Branco Sai, Preto Fica (2015) foi o grande vencedor do Festival de Brasília de 2014, levando para casa 11 prêmios, entre eles o Candango de Melhor Filme. No último dia 12, saiu do Festival Internacional de Cinema do Uruguai também com o troféu principal. Muita gente aplaudiu o viés crítico embutido no cotidiano dos protagonistas que relembram uma tragédia enquanto preparam a revolução, bem como a linguagem híbrida entre documentário e ficção. Mas, parafraseando Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”. Será mesmo que Branco Sai, Preto Fica é tudo isso que dizem? Não estariam alguns dos ditos especialistas, assim como parte do público, apenas extasiados com algo de brilho aparente, um fogo de artifício que se extingue rapidamente? Para acirrar o debate, chamamos ao Confronto da semana os críticos Marcelo Müller e Robledo Milani. O primeiro celebra o filme de Adirley Queirós, enquanto o segundo relativiza bastante os méritos a ele atribuídos. Confira.
A FAVOR :: “Daqui a 30 anos ainda falaremos deste filme”, por Marcelo Müller
Sem querer exagerar, acho que daqui a 30 anos ainda falaremos de Branco Sai, Preto Fica. Nele, a periferia ganha realmente voz e vez. A rádio pirata não tem isolamento acústico, para que o ouvinte receba os sons do cotidiano que se infiltram sem filtro. O DJ cadeirante relembra no microfone a noite em que a polícia tirou-lhe o movimento das pernas. Cena forte que nos faz construir mentalmente o episódio. Enquanto isso, vemos seu colega de passinho, agora com uma perna mecânica, resultado da mesma ação de proporções descabidas. Ambos amputados, física, psicológica e socialmente. O contêiner é a máquina do tempo que traz um investigador do futuro, cuja missão é reunir provas para incriminar o governo. Impressionante a construção imagética da Ceilândia, cidade-satélite retorcida pela marginalização, de prédios carcomidos e ferro velho pelas ruas. Da precariedade, do orçamento baixo, brota a originalidade. Se não dá pra mostrar, o filme sugere, valendo-se dos dispositivos que estiveram à mão. A bomba que os oprimidos querem lançar em Brasília é de sonoridades marginalizadas, um estrondo de proporções estéticas para abalar o “bom gosto” que sustenta as bases da capital federal. Ficção científica terceiro-mundista. Filmaço de Adirley Queirós.
CONTRA :: “Seu discurso é confuso, e se tem algum valor enquanto denúncia, não é eficiente em se valer enquanto obra cinematográfica”, por Robledo Milani
Adirley Queirós é um cineasta do tipo ‘self made man’, ou seja, daqueles que se fez na base da tentativa e erro. No entanto, é curioso perceber que ele parece se vangloriar mais dos erros do que dos acertos. E isso fica muito claro neste longa, seu segundo como realizador. A partir de um fato verídico – episódio ocorrido na periferia do Distrito Federal, em um baile black invadido por policiais que teriam declarado a frase que virou título do filme, mirando o ataque especificamente contra os cidadãos negros – Queirós criou uma narrativa mirabolante e confusa, que mistura ficção-científica, comédia, thriller e documentário, porém sem acertar em nenhum destes alvos. Seu discurso é confuso, e se tem algum valor enquanto denúncia, não é eficiente em se valer enquanto obra cinematográfica justamente por lhe faltar domínio dos elementos típicos deste tipo de manifestação não apenas cultural e de entretenimento, mas também artística e social. Um boa prova disso é que, apesar de ter circulado por outros festivais nacionais, só se consagrou mesmo em Brasília – ou seja, onde teria um valor acima de tudo emocional. E como já diz o ditado, santo de casa não faz milagre
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