Fácil prever que Cinquenta Tons de Cinza (2015) seria um grande êxito de bilheteria. Como todo derivado de uma franquia literária de sucesso, sua produção foi cercada de expectativa. Baseado no best seller de E. L. James, livro que caiu nas graças principalmente do público feminino ao narrar o envolvimento amoroso, recheado de sadomasoquismo, entre um ricaço e uma jovem estudante de literatura, registrou a melhor estreia de fevereiro da história, indo além dos prognósticos. Contudo, Cinquenta Tons de Cinza vem sendo alvo de muitas críticas negativas. Mas será que ele é tão ruim assim, ou podemos encontrar pontos positivos onde a maioria está vendo só fragilidade? Em choque, duas visões bem diferentes a respeito do filme no nosso Confronto da semana. Roberto Cunha segue a onda e parte para o ataque, enquanto Yuri Correa, conscientemente remando contra a maré, defende a versão cinematográfica dirigida por Sam Taylor-Johnson. E você, fecha com quem?
A FAVOR :: “Fruto maduro nascido de um terreno deveras infértil”, por Yuri Correa
Não se pode julgar um filme pela moral, ética ou caráter dos personagens, mas sim por seu posicionamento. Cinquenta Tons de Cinza, história baseada em uma fanfic (abreviação do termo em inglês fanfiction, ou seja, ficção criada por fãs) da Saga Crepúsculo, é sobre uma mulher pouco confiante que se submete à imposição de um homem repleto de valores conservadores. Mesmo embrulhado em diálogos enfadonhos, no desenrolar, ao contrário do filme dos vampiros, se percebe que o longa não tenta “vender” os protagonistas como um casal idealizado no qual os fãs devem buscar exemplo. Ana é indulgente e Christian patologicamente abusivo, e o roteiro jamais tenta negar isso. Como os tons do título, o filme muda do romance leve e bobinho do início para um sério e relevante debate moral conforme se aproxima do desfecho. O amor de Ana justifica uma conivência com a opressão de Christian? Um retumbante “não!” dito por ela deixa claro que o projeto passa longe de ser uma nojenta propaganda misógina. Pelo contrário, revela-se um fruto maduro nascido de um terreno deveras infértil. Queria ver a Bella tentar fazer o mesmo com Edward.
CONTRA :: “É tão moderado no tempero mais “caliente”, que ficou sem sal” por Roberto Cunha
O que esperar de uma produção baseada em um best seller, digamos, com toques (pode botar duplo sentido) sadomasoquistas, que provocou alvoroço entre os leitores, em especial, as mulheres? Um filme para excitar essa turma que leu a obra e que dê, para aqueles que não gozaram desse prazer, aquela sensação de que perderam algo. Certo? Que nada. Apesar do clima de mistério durante as filmagens e as cenas, digamos sensuais, exibidas em forma de teaser, que chegaram a mexer com alguns espectadores, Cinquenta Tons de Cinza merecia umas palmadas por se desnudar com pinta de subproduto de títulos que, parece, não fizeram escola, como 9 1/2 Semanas de Amor (1986), Instinto Selvagem (1992), entre outros, muito mais provocantes. O recorde de arrecadação (no exterior) nos primeiros dias sinaliza certo tesão da turma da sala escura, mas esse autor aqui, que não leu as páginas da escritora E.L. James e tampouco é adepto, sequer, do estilo “um tapinha não dói”, não viu motivos para isso. Visualmente, o longa dirigido por Sam Taylor-Johnson é bacana, tem lá seu charme, alguma sensualidade, mas é tão moderado no tempero mais “caliente”, que ficou sem sal. E não se trata de querer cobrar um pornô realizado por um grande estúdio e sim de esperar algo que justificasse tanta gente de quatro pelo tal Fifty Shades of Grey (no original). Agora, é com você!