Os heróis da Marvel mostraram tanto ser “galinhas dos ovos de ouro” nos cinemas, que a Disney comprou a editora, certamente de olho nas evidentes possibilidades de arrecadação futura com sua exploração das telonas. Dentro desse panorama de números cada vez mais inflados, surge Capitão América 2: O Soldado Invernal, nova aventura da figura mais patriótica dentre os Vingadores. O centro da trama é uma conspiração que pode levar a agência S.H.I.E.L.D. à destruição, em meio a um plano de dominação mundial. Desperto na contemporaneidade, Steve Rogers (Chris Evans) se depara dramaticamente com seu passado ao passo que, sobretudo com a ajuda da Viúva Negra (Scarlett Johansson) e do Falcão (Anthony Mackie), tenta salvar o planeta de um cataclismo.
Para debater a respeito da mais nova incursão Marvel das telas, chamamos Eduardo Dorneles, que gostou bastante do que viu, e Marcelo Müller, que, por sua vez, achou tudo meio pirotécnico e esvaziado demais. Confira e dê sua opinião.
A FAVOR :: “É o melhor filme da Marvel”, por Eduardo Dorneles
Quando a Fase 2 da Marvel começou com Homem de Ferro 3 (2013), esperava-se algo que honrasse e superasse Os Vingadores (2012). Não aconteceu. O mesmo houve, mas com uma expectativa menor, com Thor: O Mundo Sombrio (2013). Entretanto, nenhum deles conseguiu traduzir a ideia de uma nova fase. Até agora. Capitão América 2: O Soldado Invernal finalmente entrega um avanço e uma significativa mudança na narrativa dos personagens presentes nesse universo. Na verdade, o filme simplesmente explode sua cabeça e gera a angustiante pergunta: o que vai acontecer daqui para frente? Mas não fica apenas nisso. A história não é apenas uma peça condutora para algo maior. O filme por si só já é grandioso e eloquente. Não se limita apenas a uma narrativa de super-herói. Tirando o característico escudo de Steve Rogers, o que fica é um jogo de espionagem e manipulação política. O filme se leva a sério. O humor é ponderado e adulto. A ação é avassaladora. Há questionamentos contundentes sobre liberdade de expressão em um mundo completamente vigiado; sobre o papel de organizações mundiais – leia-se ONU – dentro de hegemonias nacionais. Com temor quase sacro afirmo isso: é o melhor filme da Marvel!
CONTRA :: “O que incomoda é a falta de personalidade”, por Marcelo Müller
Parece que a grandiloquência da Marvel cresceu ainda mais após sua incorporação pela Disney. Tudo agora é ameaça em escala global, e isso se repete em Capitão América 2: O Soldado Invernal. É um filme ruim? Com certeza não, mas está aquém, por exemplo, de seu antecessor. Em Capitão América: O Primeiro Vingador (2011) o soldado vinha antes do herói, eram ressaltados os dilemas morais com mais seriedade, tudo emoldurado pela Segunda Guerra Mundial, ou seja, o super-herói (fantasia pura) inserido, com efeitos muito interessantes, num conflito histórico real. Descongelado no presente asséptico, e após o megaevento de Os Vingadores, ele é explorado mais como peça do contexto político que afeta a S.H.I.E.L.D. e bem menos no que diz respeito às suas particularidades e/ou complexidades, estas resumidas a alusões esparsas ao seu amor de outrora, àquilo que perdeu enquanto congelado e à dinâmica torta (e surrada) de sentimentalismo quando em contato com um agente importante de seu passado. As cenas de ação são até boas (algumas beiram o mau gosto, é verdade), mas o que incomoda é a falta de personalidade, a cara de “feito na linha de produção”. Vale mais pela importância de seus eventos dentro do Universo Marvel do que como filme em si.