Os cineastas Filipe Matzembacher e Marcio Reolon tiveram seu primeiro longa-metragem, Beira-Mar (2015), selecionado para a Sessão Fórum do Festival de Berlim. Já no recente Festival do Rio, ganharam o prêmio Novos Rumos, concedido a cineastas iniciantes, e uma Menção Especial do Júri do Troféu Felix, outorgado a filmes de temática LGBTQ. Logo depois, sua então laureada produção chegou ao circuito comercial, angariando mais críticas positivas que negativas. A trama gira em torno de dois jovens, interpretados por Mateus Almada e Maurício José Barcellos, às voltas com revelações e descobertas no litoral gaúcho acinzentado pelo inverno. Para discutir a respeito de Beira-Mar, convidamos ao Confronto da semana os críticos Edu Fernandes e Marcelo Müller. Confira e não deixe de opinar.
A FAVOR :: “Os diretores perseguem a desfragmentação da angústia”, por Marcelo Müller
Martin e Thomas vão até o litoral do Rio Grande do Sul para resolver questões familiares. A praia de Capão da Canoa no inverno é um cenário bucólico, opaco. A cidade, distante da lotação do veraneio, está deserta, oferecendo poucas opções aos dois. Foque e desfoque. Geralmente apenas o primeiro plano está nítido. Metáfora, pois os sentimentos também estão difusos. Martin se depara com parentes arredios, talvez em virtude do comportamento do pai que, assim, o mandou para uma missão penosa. Thomas acompanha o amigo, deixando escapar, por meio dos olhares e dos desenhos, que nutre outro tipo de amor pelo companheiro de estrada e estada. Neste filme, o drama dos personagens se adensa devagar. Não são resoluções que os diretores Filipe Matzembacher e Marcio Reolon perseguem, mas, sim, a desfragmentação da angústia, seja a de quem não entende muito bem a desunião da família, ou a daquele que está se descobrindo sexual e sentimentalmente. A belíssima cena final, precedida da noite que une ainda mais os protagonistas, fecha um ciclo de aprendizado e, sobretudo, prenuncia amadurecimento.
CONTRA :: “Um curta alongado”, por Edu Fernandes
Este filme gaúcho sofre do mal que assola boa parte da produção recente do cinema brasileiro: curtas alongados e longas curtos. Um dos temas do roteiro é o desejo, mas a tônica não condiz com o assunto e se dá pela estética do cinema de homeopatia, na qual quanto mais diluídas as emoções, melhor. Prova disso é que os atores são propositalmente parecidos fisicamente, uma vez que um deles passou por alisamento dos cabelos, para que se abra espaço às afetações visuais que mais confundem do que auxiliam. Assim, proliferam silêncios e planos de paisagem que afastam a sensação dos personagens das cenas vividas na tela. Na tentativa de não cair em códigos hollywoodianos óbvios, o filme se vale de recursos usados à exaustão em outras produções independentes, o que não deixa de ser também uma obviedade, só que menos eficiente. O triste é que há metáforas visuais criativas, especialmente no campo sexual – um elemento elogiável que é desperdiçado pela ânsia de criar algo autoral em detrimento da comunicação com o público.