interpretada por atores em perfeita sincronia e dirigida por um cineasta que sabia bem o que queria e como conseguir. Affleck, que tem se reinventado nos últimos anos, atingiu com Argo o melhor do seu talento, numa atuação contida e com um domínio de cena enquanto realizador digno de aplausos. A história do resgate dos funcionários da embaixada americana em um Irã conturbado e revolucionário ganha ares de thriller de ação, ao mesmo tempo em que provoca e incomoda na medida certa, mostrando que certas coisas não mudam nunca. Este é um filme que deverá permanecer na memória de muitos por um bom tempo, principalmente pela sua imensa competência, aliada a uma criatividade e uma vontade de fazer melhor tão rara no cinema comercial.
CONTRA: “Discurso enfraquecido e infantilizado”, por Pedro Henrique Gomes
Argo entra num formigueiro. Não poderia ser mais difícil sua premissa: filmar qualquer coisa (um falso-filme?) em plena Revolução Iraniana (que não é nem pano de fundo, mas meramente uma desculpa) a partir de um ponto de vista que não é o dos iranianos. E não escapa de complicações subsequentes, que nascem não de sua forma, pois é justamente a maneira de colocar as coisas e não os meios utilizados para tanto, que acabam lhe infantilizando, fazendo com que se tente respeitar certa coerência jornalística, ouvindo a voz do “outro”, mas ao mesmo tempo caricaturando covardemente esse rosto estranho, reduzindo a História a uma situação de equívocos e mal-entendidos como no “prólogo” – o contraditório e seus clichês – o que enfraquece o discurso. Mas ainda não é esta sua maior dificuldade, até porque o cinema americano é construído em cima dos discursos ideológicos e é, precisamente sobre essa base, que ele é bem-sucedido. Seu problema não é uma questão técnica ou de exposição do assunto diante das circunstâncias criadas, uma vez que o encadeamento da trama é bem articulado. O que é ainda pior, pois a pobreza de Argo está mesmo nas ideias.