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Confronto :: Blue Jasmine

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Woody Allen é um dos cineastas mais prolíficos em atividade. Todo ano temos um novo filme desse artista de estilo marcado, espécie de personificação da neurose instaurada nas grandes cidades, um intelectual avesso ao pedantismo e criador sem igual de diálogos tão espirituosos quanto profundos. Sua mais nova realização, Blue Jasmine (2013), gira em torno da personagem interpretada por Cate Blanchett, ex-socialite perturbada após o suicídio do marido caloteiro, e logo dependente da bondade da irmã pobretona que antes renegava. Com ares de Um Bonde Chamado Desejo, o filme tem angariado defensores e detratores, ainda que a proporção dos primeiros seja consideravelmente maior. Bastante comentado, o trabalho de Blanchett a credencia desde já como uma das sérias candidatas ao Oscar de Melhor Atriz. Aliás, para muitos ela é melhor que o próprio Blue Jasmine. Para colocar mais lenha na fogueira, chamamos Renato Cabral, que relativiza os méritos do longa, e Robledo Milani, fã confesso da mais nova obra de Allen. Confira!

 

A FAVOR ::Um roteiro que estabelece um inteligente jogo de adultos”, por Robledo Milani
Alguns cineastas fazem refilmagens, continuações ou prequels. Outros, os autores, promovem releituras, reinterpretações, numa abordagem muito mais rica e criativa a partir de um tema explorado anteriormente. Obviamente, é neste universo onde se encaixa Woody Allen, um dos mais confiáveis cineastas americanos, que entre (muitos) altos e (poucos) baixos nunca deixa de agradar, nem que seja aos seus fãs inveterados. Pois o que acontece com seu mais recente trabalho, o intenso e, até certo ponto, perturbador, Blue Jasmine, está além disso. Afinal, trata-se de um filme que não se contenta apenas com o espectro de admiradores do cineasta, mostrando-se à altura de qualquer espectador que saiba identificar um bom cinema, independente de idade, cor, gênero ou sexo. Cate Blanchett – desde então favorita ao Oscar – constrói um dos personagens mais ricos desta temporada, como uma Blanche DuBois desorientada que vê o chão sumir debaixo dos seus pés, ao mesmo tempo em que é obrigada a lidar com uma nova realidade, muito distante da qual estava habituada. O filme ganha pelo elenco muito acima da média, mas também pelo roteiro rico em situações que exigem cada vez mais, tanto dos tipos em desfile como da audiência, estabelecendo um inteligente jogo de adultos.

 

CONTRA ::Cansativo, desgastante e nada original” , por Renato Cabral
Jasmine está em depressão. Perdeu o marido, dinheiro, a sanidade, e por própria culpa. Entender sua explosão e inconsequência verborrágica é um tanto difícil, mas nas mãos de uma atriz como Cate Blanchett, que entrega uma das melhores – se não a melhor – performance do ano, isso é justificado. Até aí, tudo parece perfeito, não é? Só que Blue Jasmine não passa disso, um filme de performance. Se por um lado Cate Blanchett é essencial, por outro Woody Allen parece ser quase dispensável. Bebendo muito de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, o diretor entrega personagens exageradamente clichês, e clichês até mesmo do próprio cinema de Allen. É cansativo, é desgastante e nada original. O roteiro não é nada mal, alguns diálogos são bons, nada que fique na memória. Devemos mesmo é dar boa parte do crédito para a edição genial de Alisa Lepselter. Sem todos esses aspectos excepcionais, Blue Jasmine certamente seria tão esquecível como a passagem da personagem-título pela alta sociedade nova-iorquina.

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