Um dos filmes mais adoráveis e festejados do cinema americano, Bonequinha de Luxo era desprezado justamente por aquele que o concebeu: Truman Capote, autor do livro no qual a história é inspirada. O polêmico escritor tinha em mente o corpo sinuoso e a loirice incendiária da sexy Marilyn Monroe interpretando sua protagonista, mas não era bem isso que os Estúdios Paramount e o diretor Blake Edwards visualizavam. Tanto que a escolhida foi Audrey Hepburn, com sua elegância morena completamente oposta à de Marilyn. Mesmo assim o longa foi um grande sucesso, indicado a 5 Oscars – inclusive à Atriz e Roteiro Adaptado – e premiado em Trilha Sonora e Canção Original, para a inesquecível Moonriver, de Henry Mancini. Amado pelos fãs da estrela e ignorado pelos admiradores do escritor, principalmente pelas diversas mudanças do roteiro em relação à obra original, Bonequinha de Luxo é o clássico em debate no Confronto desta semana, com Robledo Milani na defesa e Renato Cabral no ataque. E você, de que lado fica nesta divertida batalha?
Ela pode não ser a Holly Golightly que Truman Capote imaginou ao escrever seu romance, mas Audrey Hepburn será para sempre a Bonequinha de Luxo em nossas mentes e corações. Atriz vencedora do Oscar por A Princesa e o Plebeu (1953) e ícone da moda com seu rosto angelical e estilo elegante, ela será eternamente lembrada como a prostituta que apreciava tomar seu desjejum em frente à joalheria Tiffany, em Nova York, enquanto suspirava por dias melhores. A paixão que aos poucos a fará se entregar ao escritor novato que se muda para o mesmo prédio, a canção-tema de Henry Mancini que até hoje embala nossos sonhos ou mesmo o jeito atrevido e inquieto dessa garota que nos deixou de boca aberta se tornou o maior papel da carreira de Audrey, sendo até hoje reconhecido como uma das maiores comédias românticas de todos os tempos. Genialidade do diretor Blake Edwards, o texto bem apurado de Capote ou mérito apenas da protagonista? Talvez seja um pouco de tudo isso, pois é difícil creditar a um só elemento uma combinação tão feliz quanto essa.
Apresentando uma Audrey Hepburn que oscila entre a fofurice e a amargura, Bonequinha de Luxo é um filme que não é nenhum dos dois adjetivos que poderia carregar. Essa oscilação da protagonista, que poderia ser um ás na manga, se mostra completamente irritante. Com direção do sempre excelente Blake Edwards (Um Convidado Bem Trapalhão, 1968), a produção é baseada no livro de Truman Capote, e sua transcrição para as telas é repleta de elementos e cenas pontuais que o tornariam referência na história do cinema, na carreira de Audrey Hepburn e no mundo da moda. Um reconhecimento muito mais visual e plástico do que pelo real significado da obra, que parece desaparecer. O que no livro de Capote ganhava subtextos e cada vez mais camadas, com questões envolvendo prostituição, no filme de Edwards vira um emaranhado de gags. Um superestimado clássico, exageradamente reconhecido por uma performance regular de sua protagonista. Audrey Hepburn tem papéis fofos e amargos bem melhores que Bonequinha de Luxo.