Poucas vezes público e crítica estiveram tão distantes como nesse caso. O esperado encontro dos maiores heróis da DC Comics levou milhares de pessoas aos cinemas, quebrando recordes ao redor do mundo – no Brasil, fez a maior bilheteria da história em um final de semana, enquanto que nos EUA alcançou os melhores números de todos os tempos para a época do ano em que foi lançado e para todos os títulos já produzidos pela Warner. Por outro lado, os dois maiores sites que agrupam críticas dos principais veículos especializados foram impiedosos, atingindo consensos radicais: Rotten Tomatoes (29%) e Metacritic (44). E se a nossa critica oficial foi mais do que positiva – o editor-chefe Robledo Milani deu nota 8 – o corpo crítico do site também se dividiu. E por isso essa edição especial do Confronto. Nove dos nossos críticos foram logo conferir a aventura, e após fazerem suas avaliações, chegamos a uma nota média (ainda assim, surpreendentemente positiva). Depois, convocamos dois representantes de cada lado para fazerem suas considerações finais. Confira os argumentos prós e contras, e tire sua própria conclusão. Afinal, independente do resultado, o certo é que ainda teremos muito de Batman e Superman nos cinemas nos próximos anos!
VOTARAM: Danilo Fantinel, Filipe Pereira, Marcelo Müller, Matheus Bonez, Roberto Cunha, Robledo Milani, Rodrigo de Oliveira, Thomas Boeira e Yuri Correa.
NOTA MÉDIA DO PdC: 6,78
A FAVOR:
“É verdadeiramente um êxito porque prioriza a abordagem humana”, por Marcelo Müller (nota 8)
O risco era grande, afinal, além do custo ter alcançado valores quase proibitivos, este é o primeiro passo efetivo do novo universo cinematográfico da DC Comics. O que esperar, então, do embate entre Batman e Superman, com direito à participação da Mulher Maravilha e do sempre temível Apocalipse, senão batalhas épicas e grandiloquentes? Zack Snyder nos dá tudo isso, ainda se valendo das suas famigeradas câmeras lentas e pesando a mão, vez ou outra. Contudo, os eventuais deslizes são completamente perdoáveis ante à construção sólida dos personagens. Ben Affleck, que a maioria temia ficar aquém da tarefa, se mostrou um Batman sombrio na medida, um marginal atormentado por fantasmas do passado. Henry Cavill está mais seguro como o Homem de Aço, conseguindo transmitir o heroísmo do personagem, sem com isso descuidar de suas fragilidades. Gal Gadot também surpreende como Mulher Maravilha, aliás, é bastante inteligente a inserção gradual dela na trama. O Lex Luthor de Jesse Eisenberg é caricatural, uma figura que destoa das demais com propósito expressivo. Todavia, este filme é verdadeiramente um êxito porque, para além da pirotecnia, prioriza a abordagem humana, falando na essência de dois homens assombrados, um pelo trauma e o outro pela inadequação.
“Seus defeitos ficam menores perante as qualidades”, por Matheus Bonez (nota 8)
Não é um filme perfeito. Temos um Lex Luthor que beira ao Coringa com alguns tons a mais do que deveria, o vício do diretor Zack Snyder com closes e o roteiro, que apesar de bem amarrado em geral, contém pontos dispensáveis, assim como a própria briga do título tem um desfecho fácil demais. Porém, seus defeitos ficam menores perante as qualidades. A Warner conseguiu seu objetivo: estabeleceu uma linha para o Universo DC nos cinemas com dois de seus maiores ícones em representações fieis sobre eles, mostrando a gênese do que é ser um herói sob vários aspectos. Afinal, a dicotomia de ações e pensamentos de Batman e Superman não poderia ser mais distinta, ponto extremamente realçado ao longo do filme. De quebra, temos uma participação (ainda que pequena) da maior heroína das HQs. A Mulher Maravilha de Gal Gadot pode aparecer e falar pouco, mas mostra a que veio nas suas parcas cenas, de femme fatale que engana Bruce Wayne até a guerreira amazona imbatível que é peça chave no confronto final. O longa, acima de tudo, diverte na medida. Sem perder aquele clima sério e sombrio que torna a DC tão diferente da concorrente Marvel.
CONTRA:
“Cria cenas de ação grandiosas, mas desinteressantes”, por Thomas Boeira (nota 5)
O encontro que este filme desde o título apresenta é algo que o cinema já tentou retratar em outras ocasiões e os fãs de quadrinhos há tempos queriam ver nas telonas. E é claro que tem alguns destaques, como a forma como os personagens-título são retratados, sendo que tanto Henry Cavill quanto Ben Affleck aparecem seguros nos papeis. Também é possível ver que o roteiro traz boas ideias para o desenvolvimento da trama, e a discussão sobre a necessidade de termos um Superman e o impacto que o herói tem causado na humanidade são exemplos disso. Mas são coisas que perdem espaço em meio a uma narrativa bagunçada, que não sabe se conta sua história ou insere vagamente elementos que só serão desenvolvidos em longas posteriores. Zack Snyder também não mostra a competência que marcou outros trabalhos de sua filmografia, criando cenas de ação grandiosas, mas desinteressantes e com uma energia artificial. Tudo chega ao ápice no fraquíssimo terceiro ato e seu espetáculo vazio ancorado nos efeitos visuais. Infelizmente, a grande reunião cinematográfica dos icônicos heróis da DC Comics não aproveita todo seu potencial, mas tomara que a base estabelecida aqui renda produções melhores futuramente.
“O diretor não parece ter inteligência emocional”, por Filipe Pereira (nota 4)
A rejeição que a crítica especializada propôs certamente não faz jus ao longa-metragem de Zack Snyder, que até conseguiu evoluir ligeiramente seu esquema após O Homem de Aço (2013). O problema é que esse crescimento foi diminuto. O roteiro se assemelha a uma colcha de retalhos, em que as partes interessantes, envolvendo o Morcego, parecem ser feitas por Chris Terrio, enquanto o monte de abobrinhas e situações forçadas fazem lembrar alguns dos piores momentos da já combalida filmografia de David S. Goyer. Mesmo as cenas de ação pecam por serem efêmeras, e a amizade entre os dois protagonistas se dá a partir de uma coincidência infeliz e imbecil retirada dos quadrinhos, e nunca explorada exatamente por ser piegas. O diretor não parece ter inteligência emocional para tratar da complexidade filosófica que é tratar de um deus entre homens, dando-se ao luxo inclusive de mostrar um vilão que antecipa o trabalho de um assessor de imprensa ao criar logos e emblemas para os heróis. Resta ao público torcer para que o futuro cinemático da DC não esteja mais sem restrições nas mãos do “visionário” Snyder, ou mais histórias pueris e pseudo-maduras ocorrerão com os heróis mais conhecidos do mundo moderno.
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